Militares foram os que mais incentivaram reação de Bolsonaro sobre Renda Brasil
Temor dos militares era de que as notícias sobre o possível congelamento da aposentadoria para bancar o projeto prejudicassem o governo
Integrantes da ala militar do governo foram os que mais incentivaram a reação de Jair Bolsonaro em relação ao Renda Brasil nesta terça-feira (15), quando o presidente publicou um vídeo nas redes sociais enterrando a criação do novo programa social.
Segundo apurou a coluna, foram ministros generais e outros auxiliares militares que acordaram o presidente com as notícias dos jornais dando conta de que o governo avaliava medidas como o congelamento de aposentadorias para bancar o programa.
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O temor dos militares era de que as notícias prejudicassem o governo e, consequentemente, a popularidade do presidente. Para auxiliares civis, os militares “exageraram”, ao passar ao presidente a impressão de que o problema era mais grave do que realmente é.
Antes de gravar o vídeo, Bolsonaro discutiu a situação em uma reunião no Planalto com os ministros da Casa Civil, general Walter Braga Netto; e do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno; e com o almirante Flávio Rocha, secretário de Assuntos Estratégicos.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também participou das conversas. O chefe da equipe econômica, inclusive, estava presente no gabinete presidencial, na hora da gravação do vídeo. Segundo auxiliares, o presidente estava “tranquilo” em relação a Guedes.
Após a gravação, Guedes se reuniu no Planalto com o presidente e com o secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, considerado o pivô da reação de Bolsonaro. Tinha sido Waldery quem deu entrevistas dizendo que o governo estudava congelar as aposentadorias.
Segundo relatos feitos à CNN, na conversa, o secretário reconheceu ter errado ao dar as entrevistas. Bolsonaro pediu ao ministro que os integrantes da equipe econômica evitassem antecipar à imprensa medidas com potencial de criar polêmica e que ainda estão em estudo.
Situação do secretário
Passado o alvoroço inicial, interlocutores de Guedes dizem que o secretário deve permanecer, pelo menos por ora, na equipe. “O ministro vê no Waldery uma pessoa que, pelo seu rigor fiscal, acaba protegendo o próprio presidente de questionamentos nessa área”, disse à coluna um auxiliar do ministro.
De acordo com esse auxiliar de Guedes, o chefe da equipe econômica “sabe da insatisfação de diferentes atores com o Waldery, mas percebe nesse rigor (fiscal) uma qualidade importante”. “Aposto que ele (Waldery fica), mas tudo é possível”, ponderou em seguida.