Horizonte de convergência da inflação à meta deve ser flexível, diz diretor do BC
Falado em evento virtual do Bradesco BBI, Guillen disse que o BC vê pequena redução na margem das expectativas de inflação para 2023
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Diogo Guillen, disse nesta segunda-feira (5) que o horizonte para a convergência da inflação à meta depende da natureza dos eventuais choques, que podem ser de oferta ou demanda, ressaltando que o horizonte deve ser flexível para incorporar isso.
Falado em evento virtual do Bradesco BBI, Guillen disse que o BC vê pequena redução na margem das expectativas de inflação para 2023, mas destacou que as expectativas de longo prazo subiram como reflexo das discussões em torno da regra fiscal.
Ele afirmou, ainda, que olhando para frente, a expectativa é de moderação do crescimento econômico diante da política monetária restritiva.
Não há relação mecânica entre marco fiscal e inflação
Guillen repetiu que não há relação mecânica entre a aprovação do marco fiscal e a inflação ou as decisões de política monetária. “Tem havido uma redução no risco de cauda fiscal. Mas não houve muita mudança nas expectativas de resultado fiscal para os próximos anos, nas pesquisas Focus dos últimos meses”, afirmou.
Guillen também repetiu que o desafio de definir qual é a taxa neutra de juros não é apenas brasileiro, citando dificuldades também de outros bancos centrais.
“Mais do que o nível exato da taxa neutra, é mais importante perceber se houve mudanças no patamar dessa taxa neutra. Por isso estamos olhando para cenários alternativos para juro neutro e os seus respectivos impactos sobre a inflação”, respondeu.
O diretor de Política Econômica do Banco Central avaliou que há um fenômeno global de expectativa de arrefecimento da inflação e normalização das políticas monetárias de diversos países.
“As taxas de juros estão em suas máximas em vários países”, destacou.
Ele enfatizou que os bancos centrais — incluindo o brasileiro — usam o receituário de separação entre as políticas monetária e macroprudencial, mas afirmou que os mercados não trabalham com essa separação.
Inflação global
O diretor de Política Econômica do Banco Central disse que, apesar da tendência de queda geral na inflação global, os núcleos de inflação não mostra desaceleração, especialmente em economias avançadas.
“O que vemos no cenário global é que a inflação em geral está caindo, mas os núcleos ainda não mostram essa tendência. Assim como no Brasil, os gráficos mostram a resiliência dos núcleos de inflação”, afirmou Guillen.
O diretor destacou que a inflação nos Estados Unidos mostra desaceleração em alguns itens, mas resiliência em outros. “Há algum alívio em salários nos EUA, mas ainda em altos níveis”, detalhou.
Ele apontou ainda a desaceleração dos preços de commodities desde o começo deste ano. “A velocidade de reabertura da China pode impactar a dinâmica de commodities. Esses preços podem trazer a inflação para baixo, mas esses movimentos são voláteis”, completou.
Guillen citou ainda as revisões das projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em diversas economias — com EUA, Europa e China —, com melhoras nas estimativas para 2023, mas desaceleração para 2024.
Ele mencionou ainda uma grande melhora nas expectativas para o PIB brasileiro em 2023, mas quase nenhuma mudança para 2024. “Há uma discussão justa sobre quanto do bom desempenho do PIB é agricultura”, completou.