Nova greve contra a reforma da previdência afeta aeroportos, escolas e refinarias de petróleo na França
Plano do governo de aumentar a idade de aposentadoria para a maioria dos trabalhadores em dois anos foi contestado por um grande número de pessoas
Redes de transporte, refinarias de petróleo e escolas francesas foram atingidas por paralisações generalizadas nesta quinta-feira (23), quando os trabalhadores realizaram uma greve nacional para protestar contra o aumento da idade de aposentadoria que foi aprovado no parlamento sem votação.
Embora manifestações esporádicas tenham surgido em Paris e outras cidades depois que o governo francês impôs o projeto de lei da reforma da previdência na semana passada, quinta-feira marcou o primeiro dia de ação coordenada desde então. É o nono dia de greve desde que o projeto foi apresentado em janeiro.
Apenas duas das 14 linhas de metrô em Paris estavam operando um serviço normal. Os serviços ferroviários RER, que operam na cidade e seus subúrbios, foram severamente reduzidos e apenas metade dos trens TGV de alta velocidade estavam funcionando. A greve nacional também afetou o tráfego aéreo, com 30% dos voos impactados no aeroporto de Paris Orly.
Trabalhadores sindicalizados bloquearam uma importante refinaria de petróleo na Normandia e outra em Fos-sur-Mer, no sul da França, segundo um porta-voz do governo.
“Estamos intervindo de maneira direcionada para desbloquear os tanques de armazenamento de petróleo bloqueados pelos manifestantes”, disse a ministra da Transição Energética, Agnès Pannier-Runacherin, em comunicado.
“Se a greve é um direito constitucional fundamental, o bloqueio não o é… A polícia está mobilizada em condições difíceis e tem todo o meu apoio.”
O governo renovou sua ordem de requisição exigindo que os trabalhadores voltassem ao trabalho nas duas refinarias bloqueadas, disse o porta-voz do governo.
O plano do governo de aumentar a idade de aposentadoria para a maioria dos trabalhadores em dois anos foi contestado por um grande número de pessoas. Mas, apesar dos protestos que atraíram mais de um milhão de pessoas às ruas em todo o país, o governo do presidente Emmanuel Macron não recuou. Ele forçou a legislação através da Assembleia Nacional Francesa na semana passada usando uma cláusula constitucional que permite ao governo contornar uma votação.
O generoso sistema de pensões do país e a aposentadoria precoce são motivo de orgulho desde que foram promulgados após a Segunda Guerra Mundial. Sob a nova lei, a idade de aposentadoria para a maioria dos trabalhadores será de 64 anos, ainda uma das mais baixas do mundo industrializado.
Como resultado das greves nas refinarias, os estoques de querosene no aeroporto Charles De Gaulle, que serve Paris, estavam “sob pressão” e os do aeroporto de Orly estavam sendo monitorados, segundo a autoridade de aviação civil.
No início do dia, cerca de 70 manifestantes bloquearam o terminal um do aeroporto Charles de Gaulle, disse um porta-voz do aeroporto à CNN.
Cerca de 20% dos professores do ensino público também participaram das greves, segundo o Ministério da Educação da França.
Macron e seu governo defenderam a reforma da aposentadoria como necessária para manter o sistema previdenciário financiado. Os impostos sobre os trabalhadores atuais pagam pelos benefícios dos aposentados e, à medida que as pessoas vivem mais – e mais baby boomers se aposentam – o sistema acabaria por falir, embora a ameaça não seja imediata.
Quando a proposta foi apresentada em janeiro, o governo disse que as reformas eram necessárias para evitar um buraco projetado de 13,5 bilhões de euros (US$ 14,7 bilhões) no sistema previdenciário em 2030.
Durante uma entrevista com duas das principais redes de televisão da França na quarta-feira, Macron disse que o projeto de lei deve ser promulgado até o final deste ano. Ele também defendeu a decisão de aprovar a reforma como financeiramente necessária, por mais impopular que fosse.
“É do maior interesse do país. Entre as pesquisas de opinião e o interesse nacional, escolhi o interesse nacional”, disse Macron.