Governo tem dificuldades de trabalhar com fatos, diz Zélia Cardoso de Mello
Ex-ministra da Fazenda afirma que investidores percebem postura anticientífica do governo e que cabe a sociedade civil pressionar por mudanças na Amazônia
Ex-ministra da Fazenda, Zélia Cardoso de Mello foi uma das participantes da carta assinada por 17 ex-ministros e ex-presidentes do Banco Central que alerta sobre os perigos econômicos que o Brasil pode sofrer caso negligencie o combate ao desmatamento da Amazônia.
Segundo ela, em entrevista exclusiva à CNN, o governo atual tem “dificuldades de lidar com a ciência e com os fatos”, e afirma que os investidores internacionais percebem isso na hora de analisar o país.
“O grande problema da preservação ambiental no Brasil é o de liderança. A resposta dos participantes do governo sobre as declarações sobre a Amazônia foi fora de sintonia com a realidade. Os investidores percebem isso porque é notório. Há dificuldade do atual governo de trabalhar com a ciência e fatos.”
Ela disse que foi convidada a assinar a carta e que se sentiu honrada de participar de uma iniciativa “importante” contra as mudanças climáticas e a favor do desenvolvimento sustentável. Relembrou que, por mais que o atual governo dos Estados Unidos também tenha postura negacionistas como no Brasil, a sociedade civil por lá consegue se mobilizar para neutralizar os efeitos desse discurso na prática.
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“Nos Estados Unidos a iniciativa privada está se adiantando. Muitos bancos fazem cada vez mais questão de participar do desenvolvimento de tecnologias e projetos sustentáveis, que tragam uma contribuição para o meio ambiente”, diz ela.
“Essas instituições estão liderando a transformação em relação ao desenvolvimento sustentável. Por isso, é importante a carta com o objetivo de mobilizar agentes econômicos e sociedade civil para assumirem papel que o governo não está assumindo”, completou.
Confisco
Zélia também abordou o tema do confisco de poupanças, que marcou sua passagem pelo Ministério da Fazenda, durante o governo do ex-presidente Fernando Collor. Assim como Collor fez em entrevista recente para a CNN, ela pediu desculpas pela ação, mas disse que as medidas foram necessárias para o momento que o Brasil vivia.
“O que foi feito teve consequências que reconheço que foram trágicas em muitos casos. E peço desculpas por isso. É o que eu posso fazer. Quanto às medidas tomadas naquele momento, dadas as condições e o que sabíamos e temíamos, ainda acho que fizemos o que devia ter sido feito”, disse.
Questionada sobre sua pouca idade ao assumir o ministério (36 anos) afetou a condução da pasta, Zélia disse que tanto ela quanto sua equipe chegaram ao posto com um “idealismo” que “era necessário” para o momento;
Paulo Guedes
Apesar das críticas ao governo, Zélia disse aprovar a condução de Paulo Guedes no Ministério da Economia e disse “pedir todos os dias” para que o ministro “tenha paciência” para continuar no posto e que consiga lidar com as dificuldades do cargo.
“A situação do Brasil não era fácil quando ele assumiu e a pandemia trouxe uma série de problemas de todas as ordens. Para além disso, há o problema de uma liderança que não assume os fatos, renega a ciência e quer insistir em certas rotas que não são boas para a saúde pública. Peço todos os dias para que ele tenha paciência para seguir com sua agenda.”
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