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    Juros nos EUA enxugam liquidez e elevam urgência de venda da Eletrobras, diz secretário

    No ínicio do mês, BC dos EUA elevou taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, maior aumento em 22 anos

    Por Bernardo Caram e Marcela Ayres, da Reuters

    O ciclo de aperto monetário em curso nos Estados Unidos vai enxugar a disponibilidade de recursos para o Brasil e exigir que o país ofereça retornos maiores para atrair investidores, avalia o secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados do Ministério da Economia, Diogo Mac Cord, argumentando que esse cenário demanda uma aceleração das privatizações, em especial da Eletrobras.

    Em entrevista à Reuters, Mac Cord reconheceu que a chegada das férias de verão no hemisfério norte pode diminuir nos próximos meses o apelo da operação junto a investidores internacionais, mas frisou que a principal preocupação do governo é com o aperto dos juros norte-americanos.

    “O mais preocupante é essa curva de aumento dos juros americanos. Cada meio por cento que eles aumentam, drena muito dinheiro, dá uma enxugada boa de liquidez. Então a corrida contra o tempo é por isso”, afirmou.

    No início deste mês, o banco central dos EUA elevou sua taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, maior aumento em 22 anos, e indicou novos apertos à frente para enfrentar uma inflação alta e persistente.

    As próximas decisões de política monetária do Federal Reserve estão previstas para 15 de junho e 27 de julho.

    Na última terça-feira (17), o CEO da Eletrobras, Rodrigo Limp, afirmou que a empresa quer fazer a operação “o quanto antes”, possivelmente em junho.

    Aposta mais audaciosa do até agora tímido cardápio de privatizações do governo Jair Bolsonaro, a operação da Eletrobras estava sendo planejada para maio, com a expectativa de que a análise do TCU seria encerrada em abril, o que acabou não ocorrendo em meio a questionamentos sobre o potencial valor da transação.

    Mac Cord também saiu em defesa da privatização da Petrobras enquanto o petróleo ainda tem relevância global significativa, embora ressalte que sua secretaria não recebeu comando formal para estudar a operação após indicação de Adolfo Sachsida ao Ministério de Minas e Energia.

    O secretário esteve em reuniões na terça para discutir o tema da Eletrobras com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o chefe da pasta de Minas e Energia.

    Ao dizer que Sachsida tem pensamento econômico “extraordinário” e 99% alinhado ao seu, Mac Cord ponderou que o processo de capitalização da Eletrobras depende pouco da atuação do novo ministro, estando agora nas mãos do TCU (Tribunal de Contas da União).

    O governo espera que o TCU dê a aprovação à privatização da estatal ainda nesta semana em julgamento programado para ser retomado nesta quarta-feira.

    Mac Cord ressaltou que a alta de juros no Brasil também contribui para um cenário de menor liquidez.

    “O dinheiro sobrou bastante nos últimos anos porque os juros (domésticos) despencaram, então os investidores começaram a procurar onde conseguem achar retorno. Agora, com os juros subindo, esse dinheiro vai sendo enxugado, vai sendo canalizado para a renda fixa de novo, principalmente para Treasuries (títulos de dívida pública dos Estados Unidos)”, disse.

    “A gente quer que o dinheiro venha para cá, então tem que acelerar. Cada vez que tem menos dinheiro você precisa oferecer mais retorno. Hoje ainda estamos em cenário positivo e identificamos excesso de liquidez”, completou, ressaltando que uma demora na venda dos ativos pode inviabilizar as operações.

    Apesar do cenário mais restritivo à frente, o secretário disse que a alta de juros no Brasil é conjuntural e que investidores que aplicam em projetos ligados a privatizações e concessões fazem análises de longo prazo.

    Mac Cord avalia que o país está em melhores condições com a aprovação de marcos legais nos últimos anos para estimular investimentos privados.

    No cargo desde agosto de 2020, após o então secretário Salim Mattar pedir demissão fazendo reclamações sobre a demora na venda de ativos da União, Mac Cord afirmou que o governo agora está pronto para a privatização de uma lista de empresas públicas, que podem ir à venda ainda neste ano.

    Segundo ele, além da Eletrobras, o governo está muito próximo de ofertar ao setor privado a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de Belo Horizonte, a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), a Ceasa Minas (Centrais de Abastecimento de Minas Gerais) e os portos de São Sebastião e de Santos (ambos em São Paulo).

    Imóveis

    Apesar de Guedes ter mencionado algumas vezes ao longo do governo que a União tem mais de R$ 1 trilhão em imóveis, em defesa da venda desses ativos, o secretário disse que o governo tem hoje cerca de R$ 100 bilhões que de fato são passíveis de venda.

    Na tentativa de fazer essa agenda decolar, o governo lançou um programa para que imóveis e propriedades da União sejam reunidos em fundos imobiliários, que seriam negociados na bolsa de valores de São Paulo. A ideia é ampliar a liquidez desses ativos por meio da negociação de cotas dos fundos.

    De acordo com o secretário, cada fundo deve reunir ativos com valor total de até R$ 500 milhões. A implementação do programa depende de validação do TCU, mas o governo já fez sondagens no mercado.

    “Nas próximas semanas, a expectativa é que a gente lance os quatro primeiros fundos”, disse.

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