Ibovespa perdeu R$ 577 bilhões em valor de mercado desde outubro, mostra levantamento
Após eleições, declarações e ações apresentadas pela transição de Lula aumentaram temor por governo mais estatista e com gastos maiores
O Ibovespa, principal índice da B3, a bolsa de valores brasileira, perdeu o equivalente a R$ 577 bilhões em valor de mercado desde 21 outubro, a última vez em que bateu os 119 mil pontos.
Os cálculos são da plataforma de investimentos TradeMap e consideram a variação até o fechamento de sexta-feira (9).
Naquele 21 de outubro, a nove dias do segundo turno das eleições presidenciais, que aconteceu em 30 de outubro, o Ibovespa subiu 2,35% e fechou aos 119.928,79, em meio a pesquisas que indicavam melhora do então candidato à reeleição Jair Bolsonaro e também a uma temporada de balanços corporativos fortes.
Foi a melhor pontuação desde março deste ano e uma das melhores semanas desde 2020.
De lá para cá, a bolsa reverteu o otimismo e entrou em uma espiral de quedas que a derrubou de volta para perto dos 105 mil pontos, enquanto o governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva dava os primeiros passos da transição e sinais mais claros de que deverá ter uma agenda mais estatista e de gastos públicos maiores.
Nesta segunda-feira (12), por volta das 16h30, o Ibovespa caía 2,8%, a 104.553 pontos, nos piores níveis desde agosto.
No radar dos investidores, está a expectativa pelas próximas nomeações para os ministérios e a equipe econômica do governo petista, depois da confirmação, na sexta-feira, do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad para a Fazenda.
Entre os “sustos” dos investidores nesta segunda-feira, está a notícia de que o ex-ministro de Lula e de Dilma Rousseff Guido Mantega segue cotado para cargos da linha de frente do governo, aumentando, mais uma vez, o peso das indicações políticas e do núcleo duro petista sobre a preferência do mercado por nomes técnicos.
Também nesta segunda-feira, a consultoria de análise política Eurásia divulgou relatório dizendo que o governo Lula deve derrubar a lei das estatais por meio de medida provisória.
Publicada em 2016, no governo de Michel Temer, a lei das estatais criou uma série de regras para profissionalizar a governança das companhias estatais e tornar mais difíceis as indicações políticas em suas cúpulas.
“A revogação dessa legislação facilitaria significativamente as nomeações políticas para os conselhos das estatais”, diz a consultoria.
“Assim, Lula poderia indicar prontamente o senador Jean Paul Prates como CEO da Petrobras e nomeados políticos para bancos públicos. A mudança também poderia ajudar negociações com os partidos de centro, que exigirão garantias do governo de que continuarão a controlar uma fatia grande do orçamento”, continua o relatório.
Sucessão de desânimos
Logo após a confirmação da vitória de Lula, em 30 de outubro, a bolsa chegou a ensaiar uma temporada de otimismo, fiada nos bons resultados econômicos que o ex-presidente entregou em seus dois primeiros mandatos e em nomes de peso que o apoiaram durante a campanha e também na equipe de transição.
O ex-ministro Henrique Meirelles e alguns dos principais economistas que participaram da formulação do Plano Real são alguns deles.
Em 4 de novembro, a bolsa chegou a voltar para os 118 mil pontos e o dólar despencou aos R$ 5. A tentativa de lua de mel, porém, durou pouquíssimos dias.
Repetidas declarações de Lula criticando políticas de austeridade fiscal, em suas primeiras aparições públicas após eleito, fizeram os mercados azedarem rápido. Nos piores dias, o dólar chegou a passar dos R$ 5,40.
O aparente buraco sem fundo para os gastos que a PEC da Transição começou a abrir, em busca de verbas extras para financiar programas do novo governo, também não ajudou.
Apelidada de “PEC do Estouro“, a proposta de emenda à Constituição apresentada pela equipe de transição de Lula chegou a pedir uma licença de quase R$ 200 bilhões a mais por ano, fora do teto de gastos, por todos os quatro anos do mandato, para arcar com os custos de um Bolsa Família ampliado.
Atualmente em tramitação no Congresso, e correndo contra o tempo para poder valer a partir de 1o de janeiro junto com o Orçamento de 2023, a PEC do Estouro já sofreu alguns ajustes no Senado que amenizaram o rombo que ela abre nas contas públicas.
Ainda assim, a conta continua bem mais salgada do que o mercado financeiro e os investidores, a quem interessa o tamanha que dívida pública pode alcançar, gostariam.