Mesmo com shoppings fechados, Multiplan e Iguatemi ainda têm lucro; entenda
Apesar de quedas significativas nos lucros, relatórios recomendam compra dos papéis das gestoras de shoppings ou, em alguns casos, se mantêm neutros
Os shoppings ficaram (e muito ainda estão) vazios por causa da quarentena do coronavírus. Consequentemente, era de se esperar que os resultados financeiros das empresas do setor listadas na bolsa despencassem no segundo trimestre. Porém, não foi isso o que aconteceu, surpreendemente. Pelo menos, nos balanços divulgados pela Multiplan, a maior do setor, e Iguatemi, ligado mais ao setor de luxo.
Nesta semana, ambas as empresas apresentaram resultados melhores do que o esperado pelo mercado. Os lucros da Multiplan e do Iguatemi caíram 39% e 23%, respectivamente, no período. Ou seja, mesmo com os shoppings com cadeados na porta, as companhias conseguiram lucrar.
A surpresa positiva não significa que os resultados em si foram bons, mas mostram alta capacidade de gestão e resiliência das empresas diante de uma crise de saúde sem precedentes. Os shoppings da Multiplan, por exemplo, ficaram abertos durante apenas 8,4% das horas em que os estabelecimentos costumavam operar antes da pandemia.
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Essa eficiência operacional foi o grande destaque visto por analistas do Bradesco BBI, BTG Pactual e Banco Safra. Em relatório, todos os especialistas elogiaram a redução de gastos da Iguatemi e Multiplan. Esse cuidado com os custos permitiu às gestoras dar descontos aos lojistas e diminuir os impactos no Ebitda, medida importante para entender a geração de caixa de companhias.
Apesar da queda significativa nos lucros, os relatórios recomendam, inclusive, a compra de papéis do setor. O Bradesco, por exemplo, acredita que a ação do Iguatemi vai se valorizar cerca de 50% nos próximos 12 meses. Ainda que isso seja um bom sinal, se confirmada a estimativa do banco, as ações ainda não voltariam ao patamar pré-pandemia. Os papéis da empresa valiam R$ 54,50 no primeiro dia de negociações do ano.
E os investidores parecem estar dando esse voto de confiança para as empresas.
Na quarta-feira (5), as ações da Iguatemi dispararam 7,76% e embalaram todo o setor de shopping centers depois da divulgação de resultados que a XP Investimentos classificou como “desafiador, mas ainda assim acima das expectativas”. No mesmo dia, a Multiplan saltou 8,03% e a brMalls, que divulgará os seus resultados na semana que vem, subiu 7,72%.
No dia seguinte, mais valorização. A brMalls avançou 11,2%, a Multiplan cresceu 7,66% e a Iguatemi teve valorização de 4,77%.
O fato é que o mercado vê o momento difícil dos shoppings, mas, ainda assim, se anima com as empresas. “O curto/médio prazo pode ser desafiador para a indústria de shoppings, enquanto os estabelecimentos ainda passam pelo processo de reabertura e pode levar um tempo para as vendas voltarem aos níveis pré-Covid-19. No entanto, não esperamos que isso cause um impacto estrutural neste setor”, diz relatório do Bradesco BBI.
Gestão eficiente
Esse ânimo é justificado pela capacidade das gestoras de enxugar seus gastos e ajudar os varejistas no pior período da crise da Covid-19.
A receita líquida da Iguatemi caiu 14% no último trimestre. Ao mesmo tempo, a empresa fez um grande esforço para reduzir custos: na comparação com o segundo trimestre de 2019, a Iguatemi gastou 21% menos para manter suas operações em pé. As despesas com pessoal caíram 62% e as despesas gerais e administrativas foram 42% menores.
Na medida que os gastos da empresa caíram, a empresa deu descontos aos lojistas, que também viram suas receitas despencarem. Entre as medidas adotadas estão a isenção do aluguel em shoppings que permaneceram fechados em abril e maio, a postergação dos aluguéis de abril e garantia de descontos em alguns casos específicos.
Com as medidas para amenizar os impactos para os varejistas, a inadimplência líquida ficou negativa em 26%, o que significa que a recuperação de aluguéis de períodos anteriores se sobrepôs ao montante inadimplente no período.
Na Multiplan, as medidas foram parecidas: isenção de aluguéis para lojas fechadas e descontos para os estabelecimentos em operação. Esses benefícios só foram concedidos aos varejistas graças a uma redução de 61% nos gastos da companhia.
“Toda atenção estava voltada à contenção de gastos e a Multiplan fez um bom trabalho nesse quesito”, diz o Bradesco BBI em relatório.
A foram essas reduções de gastos que ajudaram as gestoras a diminuir o impacto no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). A Multiplan entregou um Ebitda de R$ 181 milhões – redução de 16% na comparação anual. Enquanto isso, a Iguatemi teve Ebitda de R$ 115 milhões, uma queda de 17%.
Desafios
Por enquanto, apenas Multiplan e Iguatemi mostraram os resultados do último trimestre. Mas o mercado espera com otimismo os balanços da brMalls – que liderou os ganhos na bolsa ontem, disparando 11,2% –e Alliansce Sonae.
Nesta sexta-feira (7), 92% dos shoppings brasileiros já foram reabertos, apesar de restrições de horários. A grande preocupação do setor é com os estabelecimento de Belo Horizonte e Porto Alegre, onde as restrições são severas.
A Aliansce Sonae reabriu seu shopping em Belo Horizonte – o Boulevard Shopping – e lidera a lista de gestoras com as unidades reabertas, com 98% dos shoppings funcionando. A brMalls vem logo atrás, com 97%, depois de reabrir quatro unidades nesta semana. A Multiplan tem 89% dos shoppings em operação e a Iguatemi 83%.
A próxima batalha do setor é a extensão do horário de funcionamento, o que vai ajudar no faturamento das empresas.
Enquanto isso, as empresas correm para se digitalizar. A Multiplan fechou uma parceria com a B2W, dona da Americanas.com e Submarino, para integrar os lojistas de shoppings à plataforma de marketplace, acelerando os planos da gestora de centros comerciais no varejo online.
O acordo envolve 5.800 lojas nos 19 shopping centers operados pela Multiplan e permite modalidades como envio dos produtos diretamente dos pontos de venda para os clientes e click and collect, quando o cliente compra pela internet e retira na loja.
É de se esperar que os impactos da crise ainda sejam vistos nos relatórios das gestoras do terceiro trimestre. Passado o mês de julho, ainda é possível observar as gestoras continuando o movimento de auxílio aos varejistas, que enfrentam uma queda significativa das vendas e vão precisar de isenções ou descontos parciais nos aluguéis.
Na temporada de divulgação dos resultados deste trimestre, os investidores ficarão de olho na variação dos custos das gestoras – afinal, de onde elas poderão cortar gastos? – e vão avaliar se a retomada das vendas será suficiente para a diminuição dos benefícios aos lojistas e, consequentemente, aumento no faturamento.
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