Não seria positivo dar guidance dos juros neste momento, diz Campos Neto
Presidente do Banco Central argumenta que cenário pressionado requer análise de diversos dados
Em suas últimas decisões de política monetária, o Banco Central (BC) tem evitado definir como será o ritmo do movimento dos juros nas próximas reuniões.
A falta de um chamado guidance incomodou o mercado. Mas, nesta quarta-feira (23), em reunião com investidores do banco suíço UBS, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, argumentou que ainda não é positivo cravar uma expectativa, na visão do Comitê de Política Monetária (Copom).
Considerando um cenário volátil e de incertezas, Campos Neto aponta que “poderíamos precisar mudar o guidance, eventualmente, causando mais prejuízo do que benefícios”.
“Mas a mensagem óbvia é: ‘nós vamos trabalhar para chegar à meta’ e nos ajustar ao longo do caminho”, disse Campos Neto durante a agenda em Washington, nos Estados Unidos.
No exterior, a autoridade participará da reunião de Ministros das Finanças e de Presidentes de Bancos Centrais do G20 e da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial.
Política monetária
A política monetária do BC sob Roberto Campos Neto foi marcada por uma dura alta da taxa Selic — o juro básico do país —, que chegou a 13,75% ao ano em agosto de 2022. O patamar foi mantido por um ano até voltar a cair.
O ciclo de cortes, porém, foi desacelerado num primeiro momento, e interrompido posteriormente. Em setembro, o BC retomou o ciclo de alta, colocando a Selic no atual patamar de 10,75%.
Questionado se o início do ciclo de cortes em 2023 foi precipitado, o presidente da autarquia se esquivou dizendo que a questão não é sobre certo ou errado, mas qual a melhor decisão a se tomar com os dados que se têm em mãos na hora da decisão, e o quão bem consegue explicar sua decisão.
“Do nosso lado, é importante comunicar que estamos olhando para todas as variáveis. Queremos ser o mais transparente possível em como decidimos, os instrumentos que usamos e os motivos por trás de cada decisão”, pontuou Campos Neto.
“Não há apenas um modelo, utilizamos vários. Olhamos para eles enquanto também há calibrações sobre as variáveis”, explicou.
O economista reforça que há diferentes avaliações sendo feitas, relembrando que o BC foi criticado por demorar a baixar os juros, e que há também quem argumente que a retomada do ciclo de alta foi precoce.
“Acredito que fizemos o que acreditamos ser o certo, do ponto de vista técnico, com os dados que tínhamos à época, mas aí as coisas mudaram”, pondera.
Entre os fatores que seguiram pressionando a inflação, Campos Neto elenca o crescimento acelerado da economia e o mercado de trabalho aquecido.
Além disso, ele indica que o patamar atual do prêmio de risco no Brasil é um sinal que “preocupa muito” a autarquia.
“Quando o prêmio de risco é maior e as expectativas de inflação estão em alta, há uma transmissão para a inflação. O que precisávamos fazer é comunicar com credibilidade para levar o prêmio de risco para baixo”, afirmou Campos Neto.
“É muito difícil existir um cenário no qual a inflação está na meta e o prêmio de risco continua elevado por um longo prazo. Claro, que quando se olha para o longo prazo, você ainda pode ter outros fatores afetando, como o fiscal. Se for o caso, tentaremos comunicar o que for necessário para que isso não contamine nossa meta no curto prazo”.
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