Não dá para dizer que o pior já passou, diz Zeina Latif sobre inflação
Economista avalia que cenário fiscal deve melhorar só em 2022, caso o risco institucional não seja agravado até lá
A alta da inflação deve continuar pressionando a economia brasileira até o final do ano, avalia a consultora econômica Zeina Latif. Em entrevista à CNN, a especialista destacou que, apesar de o Banco Central (BC) elevar a taxa de juros para conter os efeitos da inflação, os resultados devem começar a surgir somente em 2022.
“Não dá para dizer que o pior já passou em termos de inflação”, diz a consultora. “Até o final do ano vamos ter que contar com a sorte de ter condições um pouco mais favoráveis, mas contar com a sorte é sempre muito arriscado.”
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (9) indicam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) — que mede a inflação oficial do país –, desacelerou para 0,87% em agosto ante 0,96% do mês anterior. Ainda assim, é o maior valor para o mês desde o ano 2000.
“A inflação, da forma como está, machuca bastante as classes mais populares, incluindo a classe média. O certo era a gente ter uma agenda de ajuste fiscal já de curto prazo, com compromissos de longo prazo para, pelo menos, conter um pouco essa pressão e, obviamente, o impacto do fiscal no câmbio que realimenta a inflação”, afirma Zeina.
Risco institucional
Além do risco fiscal, as incertezas do lado político e dos temores de retrocesso também alimentam a inflação, explica a economista.
Um dia após os atos de 7 de Setembro, que contaram com falas duras do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), a bolsa tomou quase 4% e o dólar subiu 2,84%.
“A pressão cambial tende a continuar e isso também repercute na inflação. Não só a questão fiscal, o ambiente político também vai cobrar o seu preço”, avalia.
Reformas
Zeina Latif também avaliou as propostas de reformas administrativa e do Imposto de Renda. Para ela, ambos textos não trariam impactos benéficos para a economia do país, portanto, se continuarem travados, pode significar uma boa notícia.
“Não avançar com a reforma do Imposto de Renda, na minha opinião, seria uma boa notícia porque é uma proposta muito ruim. Não atinge os objetivos, não mexe com temas que seriam prioridades e gera mais distorções”, diz. “Tenho a mesma visão da reforma administrativa. Da forma como está, é melhor que ela não prospere.”
Sobre a discussão para os precatórios e o possível uso deles para financiar um novo Bolsa Família, Zeina também vê o debate com preocupação, pois não enxerga no novo auxílio uma concepção bem desenhada. “Se o Congresso patrocinar rompimentos e flexibilizações da regra do teto, isso vai azedar ainda mais o ambiente macroeconômico”