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    Impacto econômico do envelhecimento da população pode ser adiado, diz presidente do IBGE

    Em entrevista à CNN, Eduardo Rios Neto afirma que maior acesso ao ensino superior é questão chave para o mercado de trabalho brasileiro; mulheres têm menos filhos e adiam gravidez, mostra levantamento

    Priscila YazbekLéo Lopesda CNN , em São Paulo

    Um levantamento de dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), feito com exclusividade para a CNN, mostra que a taxa de fecundidade vem caindo progressivamente no Brasil. Ou seja, as mães brasileiras estão tendo cada vez menos filhos, em média.

    Nas últimas décadas, o índice já despencou de uma média de 6,16 filhos por mulher no Brasil, em 1940, para 1,76 filho por cada mãe do país, no dado mais recente, de 2020.

    Além disso, as mulheres brasileiras estão tendo filhos cada vez mais tarde. De 2000 para 2020, a proporção de registros de nasci­mentos cujas mães tinham menos de 30 anos caiu de 76,1% para 62,1%. Já os registros de nascimentos cujas mães tinham 30 anos ou mais subiu de 24,0% para 37,9%.

    A menor taxa de fecundidade e a tendência de gravidez tardia indica um processo de transição demográfica no Brasil. Até então, o país vive o chamado “bônus demográfico”, quando existem mais brasileiros na faixa etária adulta e apta a trabalhar – a chamada população economicamente ativa – do que nas idades mais avançadas e aposentados. No longo prazo, a expectativa é de que esse cenário se inverta.

    Em entrevista à CNN nesta quarta (12), o presidente do IBGE, Eduardo Rios Neto, afirmou que ampliar o acesso da população ao ensino superior é uma saída para adiar os impactos do fim do bônus demográfico, e ainda buscar algum impulso econômico nos jovens trabalhadores.

    Para o economista e demógrafo, essa questão é a “variável chave para o mercado de trabalho até 2040”.

    “Para você ter uma virtuosidade nesse momento de quase envelhecimento, que é o finzinho do bônus demográfico, é fundamental que a renda cresça com a idade”, disse.

    “Normalmente nos segmentos de menor escolaridade, a renda não varia tanto por idade, ela é quase horizontal. Você vai envelhecendo ganhando o mesmo tanto. Mas isso ocorre no mercado superior de trabalho”, completou.

    Eduardo Rios Neto, presidente do IBGE. / CNN / Reprodução

    Bônus demográfico evitou crise maior

    Um estudo da Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) indicou que o bônus demográfico, entre 1981 e 2019, contribuiu para um avanço de 0,9% na renda per capita do Brasil. A população economicamente ativa contribuiu com pouco mais da metade desse crescimento.

    Porém, o impulso do bônus demográfico foi afetado pela recessão do período 2014 a 2016, com o agravante do impacto econômico provocado pela pandemia de Covid-19.

    “Não perdemos tanto, quanto na década dos anos 1990”, exemplifica o presidente do IBGE, dizendo que, se não fosse o bônus demográfico, a queda na renda per capita brasileira teria sido “muito maior”.

    “Se a gente não ganhou no sentido positivo, ganhamos no sentido de mitigar. Mesmo naquele momento a gente teve todas crianças na escola e a cobertura quantitativa de educação foi razoável”, pontua Eduardo Rios Neto.

    Gravidez na adolescência cai 8,2% em 20 anos

    O demógrafo destacou um dado do levantamento que chamou de “transição de adiamento”.

    “Isso significa que várias mulheres estão completando o ciclo reprodutivo sem ter filho. E as que têm filhos, seja um ou dois, iniciam a reprodução depois dos 30 anos”, declarou.

    Ele ressalta que esse fenômeno mostra que a gravidez na adolescência está recuando no Brasil.

    “O índice era de 21,6% em 2000, e já está em 13,4% em 2020, de acordo com os registros de nascimento. Ainda é uma questão social, mas quantitativamente está mais fácil fazer política pública para esse público-alvo”, apontou.

    Ele indica que a maior parte das mulheres que começam a ter filhos depois dos 30 anos fazem isso porque estão no mercado de trabalho e possuem ensino superior. “A variável chave é a educação da população brasileira”, concluiu.

    Dados do IBGE sobre faixa etária das mães no Brasil mostra uma redução na quantidade de grávidas com menos de 20 anos / Arte/CNN Brasil (12.jan.2022)

    Além do adiamento no momento de ter um filho, o economista destacou o que chama de “transição na taxa de fecundidade”.

    O demógrafo chama a atenção que o processo de envelhecimento populacional, a chamada transição demográfica, ocorre em praticamente todos os países do mundo.

    Ele destaca os dados da taxa de fecundidade das mulheres brasileiras. “Já em 2010, essa taxa era de 1,9 filho por mãe brasileira – abaixo da casa dos dois filhos”, pontua.

    Quando os índices apontam uma média de dois filhos por mulher, acontece o que os demógrafos chamam de “nível de reposição”.

    “Se a taxa de fecundidade for mantida nesse patamar por muito tempo, em algum ponto a população passa a ter crescimento nulo”, disse Eduardo.

    O presidente do IBGE afirmou que a projeção do Instituto é de que a taxa esteja, neste momento, abaixo de 1,7, e deve chegar a 1,6 até 2030.

    Pesquisa do IBGE mostra também uma manutenção na queda da taxa de fecundidade – o número médio de filhos por mulher / Arte/CNN Brasil (12.jan.2022)

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