Nova regra fiscal reduziu parte da incerteza do cenário econômico, diz ata do Copom
Recado foi divulgado na manhã desta terça-feira (9), em relatório no qual o Copom detalhou o cenário econômico considerado em sua decisão na semana passada; taxa Selic foi mantida em 13,75% ao ano
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) informou, nesta terça-feira (9), que a apresentação da nova regra fiscal e a reoneração dos combustíveis reduziram parte das incertezas do cenário econômico.
“A apresentação do arcabouço fiscal reduziu a incerteza associada a cenários extremos de crescimento da dívida pública. O Comitê seguirá acompanhando a tramitação e a implementação do marco fiscal apresentado pelo governo e em apreciação no Congresso”, afirmou o comitê na ata de sua última reunião, na semana passada. O documento reitera, ainda, que “não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do novo marco fiscal”.
O recado foi dado em ata divulgada nesta manhã, na qual o Copom detalhou o cenário econômico considerado na decisão de quarta-feira passada para a manutenção da Selic em 13,75% ao ano. O relatório complementa o comunicado que o colegiado já publica logo após anunciar os novos juros, no mesmo dia em que houve o anúncio da manutenção da taxa básica de juros.
“Por um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária”, afirma a ata.
Esta foi a primeira reunião do Copom depois que o marco fiscal foi trazido a público pela ala econômica do governo, no final de março. O colegiado se reúne a cada 45 dias para decidir se corta, aumenta ou mantém a taxa Selic.
Segundo o documento, a incerteza sobre o desenho final do projeto, já em tramitação no Congresso, e, principalmente, os “impactos dele sobre as expectativas para as trajetórias da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco” são um dos fatores de risco para a alta inflacionária avaliados pelo colegiado.
Também são citados a maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma desancoragem maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Já entre os motivos que podem levar à redução da inflação, o Comitê cita:
- queda adicional dos preços das commodities internacionais em moeda local;
- desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada, em particular em função de condições adversas no sistema financeiro global;
- desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
Com isso, as projeções do Copom para a inflação, da reunião de março para cá, se mantiveram “relativamente estáveis” — o que reforçou o movimento de manutenção da taxa Selic pela sexta reunião consecutiva.
“A execução da política monetária, neste momento, requer serenidade e paciência para incorporar as defasagens inerentes ao controle da inflação através da taxa de juros e, assim, atingir os objetivos no horizonte relevante de política monetária”, disse, complementando que, diante da análise de riscos, “os cenários que poderiam requerer a retomada do ciclo de aperto monetário se tornaram menos prováveis”.
Cenário externo adverso
No documento, o Copom vê o ambiente do mercado externo como “adverso”.
“Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento”, citou, dizendo que ainda não se sabe ao certo qual será o impacto desses episódios sobre a economia global.
“Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente. Em diversos países, as leituras de inflação recentes apontam para alguma estabilização dos núcleos de inflação em patamares superiores às suas metas e reforçam o caráter persistente do atual processo inflacionário.”
O Comitê ainda diz que a sinalização de que as taxas de juros das principais economias globais se manterão altas por um período prolongado implica em “uma maior cautela na condução das políticas econômicas também por parte de países emergentes”.
‘Balde de água fria’
Aguardada, a ata desta semana vem depois de um comunicado que, apesar de algumas suavizações pontuais, manteve a essência dura e cautelosa que o BC tem carregado há meses em suas decisões e declarações em relação à inflação e aos juros.
Com isso, jogou um balde de água fria sobre as expectativas que chegaram a se formar de que os primeiros cortes na Selic poderiam ser adiantados ainda para o primeiro semestre, à vista de sinais como uma inflação mais fraca, uma desaceleração na economia e, também, restrições já visíveis no mercado de crédito.
Chamando a atenção com um pedido de “paciência e serenidade”, o comunicado da semana passada reconheceu avanços com a apresentação pelo governo, no fim de março, de sua proposta para a nova regra fiscal – embora tenha enfatizado “que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal”.
Pelo Boletim Focus, levantamento semanal do BC com as projeções dos bancos e consultorias do país para os indicadores econômicos, as expectativas para a inflação ao fim de 2023 ainda estão perto dos 6% e, para 2024, em 4,16%.
Nos dois casos é ainda um resultado longe da meta de inflação que deveria ser entregue pelo Banco Central, que é de 3,25% neste ano e 3% no próximo.
Com informações de Juliana Elias.