Moagem de cana cresce 4,3% e impulsiona produção de etanol e açúcar
Essa é primeira alta em um mês na safra atual, de acordo com a Unica
A moagem de cana-de-açúcar na segunda quinzena de julho na região Centro-Sul do Brasil teve aumento de 4,3% em relação ao mesmo período do ano passado — foram 2,02 milhões de toneladas a mais de cana processada. Ao total, foram registradas 48,93 milhões de toneladas nesse período e o acumulado da safra é de 282,79 milhões de toneladas.
O processamento de cana-de-açúcar cresceu 2,31%. Essa é a primeira variação positiva em um mês na safra atual. Os dados foram divulgados na última quarta-feira (10) pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
De acordo o diretor técnico da associação, Antonio de Padua Rodrigues, esse período intensificou a trajetória positiva da primeira metade do mês e marcou um avanço na moagem. “Esse resultado é reflexo do aumento na produtividade da lavoura e, concomitantemente, do bom aproveitamento de tempo da indústria neste período mais seco do ano”, afirma.
A previsão da Unica é de que o aumento do rendimento agrícola observado no mês de julho se mantenha nos próximos períodos, devido ao baixo desempenho desse indicador na safra passada, que representa os menores valores dos últimos 10 anos, em função da estiagem e impacto de geadas.
As condições climáticas favoráveis a operacionalização da colheita trouxeram maior disponibilidade de matéria prima que, somadas ao aumento da de 0,57% da qualidade da cana, também acarretaram alta da fabricação de açúcar e etanol.
O destaque nesse período também é de aumento de 2,78% na produção de etanol, de 2,98% hidratado e 2,49% de etanol anidro. Esse é um recorde na produção de etanol anidro em uma quinzena: o volume registrado foi de 1 bilhão de litros, que superam a máxima anterior, de 979 milhões fabricados nesse mesmo período, da safra passada.
A produção de açúcar também cresceu em 8,4%, com o total de 3,3 milhões de toneladas.
Etanol deve cair nos postos de combustível?
Para Felippe Serigati, professor de economia da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), se as melhoras no resultado da safra de cana se mantiverem constantes, a maior oferta de matéria-prima pode impactar os postos de combustíveis, reduzindo os preços ao consumidor.
“Porém, devemos lembrar que o preço do etanol não é determinado apenas pela quantidade ofertada de ATR (açúcar total recuperável), mas por vários outras variáveis, como: preço da gasolina; preço do açúcar; tributos, necessidade de caixa dos usinas e as incertezas do mercado”, afirma.
Segundo Serigati, apesar da melhora dos números de julho, a produção do setor acumulada em 2022 segue menor que em 2021 — a oferta de matéria-prima ainda está inferior à média dos últimos 10 anos.
O especialista ressalta que nas áreas de cana-de-açúcar competem com a soja — onde há rotação de culturas —, e quando há uma persistente melhora na rentabilidade da soja, há produtores que não voltam para a cana após o período de rotação, o que diminui a oferta de cana. “Há muita incerteza sobre o mercado de etanol hidratado. Com a redução dos tributos sobre os combustíveis fósseis, não está claro qual será a competitividade do etanol”, afirma o professor à CNN.
“O aumento na produção pode provocar um abastecimento interessante no mercado nacional, principalmente com o dólar em queda, junto com os preços internacionais do barril de petróleo”, afirma o consultor econômico José Rita em entrevista à CNN Brasil.
De acordo com ele, esse são os componentes ideias para promover um efeito prático na redução de preços para o consumidor. “A tendência é de que a economia se desenvolva de maneira intensa e até o final do ano vamos ter uma surpresa com a queda dos preços”, completa.
Rita ressalta que, mesmo havendo supersafra, a maior parte do impacto no mercado deve recair sobre o açúcar, não impactando o etanol diretamente.
Nesta terça-feira (16) serão divulgadas as principais tendências e novidades no setor de bioenergia na 28ª edição da Fenasucro & Agrocana, que acontece até sexta-feira (19), na cidade de em Sertãozinho, no interior de São Paulo. A edição deste ano receberá mais de 40 mil visitantes compradores do Brasil e de 23 países que devem fomentar R$ 5 bilhões em negócios.
No acumulado da safra, a queda é de 7,42%, com uma moagem de 282,79 milhões de toneladas, contra 305,45 milhões de toneladas em 2021.
*Sob supervisão de Diego Mendes