Mais baratos, monojatos ditam nova tendência na aviação executiva
Jato executivo mais vendido em 2020, Cirrus SF50 Vision redefine o conceito da aviação privada ao ser impulsionado por apenas um motor
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Imagine como os custos aumentariam se o seu automóvel tivesse dois motores? Seriam duas “bocas” para alimentar com combustível, fora a manutenção duplicada. Pois isso acontece com aviões a jato de passageiros que, na maioria, são impulsionados por dois propulsores, os chamados turbofans. Mas há exceções, ou pelo menos uma por enquanto.
Sucesso de vendas na aviação executiva, o Cirrus SF50 Vision, fabricado nos Estados Unidos, está conquistando clientes no mundo todo justamente por sua concepção monojato. Ou seja, ele voa com o impulso de um único motor turbofan.
Isso também significa que ele consome menos combustível, tem manutenção reduzida e possui um valor de aquisição mais baixo, afinal, o motor turbofan é um dos componentes mais caros presente num avião a jato.
Desde 2018, a fabricante entregou 280 jatinhos e tem mais de 200 pedidos na carteira, um volume incomum na aviação executiva acumulado em tão pouco tempo.
De acordo com dados da General Aviation Manufacturers Association, associação dos Estados Unidos que acompanha os resultados da aviação geral, a Cirrus entregou um total de 73 exemplares do Vision em 2020 e liderou o ranking de entregas de aeronaves executivas a jato.
Essa quantidade responde por 10,8% de todos os jatos executivos entregues aos clientes no ano passado.
Aqui no Brasil, o Vision é vendido por US$ 3,5 milhões (cerca de R$ 18,3 milhões). “Esse valor já inclui todas as taxas e impostos brasileiros”, diz Sergio Beneditti, diretor comercial da Plane Aviation, representante oficial da Cirrus Aircraft no Brasil, em entrevista ao CNN Business Brasil.
“É um avião que ainda não tem concorrentes diretos. As opções mais próximas dele, um jato executivo leve e bimotor, como o Embraer Phenom 100 ou o HondaJet, custam quase o dobro.”
“O comprador desse avião no Brasil é o empresário, a maioria do agronegócio. É uma atividade que usa muito aviões executivos e privados, porque eles precisam viajar para lugares que não são atendidos pelas companhias aéreas. Nos Estados Unidos isso varia um pouco. Por lá, é comum os próprios proprietários pilotarem o Vision, por isso ele é chamado de ‘Personal Jet’. Aqui no Brasil, por enquanto, temos somente um caso assim”, disse o representante da Cirrus.
Beneditti confirmou que há três exemplares do Vision em operação no Brasil. “Até o fim deste ano teremos sete aparelhos voando no Brasil e em 2022 serão 12 unidades. É um avião com muitos pedidos, a fila de espera atual vai até 2024.”
Para comprar um Vision, o cliente precisa pagar um adiantamento de US$ 100 mil (cerca de R$ 524 mil) para entrar no final da fila de espera com uma “promessa de entrega” da fabricante.
“A Cirrus também tem um programa onde o cliente recebe o avião com certa antecedência, mas antes ele deve fazer um leaseback com a fabricante por quatro meses. Durante esse período, o avião é usado como demonstrador para outros clientes e, depois, ele é entregue ao comprador. Mas a maioria prefere esperar e receber o avião ‘zero km’”, afirmou Beneditti.
Jatinho com paraquedas de emergência
O principal motivo da concepção multimotor em aviões a jato é a segurança. No caso de falha num dos motores, o outro deve ser capaz de suportar o voo até o pouso em segurança. Na aviação comercial, por exemplo, isso é um requisito obrigatório.
A aviação privada, por outro lado, oferece maior flexibilidade nesse ponto, tanto que o Cirrus Vision foi o primeiro monojato do mundo certificado para transportar passageiros – ele leva até sete ocupantes (cinco adultos e duas crianças). Mas e se o único motor do avião falhar em voo?
“Se o motor pifar, o piloto ou os passageiros podem apertar um botão no painel que aciona o paraquedas e o avião desce lentamente até o solo”, contou o diretor da Plane Aviation, comentando sobre uma das principais características dos aviões da Cirrus. “Não houve um único caso de acionamento do paraquedas do Vision, mas isso já aconteceu com outros aviões da Cirrus.”
O paraquedas fica armazenado na parte superior da fuselagem do Vision e o acionamento acontece por uma pequena explosão, disparando o velame para fora da aeronave. “Não tem preço que pague você ter a paz de espírito de voar num avião com sistema paraquedas”, salientou Beneditti, que também é piloto.
No entanto, por ser monomotor, o Vision acaba perdendo em desempenho para jatos executivos com dois motores. Segundo dados da Cirrus, o modelo voa a velocidade de cruzeiro de 575 km/h e tem alcance de 1.800 km. Como comparação, um Embraer Phenom 100, com dois turbofans, alcança 750 km/h e tem autonomia para viagens de 2.185 km.
Concorrente a caminho
O reinado do Cirrus Vision na categoria dos monojatos de passageiros logo deve encontrar resistência. Outra fabricante dos Estados Unidos, a Stratos Aircraft está há mais de uma década trabalhando no desenvolvimento do modelo 716X, um jatinho para seis ocupantes.
Com preço estimado em US$ 2,5 milhões, o Stratos 716X ainda não tem data para estrear no mercado, mas seu desempenho já chama atenção de entusiastas da aviação. Por ser muito leve, ele consegue ser mais veloz que o Cirrus Vision e passa dos 700 km. A Stratos, contudo, ainda não confirma se vai equipar seu avião com paraquedas de emergência.