‘Não falta produto, falta renda’, diz especialista sobre insegurança alimentar
À CNN, pesquisador do FGV Agro afirmou que queda de fabricação de fertilizantes na China não vai provocar desabastecimento no Brasil
A crise energética da China está impactando a fabricação de fertilizantes. O país é o principal exportador de insumos agrícolas para o Brasil, por isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a mencionar uma possível crise de abastecimento de produtos em 2022.
Apesar disso, o pesquisador do FGV Agro, Felippe Serigati, disse à CNN que não há risco das gôndolas dos supermercados ficarem vazias. Ele aponta que a principal crise no Brasil não é a falta de alimentos, mas a falta de poder de compra.
“Não é falta de comida, é falta de renda. Veio a pandemia, deprimiu a renda de uma fração relevante da sociedade, principalmente dos mais pobres, e o pessoal teve que fazer cortes para adequar ao orçamento. Infelizmente parte destes cortes se deu entre os alimentos.”
Felippe acrescentou que em meio à pandemia, seja por motivos de câmbio, seja porque os preços das commodities internacionais passaram a operar em patamares mais elevados, os alimentos passaram a ficar mais caros no Brasil.
“O problema de fertilizantes sem dúvida nenhuma pode bater nesse quadro de insegurança alimentar. É o único fator? Certamente não. É o principal? Eu diria que não. O principal fator continua sendo: cadê a renda? A gente tem que recuperar o nível de renda que a nossa sociedade consegue produzir.”
Trazendo a questão da falta de fertilizantes para o contexto de 2022, Felippe analisa que poderá haver uma manutenção dos preços dos alimentos em patamares ainda mais elevados.
“Se a economia não recuperar um fôlego mais substancial, de forma a recuperar parte do mercado de trabalho, principalmente para os setores informais e de menor renda, esse quadro de insegurança alimentar deverá permanecer”, afirmou.
De acordo com o pesquisador, a maior parte dos produtores brasileiros já garantiu os insumos necessários para plantio da safra de verão. Por conta disso, a safra de verão não será comprometida pela crise da China.
“Essa safra de verão a gente está plantando agora, no período de chuvas, e será colhida no primeiro trimestre de 2022, justamente durante o verão. E para esta safra, a larga maioria dos produtores já estão com seus insumos. Já adquiriram estes insumos antecipadamente, e a grande maioria já recebeu. Então essa produção está relativamente garantida naquilo que cabe ao produtor.”
Em relação à safra de inverno, que inicia entre o final de março e o início de abril, segundo o pesquisador, é possível que o governo brasileiro encontre uma saída para amenizar o problema dos insumos.
“E quais são as principais culturas que podem sofrer com este cenário? Justamente o milho, como a gente viu este ano com a seca e a geada, e em menor medida, também o trigo. De toda forma, daqui até a safra de inverno ainda temos tempo para trabalhar em um plano emergencial”.