Gestores cobram urgência de pautas sobre responsabilidade social e meio ambiente
Representantes de empresas e do mercado ressaltaram urgência da agenda ESG no Fórum de Economia CNN – Os desafios de um Brasil essêncial
Maximizar os lucros sempre foi e deve continuar sendo um dos, se não o principal, objetivos de grandes empresas ao redor do globo. Ao mesmo tempo, a agenda ESG não pode esperar mais, e é preciso atacar problemas ambientais e corrigir mazelas sociais antes que seja tarde.
Foi exatamente este o tom adotado pelos gestores e entes do mercado presentes no painel “Responsabilidade Social e Meio Ambiente. Qual papel você considera essencial?”, comandado por Raquel Landim durante o “Fórum de Economia CNN – Os desafios de um Brasil essencial”.
Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra, Walter Schalka, CEO da Suzano, Rachel Maia, membro do conselho de administração de Vale, Banco do Brasil, CVC e Grupo Soma e Lorival Luz, CEO da BRF, estavam entre os participantes.
O tamanho do problema
Enquanto muitos compromissos climáticos apontam para datas longínquas, como 2050, especialistas alertam que é preciso avançar com medidas num prazo muito menor, sob pena de impactar o ambiente em que vivemos de forma irreversível antes que as mudanças possam ser sentidas.
“O Brasil tem uma grande oportunidade. Podemos e precisamos ser protagonistas já na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021 [COP 26]. Temos que reafirmar nossos compromissos e resolver o desmatamento ilegal da Amazônia”, disse Walter Schalka, CEO da Suzano.
“São questões geracionais. No setor ambiental, não podemos mais permitir que a discussão seja procrastinada, sob pena de alcançar um ponto de não retorno. Já no âmbito social, precisamos gerar igualdade de oportunidades para todos. E trata-se de um movimento que tem que envolver 100% da população. Cobrar das empresas, países.”
Com participação em conselhos de administração de algumas das companhias mais importantes do país, Rachel Maia endossa a necessidade de mudança. Pede, acima de tudo, que as lideranças do país “façam sua lição de casa antes de mostrar algo” para os pares internacionais.
“Estamos em meio a um processo de entendimento do ESG, que vai funcionar de fato quando conseguirmos colocar o ambiental e o social juntos. Não adianta tratar só de negócios, tem que abarcar pessoas, ter diversidade. Precisamos defender a Amazônia, mas também dar subsistência às pessoas”, afirmou.
A visão do mercado
Lorival Luz, CEO da BRF, espera que as empresas entendam a importância do momento e se preparem para fazer mais. “Ainda vemos alguns lugares que têm ESG ‘para inglês ver’, mas muitos outros enxergam de forma efetiva, pois sabem que não dá mais para tomar decisões sem isso”, defendeu.
“Antes o mercado só olhava a taxa de retorno na hora de realizar um investimento, agora analisamos mais coisas. Precisa ser inclusivo, sustentável, gerar empregos. Os bancos ainda precisam estruturar melhor esses ratings, mas eventualmente quem não cuidar disso terá menos portas abertas.”
Exemplo disso é que a União Europeia está restringindo cada vez mais a entrada de produtos agrícolas de outras regiões. Muitos enxergam como protecionismo comercial, é verdade, mas também existe uma parcela de pressão em relação a países e empresas que querem realizar negócios com eles.
“O setor financeiro está muito engajado. Se uma empresa tem má governança, você vai investir nela ou sugerir que seus investidores tenham na carteira? Também já existem várias regras para limitar os empréstimos para empresas que não cumprem metas, e a tendência é que isso fique cada vez mais forte”, afirmou Joaquim Levy, ex-ministro da Fazenda e diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra.
Soluções em vista
“Se pensarmos que, há poucos anos, o desmatamento da Amazônia era metade do que é hoje, podemos ter este referencial como ponto de partida, já que metade das nossas emissões de carbono vêm daí. É algo que não diminui a renda e precisamos atacar o mais rápido possível”, disse Levy.
Nessa linha, Schalka entende que, além de não gastar, é possível ganhar dinheiro impulsionando políticas verdes. “Podemos monetizar nossos créditos de carbono com o sistema cap and trade (comércio internacional de emissões). Isso combinaria social e ambiental”, explicou.
Já Luz deu um exemplo da BRF para propor que outras companhias também olhem cada vez mais para dentro. “Estamos construindo um parque eólico para ter autogeração de energia limpa na nossa operação. Se cada empresa fizer, olha o impacto que isso tem no mundo”, sugeriu.
Maia corroborou a fala dos outros painelistas, mas voltou a cobrar ações sistemáticas. “É preciso sempre dar uma conexão ao social, e parece que falta paciência às vezes, já que o investidor quer o lucro no final das contas. Precisamos reconhecer o que não foi feito no passado e fazer agora, dar um passo atrás e olhar para desigualdade.”
“A mudança tem que acontecer. Se A não está fazendo, que B o faça”, sentenciou.