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    Gasoduto argentino pode causar danos ambientais no Brasil, alertam especialistas

    Técnica usada para extrair o gás de xisto, produzido na Argentina, é altamente poluente

    Diego MendesKarla ChavesProduzido por Marcia Barrosda CNN , São Paulo

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu nesta terça-feira (24) o financiamento para a construção de uma rede de gasoduto para transportar gás natural produzido no campo de Vaca Muerta, na Argentina. O país passaria a oferecer gás natural para o Brasil.

    A questão é que o tipo de gás explorado por lá polui mais do que o produto que o Brasil produz, segundo especialistas ouvidos pela CNN.

    O principal argumento do governo brasileiro ao defender um possível financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o segundo trecho das obras do gasoduto Néstor Kirchner, na Argentina, é que o Brasil terá mais gás natural, por um preço menor.

     

     

    A obra é considerada um instrumento chave para impulsionar a extração de gás de xisto na região que abriga uma das maiores reservas do mundo. A ideia é que no futuro este gás chegue ao Brasil.

    Na visão do economista Adriano Pires, o financiamento deste gasoduto traria alguns benefícios neste momento. Para ele, o país precisa de térmicas para dar mais confiabilidade ao sistema elétrico.

    “O Brasil necessita de fertilizante e vimos, com a guerra na Ucrânia, que o país importa praticamente 80% produto. E, para fazer fertilizante, precisa de gás natural. Você tem siderurgia, tem indústria cerâmica, tem indústria química. Então, esse leque de consumidores podem ser beneficiados com a oferta de gás”, destaca.

    Riscos ambientais

    Apesar das possíveis vantagens, especialistas ligados ao meio ambiente, são contra o financiamento, porque a técnica usada para extrair o gás de xisto é altamente poluente.

    O argumento é de que isto iria na contramão da agenda verde, que tem sido uma das prioridades do BNDES nos últimos anos.

    Para Pedro Côrtes, professor tutelar da USP ou professor titular do instituto de energia e ambiente da USP, a questão como produzir gás de xisto. “Injetam gás no subsolo para forçar o gás sair e quando usa esse processo, polui todo o subsolo. É muito danoso ao meio ambiente”.

    De acordo com Côrtes, o governo quer investir em um combustível fóssil quando deveria incentivar outro tipo de produção. “Nós produzimos e nossa produção está associada a outro tipo de rocha. No caso do pré-sal, tem muito gás, quando perfuram extrai o gás e não existe o fraturamento da rocha. O nosso dano ambiental na exploração é menor”.

    O especialista explica que ambos os casos são combustíveis fóssil e quando queimam causam poluição comprometendo o meio ambiente.

    Entretanto, em um ponto, os dois especialistas concordam: o ideal seria o governo investir no gás encontrado no Brasil, que é menos poluente, possui grandes reservas e não é mais utilizado por falta de estrutura. Hoje, é preciso reinjetar parte do gás extraído por falta de dutos de escoamento.

    Gás do Brasil

    No Brasil, o gás explorado é o do pré-sal. A extração é feita perfurando camadas do solo, uma por uma, com o mínimo de danos ao meio ambiente.

    Já na exploração do gás de xisto, presente na Argentina, é feita uma perfuração vertical e depois uma horizontal. Em seguida, são inseridos água e produtos químicos para liberar o gás e o óleo que possam estar “presos” entre as rochas. Isto pode contaminar o solo e o lençol freático da região.

    A exploração de gás de xisto não é regulamentada no Brasil. No paraná existe inclusive uma lei que proíbe o uso da técnica.

    Mas, esta questão ambiental ainda divide opiniões, para o Pires, esta deve ser uma preocupação da Argentina, onde a exploração acontece, e não do Brasil.

    “Hoje, o Brasil tem um problema que é aumentar a oferta de gás. Aliás, não apenas o Brasil, pois, a Europa também sofre com essa questão. Trazer gás da Argentina é bom, mas o problema é a questão da oferta de gás brasileiro. Não podemos ficar reféns dos importadores. É necessário aumentar a oferta de gás natural”, conclui.

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