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    Meta de inflação em 3% é irrealista para realidade brasileira, diz economista

    Bráulio Borges, economista sênior da LCA e pesquisador do Ibre/FGV explica à CNN que, de 1999 para cá, país viveu uma inflação média que fica ao redor de 6% ao ano

    Da CNN

    Em meio às recentes críticas do presidente Lula direcionadas à política monetária do Banco Central, está misturada a discussão sobre a meta de inflação, com indicações do governo de que a regra pode ser revisada.

    Na ponta dos especialistas que defendem uma revisão, Bráulio Borges, economista sênior da LCA e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), defende que a meta atual não corresponde com a realidade da economia brasileira.

    “Essa meta de 3% que decidimos alguns anos atrás a partir de 2024/2025, parece ser irrealista e pouco factível para a realidade institucional e estrutural da economia brasileira”, disse em entrevista à CNN nesta quarta-feira (8).

    O economista explica que, de 1999 para cá, o Brasil viveu uma inflação média que fica ao redor de 6% ao ano. No melhor quadriênio, a nossa inflação chegou a 4% ao ano, entre 2017 e 2020.

    Mas nesse período, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro praticamente não cresceu, com muita ociosidade e desemprego de quase 13% na média do período, muito acima do estimado como ponto de equilíbrio para a realidade do país.

    “Diante disso tudo, a gente acha que foi um erro ter reduzido a meta de inflação lá atrás, dos 4,5% para os 3%, de modo que hoje seria pertinente, sim, voltarmos para perto de 4%”, defende.

    Decisão técnica e transparente

    O especialista defende, porém, que o regime de metas de inflação, sob responsabilidade do Conselho Monetário Nacional (CMN) no Brasil, deveria ser uma escolha técnica.

    No topo do Sistema Financeiro Nacional, o CMN é composto pelo ministro da Economia, pelo presidente do BC e pelo secretário especial da Fazenda.

    “O BC brasileiro não é totalmente independente, já que ele não escolhe a meta de inflação que tem de perseguir, isso é definido pelo CMN […] isso poderia ser aprimorado. Hoje, infelizmente, essa discussão está misturada (com críticas sobre autonomia do BC) nas falas do presidente Lula, o que gera muito ruído. A discussão da meta é uma escolha que deveria ser técnica”, diz.

    Economistas que defendem a manutenção da meta costumam dizer que mexer no número já estabelecido vai colocar na cabeça dos agentes econômicos uma inflação mais alta para o país. Como se isso fosse sedimentar a percepção de que o Brasil não vai conviver com uma inflação mais baixa.

    Nesse sentido, vale lembrar que a expectativa em relação à inflação é determinante para a condução de política monetária do Banco Central.

    Para Borges, no entanto, as expectativas poderiam ser controladas por uma comunicação transparente do CMN, além de rápida, já que a discussão “precipitou a necessidade de a gente fazer essa mudança o quanto antes”.

    “É importante que se o CMN tome a decisão de revisar a meta para cima e que isso seja comunicado de maneira bastante clara, sem esperar até junho, porque, no contexto atual, a demora pode gerar mais prejuízo para toda economia e mais incerteza que insegurança”, diz.

    Borges lembra ainda que não seria a primeira vez que o país anunciaria uma revisão para cima na meta de inflação.

    “No começo do regime de metas, lá para 2001, 2002, as metas eram ousadas demais, e a gente voltou atrás, parcialmente, revisando os números para cima em 2003 e 2004. Então isso não é inédito no país”.

    *Veja a entrevista completa no vídeo acima / texto publicado por Ligia Tuon

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