‘Maiores desafios do Brasil estão ligados ao fiscal’, diz presidente do BC
Campos Neto voltou a defender o ajuste das contas públicas como forma de aumentar a credibilidade do país internacionalmente
Para o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, os maiores desafios do Brasil são diretamente ligados ao seu desequilíbrio fiscal. Por isso, ele voltou a defender o ajuste das contas públicas como forma de aumentar a credibilidade do país internacionalmente.
“Fomos capazes de quebrar a dinâmica de juros altos e eu acho que isso foi para dar credibilidade para o mercado, em termos de mostrar que estávamos em direção à convergência fiscal”, disse em evento virtual do Fundo Monetário Internacional (FMI) com o Banco Mundial, transmitido nesta terça-feira (6).
“Então, eu acho que é basicamente sobre fiscal”, completou.
Ao reforçar que a alta de preços em determinados setores da economia são temporários, o chefe da autoridade monetária admitiu que há contaminação de outros núcleos inflacionários. Segundo ele, isso é o que justifica o início da elevação de juros.
“De uma reunião para outra, a projeção para a inflação de 2020 praticamente pulou de 2%, 3,4% para 5%. Essa diferença pode ser toda atribuída principalmente a commodities e depreciação [do real]. Olhamos para isso, mas vemos contaminação nos números centrais por causa da persistência da desvalorização e da persistência das commodities em um preço mais alto”, afirmou.
Campos Neto ainda ressaltou que explicar a alta de juros enquanto o país ainda sofre com os efeitos da pandemia é difícil. “Nós ainda achamos que precisamos de condições estimulativas, por isso, estamos fazendo uma normalização apenas parcial”, acrescentou.
Ele voltou a falar sobre a avaliação do Banco Central de que uma alta mais forte incialmente poderá resultar em uma elevação menor ao final do movimento.
Segundo ele, o mercado global passa por uma reflação, com alta de preços por conta da recuperação econômica pós-pandemia. No Brasil, aliado a isso, que é responsável pela alta das commodities, houve o programa do auxílio emergencial.
“Transferimos uma grande quantia de dinheiro para as pessoas, o que se transformou em consumo. Os itens que estão subindo de preço estão mais ligados à cesta de consumo de pessoas que foram beneficiadas por esse programa”, destacou ao citar também questões climáticas que afetaram a colheita.
O presidente do BC ainda acredita que o efeito é pior para países emergentes, nos quais o peso dos alimentos na inflação é maior quando comparados com economias desenvolvidas. Outro ponto que aumenta a diferenciação entre emergentes e desenvolvidos são os pacotes fiscais necessários para o combate à pandemia.
“Estamos neste ambiente, no qual, de repente, o mercado começou a precificar o fato de que temos que elevar os juros, mas temos uma dívida muito maior. Temos essa diferenciação porque países com dívidas mais altas tiveram maior desvalorização em suas moedas e uma elevação maior dos prêmios de risco no fim da curva”, observou.
Na visão dele, em países desenvolvidos, as pessoas ainda enxergam que “se houver um crescimento maior do que o que se paga em juros, está tudo bem”.