Mercado reduz previsão para inflação e eleva para PIB em 2022, diz Boletim Focus
Analistas melhoraram a expectativa de crescimento da economia brasileira para 1,93%, ante 1,75% na semana passada e 1,5% há um mês
A projeção do mercado financeiro para a inflação de 2022 recuou pela quarta vez seguida, de 7,54% para 7,30%. Os números são do Boletim Focus do Banco Central (BC), publicado nesta segunda-feira (25). O documento reúne a estimativa de mais de 100 instituições do mercado financeiro para os principais indicadores econômicos.
Para 2023, a expectativa para a inflação é de avanço de 5,2% para 5,3%. É a 16ª alta semanal consecutiva na mediana das previsões para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
Segundo André Braz, economista do FGV Ibre, a contraposição das projeções inflacionárias de 2022 e 2023 refletem o ambiente de incertezas atual.
“Em julho, tivemos reduções importantes em várias tarifas públicas que as famílias pagam, a começar pela energia que caiu com o ICMS, assim como a gasolina, que também anunciou redução. Com esse panorama, as previsões de inflação para este ano recuaram substancialmente”, afirmou o economista.
“No entanto, por conta do balanço de riscos, pois não sabemos exatamente o rumo dessas eleições e as despesas públicas, isso acaba elevando a expectativa de inflação, até porque muita coisa que não subiu esse ano pode ficar para 2023, e isso pode apertar o quadro inflacionário”, acrescentou.
Alexandre Chaia, professor de economia e finanças do Insper, explica que o aumento dos gastos traz uma perspectiva de desequilíbrio fiscal para o governo em 2023.
“O problema é que muitas dessas despesas feitas hoje provavelmente se tornarão permanentes, ou pelo menos gerar déficit no orçamento de forma permanente, o que vai fazer com que aumente o endividamento e até seja necessário elevar impostos”, afirmou.
“Por conta disso, o mercado financeiro prevê que haverá uma piora na situação fiscal do país e, consequentemente, um aumento do dólar”, acrescentou o professor.
Os economistas ressaltaram o câmbio como um fator que pode impulsionar a inflação do ano que vem, com a crescente desvalorização do real frente ao dólar.
“Quando há uma desvalorização, uma parte disso se torna inflação porque nós importamos coisas mais caras, e as nossas exportações aumentam quando a moeda fica mais competitiva e contribui para desabastecer o mercado brasileiro”, disse Braz.
“O dólar cada vez mais alto leva a uma inflação maior, que é transferida para 2023 por conta dos gastos excessivos neste ano. Além disso, a expectativa em torno dos juros fica ruim, pois deve haver novos aumentos”, completou Alexandre Chaia.
Para o economista-chefe da Nécton, André Perfeito, as medidas e ações combativas às altas dos preços este ano vão acabar empurrando a inflação mais acentuada para 2023.
Os analistas melhoraram a expectativa de crescimento da economia brasileira para 1,93%, ante 1,75% na semana passada e 1,5% há um mês. O número se aproxima da alta de 2% esperada pela equipe econômica do governo federal para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Para o ano que vem, a estimativa caiu levemente para 0,49%, número próximo aos 0,5% projetadas nas últimas 4 semanas.
Inflação acima da meta
As projeções de inflação para ambos os anos, 2022 e 2023, estão acima do teto da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), respectivamente de 5% e 4,75%. O BC já admitiu que este deve ser o segundo ano consecutivo em que haverá o rompimento do limite superior da meta de inflação.
Os analistas mantiveram as previsões para a taxa básica de juros em 13,75% ao ano em 2022 e 10,75% ao ano para 2023. A Selic é a principal ferramenta do Banco Central para controlar a pressão inflacionária.