“Lojas seguem abertas e com prateleiras cheias”, diz CEO da Americanas em carta
João Guerra, que ocupa o cargo interinamente, afirma ainda que administração tem como prioridade salários, benefícios e direitos trabalhistas, e que varejista já está se preparando para a Páscoa
O CEO interino da Americanas S.A., João Guerra, divulgou uma carta aberta direcionada aos “amigos da Americanas”, afirmando que “as lojas seguem abertas e com prateleiras cheias. As entregas, garantidas”.
“Para nossos clientes, o resultado do que estamos fazendo juntos é que a experiência nas lojas, no site e no app continua sendo exatamente a mesma.”
Guerra diz ainda que, a aprovação pela Justiça para um financiamento de até R$ 2 bilhões, vai ajudar a companhia a “manter o curso normal dos negócios, seu fluxo de caixa e reforçar sua liquidez”.
O executivo reforça que a companhia reassume o compromisso – “que já assumimos em outras oportunidades”- de que salários, benefícios e direitos trabalhistas são prioridade da administração. “Tudo segue – e seguirá – exatamente como está contratado. Os sindicatos que representam nossa gente estão sendo informados de cada passo à medida em que decisões são tomadas. Manteremos esse diálogo franco”, diz.
Na carta, o CEO começa agradecendo e dizendo que “não perdemos a garra”. De acordo com o executivo, a empresa ganhou mais de 100 mil novos seguidores nas redes sociais e, com isso, reúne agora mais de 13 milhões no Instagram.
“Em uma palavra, a resposta do nosso cliente foi carinho. É essa força de mercado que nos dá a confiança em superar os obstáculos. Ao fim do caminho que iniciamos, provavelmente seremos uma empresa diferente. E chegaremos lá cuidando sempre de todas as nossas pessoas, que fizeram e farão a força da Americanas.” Diz ainda que a nota da Americanas no site Reclame Aqui (para reclamações de consumidores contra empresas), continuou sendo “destaque no setor”.
O CEO antecipa que a empresa já está se preparando para a Páscoa.
Recuperação judicial
A empresa enfrenta uma crise desde que, em 11 de janeiro, comunicou ao mercado inconsistências contábeis em torno de R$ 20 bilhões, levando a varejista entrar com um pedido de recuperação judicial dias depois, que foi aceito pela Justiça.
A companhia divulgou dívidas de R$ 42 bilhões e 7.720 credores oficiais, conforme solicitado pela Justiça do Rio de Janeiro. O processo se tornou o 4ª maior de recuperação judicial do Brasil.
Mais da metade da dívida da empresa é com os maiores bancos brasileiros. São mais de R$ 22 bilhões divididos entre apenas nove bancos. O Deutsche Bank responde pela maior exposição à varejista, de US$ 1 bilhão de dólares (R$ 5,2 bilhões).
Além dos bancos, tem até empresas de tecnologia, como Facebook, Twitter e LinkedIn. No documento divulgado também constam dívidas com transportadoras, companhias aéreas, empresas de serviços menores e milhares de pessoas físicas. Entre os credores a receber, consta, inclusive, a brasileira Ambev, que pertence aos mesmos acionistas-referência da Americanas: Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira.
Fraldas, xampu, chocolate e balas de goma no formato de dentadura que custam alguns reais somam uma dívida milionária com todos os grandes fornecedores da empresa. Entre as grandes marcas, uma das dívidas que mais chama atenção é com a sul-coreana Samsung, que tem a receber R$ 1,209 bilhão da Americanas.
A dívida tributária, de acordo com a procuradora-geral da Fazenda Nacional, Anelize Almeida, é de R$ 657 milhões.
A varejista fez também um pedido de reconhecimento de processo de recuperação judicial nos Estados Unidos, conhecido como “Chapter 15”, que funciona com efeitos de proteção (notadamente a suspensão de pagamentos a credores) assegurados em seu processo de recuperação judicial no Brasil.
A varejista contratou a Alvarez & Marsal para ajudar a coordenar o processo de recuperação judicial.
Nesta terça-feira, cerca de 50 empregados terceirizados da Americanas foram demitidos. As demissões aconteceram no Rio de Janeiro (RJ), em São Paulo (SP) e em Porto Alegre (RS).
Hoje a empresa também entrou com um pedido na Justiça para obter a manutenção dos serviços de luz, água e esgoto no processo que trata de sua recuperação judicial.
