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    Incerteza ganha força na comunicação do BC

    Para se ter uma ideia do peso da palavra “incerteza” na comunicação do Copom, desde que a pandemia começou, ela foi aplicada para descrever o cenário para economia nas atas das reuniões de março, maio e junho de 2020

    Thais Herédiado CNN Brasil Business*

    Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que decidiu pela elevação dos juros para 10,75% ao ano, os diretores do Banco Central usaram o termo “incerteza” em quatro ocasiões. Esta é uma palavra pouco utilizada na comunicação da autoridade monetária, não só aqui no Brasil, porque pode alimentar uma percepção de que o BC não está seguro sobre suas respostas aos desafios.

    No documento divulgado nesta terça-feira (8), a motivação mais forte para atenuar esta convenção foi a política fiscal. Duas, das quatro citações da expressão “incerteza” na ata, alertaram para os riscos “em relação ao arcabouço fiscal”, que podem resultar em “elevação dos prêmios de risco”, o que “eleva o risco de desancoragem das expectativas de inflação”. Para não deixar dúvidas sobre o que provocou o aumento da “incerteza” do Copom, o próprio texto explica.

    “O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”, diz a ata.

    Não foi preciso citar explicitamente o debate sobre as PEC’s para baixar preços dos combustíveis, gás de cozinha e energia elétrica, mas cabe uma tradução do “economês” ou “copomnês”. O BC alerta que distorcer nas regras fiscais, colocando em risco a sustentabilidade das contas públicas para fazer uma medida com perfil populista, gera mais inflação lá na frente e perda de credibilidade do combate ao processo inflacionário.

    Para se ter uma ideia do peso da palavra “incerteza” na comunicação do Copom, desde que a pandemia começou, ela foi aplicada para descrever o cenário para economia nas atas das reuniões de março, maio e junho de 2020. Foi o período mais agudo do impacto econômico provocado pela crise sanitária, com medidas restritivas, economias afundando, e seria difícil descrever o cenário de outra forma sob risco de perder o pé da realidade.

    Em 2021, o termo apareceu uma única vez no comunicado de dezembro, com apenas uma citação sobre ritmo de recuperação da economia brasileira e internacional. Na ata do último encontro do ano passado, o BC tratou como “questionamento” o debate sobre aumento dos gastos públicos e mudanças no arcabouço fiscal.

    Há cerca de duas semanas, em seu pronunciamento seguido de entrevista coletiva sobre decisão do Fed, o presidente do BC americano, Jerome Powell, surpreendeu ao revelar o tamanho de sua insegurança sobre a extensão no tempo e na intensidade da alta da inflação que atinge os Estados Unidos. “Há processos que nunca foram vistos por aqui”, chegou a dizer.

    Muitos dogmas e convenções sobre o papel dos bancos centrais têm sido testados e questionados desde antes da pandemia. A crise e as respostas escolhidas por eles instigaram ainda mais o debate sobre qual será estratégia mais eficaz da autoridade monetária para lidar com tantos choques ao mesmo tempo. O BC brasileiro terá que convencer a sociedade que está conduzindo o país da forma menos custosa para a sociedade.

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