Há ceticismo sobre plano do governo de ajustar fiscal com aumento da arrecadação, diz Campos Neto
Campos Neto disse no mesmo evento que o recente reajuste no preço dos combustíveis vai impactar a inflação de 2023, mas foi “decisão acertada” do governo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicou em evento nesta quarta-feira (16) que há ceticismo no mercado sobre o plano do governo federal de atingir metas de primário com medidas de aumento da arrecadação.
“Por que o mercado não acredita nesta entrega [de convergência do fiscal]? Para fazer essa entrega precisamos ter muita arrecadação. As pessoas tem ceticismo em relação a esta capacidade”, disse.
Campos Neto detalhou dados sobre o aumento de arrecadação necessário para que as metas de primário marco fiscal sejam atingidas. Para 2024, seria necessária elevação equivalente a 1,4% do PIB; para 2025, 1,5%; e para 2025, 1,7%.
O marco fiscal (em vias de ser promulgado pelo Congresso) estabelece como metas de primário: déficit zero em 2024; superávit de 0,5% do PIB em 2025; superávit de 1% do PIB em 2026. Há banda de tolerância de 0,25 ponto percentual para mais ou menos.
Além de estabelecer metas, o mecanismo indica que as despesas do governo devem crescer anualmente entre 0,6% e 2,5% (acima da inflação).
“Mesmo com o arcabouço, o crescimento de gastos no Brasil em termos reais será bem acima da média do mundo emergente, o que faz com que haja uma desancoragem fiscal. Para cumprir ou precisaria de um crescimento muito grande ou mais arrecadação”, aponta o presidente.
Ele não deixou de destacar, contudo, que o governo vem se movendo para aprovar medidas que permitam a elevação de arrecadação e atingir as metas.
O presidente do BC participou de congresso promovido pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
Reajuste de combustíveis foi “acerto” do governo
Campos Neto disse no mesmo evento que o recente reajuste no preço dos combustíveis vai impactar a inflação de 2023, mas foi “decisão acertada” do governo.
“Tivemos o reajuste dos combustíveis, que vai ter um impacto em 2023. Confesso que achei acertado. Não é bom ter distanciamento dos preços [internacionais], mesmo que o reajuste tenha impacto negativo [na inflação]. A gente acha que foi uma decisão acertada”, disse.
Na última terça-feira (15), Campos Neto havia indicado que o reajuste anunciado pela Petrobras terá impacto de 0,4 ponto percentual na inflação de agosto e setembro.