Na sexta-feira (27), as centrais sindicais entraram com um processo na Justiça para resguardar os direitos trabalhistas dos cerca de 44 mil funcionários da Americanas. Para isso, a ação pede que a Justiça amplie as responsabilidades sobre a crise na varejista para os principais sócios e solicita o bloqueio de R$ 1,53 bilhão do patrimônio de Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles para eventual pagamento em ações trabalhistas.
Na quinta-feira (26), a Justiça de São Paulo autorizou a busca e apreensão de e-mails dos diretores e integrantes dos conselhos de administração e auditoria da Americanas dos últimos dez anos. A decisão é uma resposta a um pedido feito pelo Bradesco.
A B3, a bolsa brasileira, excluiu os títulos da Americanas (AMER3) de todos os seus índices desde a segunda-feira (23). Em seu último pregão listada no Ibovespa, as ações da companhia fecharam o dia valendo R$ 0,71. No pregão anterior ao fato relevante de 11 de janeiro, a cotação era de R$ 12.
Leia a íntegra da carta:
Carta do CEO
Amigos da Americanas,
Ao longo dos últimos trinta dias, ainda que sob o impacto constante de notícias que nos deixam ansiosos, fizemos juntos aquilo que mais sabemos fazer: trabalhamos com dedicação para nossos clientes. Quero começar aqui, portanto, com um agradecimento. Todos sabemos da seriedade do momento. Nem por isso perdemos a garra. Nossa resposta foi mais esforço e mais foco. Muito obrigado.
Para nossos clientes, o resultado do que estamos fazendo juntos é que a experiência nas lojas, no site e no app continua sendo exatamente a mesma. As lojas seguem abertas e com prateleiras cheias. As entregas, garantidas. Protegemos nosso maior
aliado e amigo de toda hora: o cliente.
A resposta que recebemos não poderia ser mais tocante. Nas nossas redes sociais ganhamos mais de 100 mil novos seguidores. Só no Instagram, já somos mais de 13 milhões. Nossa nota no site Reclame Aqui continuou sendo destaque em nosso setor,
com a certificação RA 1000.
Em uma palavra, a resposta do nosso cliente foi carinho. É essa força de mercado que nos dá a confiança em superar os obstáculos. Ao fim do caminho que iniciamos, provavelmente seremos uma empresa diferente. E chegaremos lá cuidando sempre de todas as nossas pessoas, que fizeram e farão a força da Americanas.
Quero reafirmar aqui um compromisso que já assumimos em outras oportunidades: salários, benefícios e direitos são a prioridade da administração. Tudo segue – e seguirá – exatamente como está contratado.
Os sindicatos que representam nossa gente estão sendo informados de cada passo à medida em que decisões são tomadas. Manteremos esse diálogo franco.
Sabemos que muito do futuro da companhia depende de fatores que não controlamos inteiramente. Para cuidar dessas diversas frentes de trabalho, trouxemos de imediato equipes experientes e qualificadas. A consultoria global Rothschild & Co está cuidando do acordo com os bancos, essencial para nosso futuro; a consultoria Alvarez & Marsal, da condução do processo de Recuperação Judicial (RJ) e um comitê independente, da apuração dos fatos. Essas frentes de trabalho seguem seu curso em paralelo, com cada uma delas respeitando sempre os limites que a Recuperação Judicial exige de nós e com foco na solução e no plano de recuperação.
Para reforçar tudo isso, recebemos a importante contribuição da Camille Loyo Faria, que chegou em fevereiro como Diretora Financeira e de Relações com Investidores e traz uma valiosa experiência em reorganização financeira de empresas.
Enquanto os esforços do plano de recuperação seguem curso, posso prometer que nós, aqui, seguiremos mantendo a chama acesa no máximo, com parceiros e clientes a cada dia mais engajados. Como exemplo, além do cumprimento dos repasses quinzenais aos
sellers, anunciamos um projeto piloto para pagamento semanal aos nossos lojistas por vendas que fazem em nossa plataforma. Em outra frente, conseguimos a aprovação, pelo juiz da RJ, de um financiamento DIP de R$ 1 bilhão feito pelos acionistas de referência, que pode chegar a R$ 2 bilhões, e que ajudará a companhia a manter o curso normal dos negócios, seu fluxo de caixa e reforçar sua liquidez.
Com isso, estamos confiantes em dizer que já aceleramos os preparativos para a nossa Páscoa, um evento que é tão simbólico para os brasileiros e tão significativo para nós, Americanas.
Seguiremos fazendo o que mais sabemos fazer.
Juntos Somos Americanas
João Guerra, CEO interino da Americanas S.A.