Fenômenos climáticos elevam preços de alimentos e são “ponto de atenção” para inflação, dizem economistas
Economistas não acreditam que a variação mude as perspectivas para o ciclo de cortes na taxa de juros pelo Copom — que se reúne nesta semana
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,28% em novembro, na comparação com o mês anterior, e o maior impacto veio do grupo alimentação e bebidas, com alta de 0,63%. Para especialistas consultados pela CNN, fenômenos climáticos explicam a variação.
Economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória destaca que o El Niño segue como ponto de atenção e pode impactar os preços nos próximos meses. Também destaca efeitos estatísticos que impactam este dado.
“Neste ano, a variação maior também é resultado da base mais baixa, uma vez que tivemos queda dos preços dos alimentos nos últimos meses. Portanto, essa variação está dentro do esperado”, explica.
O fenômeno climático El Niño deve durar pelo menos até abril de 2024, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), da ONU, em novembro, estendendo período de altas temperaturas e seca.
Julio Hegedus Netto, economista da Mirae Asset, destaca pressão da Alimentação do Domicílio, com alta de 0,75%. Este efeito foi puxado por cebola (26,59%), batata-inglesa (8,83%), arroz (3,63%) e carnes (1,37%).
“Como alimentos em domicílio acabaram mais impactados, há de se observar alguma influência climática na alta dos tubérculos, cebola e batata, assim como em arroz”, aponta.
Na divulgação do Índice, o gerente da pesquisa, André Almeida, indica que “as temperaturas mais altas e o maior volume de chuvas em diversas regiões do país são fatores que influenciam a colheita de alimentos”. Ele destaca os “mais sensíveis ao clima”, como tubérculos, legumes e hortaliças.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, chama atenção também para a alta no grupo de Transportes, que cresceu 0,27% no mês. A passagem área cresceu 19,12% e teve o maior impacto individual sobre o índice, 0,14 p.p.
Para o economista, contudo, o dado “segue corroborando um cenário benigno para a inflação brasileira”.
“A pressão altista veio de itens mais voláteis como alimentos e passagem área, enquanto as medidas mais importantes como a média dos núcleos, serviços subjacentes e bens industriais seguem em trajetória baixista. E o índice de difusão, voltou a cair”, disse.
Variação não deve impactar Copom
Os economistas consultados pela CNN não acreditam que a variação divulgada hoje pelo IBGE mude as perspectivas para o ciclo de cortes na taxa de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) — que se reúne nesta semana.
“Isso em nada deve alterar na decisão do Copom de quarta-feira [14]. Deve manter a estratégia de cortes pontuais de 0,5 pontos percentuais, pelo menos até o início de 2024″, diz Julio Hegedus Netto.
Para André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, mesmo com o dado atual, o BC não deve mudar o plano de vôo de cortes, de 0,50 ponto percentual. “Acredito que o rumo dos juros nos EUA deve dar o tom do nosso ritmo de corte na Selic”, completou.
Rafaela Vitória vê queda na inflação a maior que o esperado no curto prazo. Ela acredita que, com estes dados, o Copom poderia “se desfazer do guidance que ancora expectativas de queda da Selic em um ritmo, talvez, lento demais para o patamar de inflação que vemos”.
“No longo prazo, as expectativas de inflação acima da meta podem limitar a Selic terminal, mas no curto prazo, vemos espaço ainda para cortes mais significativos, e poderíamos chegar na taxa de 9% mais próximo do meio do ano”, completou.
*Publicado por Danilo Moliterno.