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    Fábrica de chips luta contra a Covid e a crise climática

    Fabricantes em todo o mundo já tiveram problemas para garantir suprimentos de semicondutores, atrasando a produção e entrega de mercadorias

    Eric Cheung, do CNN Business

    As autoridades taiwanesas estão preocupadas com a possibilidade de um surto grave de Covid-19 comprometer seu papel crucial na cadeia global de suprimentos de semicondutores. Mas há outra ameaça à indústria que os especialistas temem que possa ter consequências ainda mais drásticas: a crise climática.

    Responsável por mais da metade da produção mundial de chips, Taiwan sofre há meses com sua pior seca em mais de 50 anos, um evento que especialistas dizem que pode se tornar mais frequente devido aos efeitos das mudanças climáticas.

    “Há claramente uma pressão na indústria de semicondutores”, escreveu Mark Williams, economista-chefe da consultoria Capital Economics para a Ásia, em uma nota na quinta-feira (10) que aborda tanto a escassez de água e os casos de coronavírus como os cortes de energia contínuos.

    Fabricantes em todo o mundo já tiveram problemas para garantir suprimentos de semicondutores, atrasando a produção e entrega de mercadorias. Se Taiwan for duramente atingida, a situação pode piorar muito, dada a importância da ilha em contribuir para o fornecimento global de chips.

    O desastre ambiental já tem sido um desafio para os fabricantes de chips da ilha, incluindo a líder do setor, a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSM). A empresa disse que usa 156 mil toneladas de água por dia para produzir seus chips, o equivalente a cerca de 60 piscinas olímpicas.

    A água é usada para limpar dezenas de camadas de metal que formam um semicondutor.

    “Em um chip, existem muitos bilhões de transistores e precisamos de muitas camadas de metal para interconectar todos os sinais”, disse Jefferey Chiu, engenheiro elétrico da Universidade Nacional de Taiwan.

    “Temos que limpar a superfície repetidas vezes após a conclusão de cada processo”, continuou.

    As autoridades taiwanesas limitaram o fornecimento de água encanada em toda a ilha em resposta à seca.

    A TSMC já tentou lidar com a escassez transportando água por caminhão e aumentando as medidas de reciclagem. A empresa disse ao CNN Business que a produção até agora não foi afetada.

    “Temos procedimentos de resposta detalhados para lidar com a escassez de água em diferentes estágios”, afirmou a empresa. “Por meio de nossas medidas de conservação de água existentes, somos capazes de gerenciar as atuais necessidades de redução do uso de água do governo, sem impacto em nossas operações”.

    Tecnologia indispensável

    Peça indispensável, os chips semicondutores estão presentes em tudo, de smartphones e carros até máquinas de lavar.

    Os chips superavançados são difíceis de fabricar devido ao alto custo de desenvolvimento e ao conhecimento necessário para fabricá-los, o que significa que grande parte da produção está concentrada apenas em um punhado de fornecedores.

    A TSMC é a maior fabricante de chips do mundo, e suas caras instalações de manufatura abastecem muitas empresas, incluindo a Apple (AAPL), Qualcomm (QCOM) e Nvidia (NVDA), que podem projetar seus próprios chips, mas não tem os recursos para fazê-los.

    A tecnologia de ponta da empresa taiwanesa também a tornou um player fundamental, já que os Estados Unidos e a China vivem uma rivalidade acirrada no desenvolvimento de tecnologias avançadas do futuro, como inteligência artificial, 5G e computação em nuvem.

    “A TSMC é a chave para muitas empresas diferentes”, opinou Alan Priestley, analista vice-presidente da consultoria Gartner. “A maioria dos eletrônicos de alto desempenho que você usa hoje, como telefones celulares e tablets, têm chips feitos pela TSMC”.

    Oferta limitada

    A indústria global de semicondutores está sob muita pressão agora. Os chips estão em falta ultimamente em grande parte por causa da demanda volátil causada pela pandemia, as sanções dos EUA sobre empresas de tecnologia chinesas e as condições meteorológicas extremas. Um número crescente de empresas de tecnologia relatou problemas para proteger semicondutores, o que, segundo analistas, pode atrasar a produção ou aumentar os preços pagos pelos consumidores.

    Os fatores tornam qualquer ameaça à produção de Taiwan ainda mais importante de conter.

    Além da seca, as autoridades também expressaram preocupação sobre o surto de coronavírus na ilha autônoma, que começou no mês passado e desde então se tornou o pior desde o início da pandemia.

    James Lee, diretor geral do Taipei Cultural and Economic Office em Nova York, disse à agência de notícias Bloomberg no mês passado que o setor poderia enfrentar “problemas logísticos” e apelou aos Estados Unidos para que enviassem vacinas para Taiwan.

    “É por isso que é urgente”, disse Lee. “Esperamos que a comunidade internacional possa ajudar a liberar vacinas o mais rápido possível para ajudar a controlar o surto”.

    O escritório de Lee recusou um pedido de entrevista do CNN Business, citando sua agenda lotada.

    No mês passado, a TSMC contou que dois de seus funcionários foram diagnosticados com Covid-19, embora tenha dito que as operações continuaram normalmente. E Chiu, o engenheiro da Universidade Nacional de Taiwan, disse que muitas empresas provavelmente serão capazes de mitigar os riscos, uma vez que o processo de fabricação do chip é altamente automatizado e os fabricantes têm funcionários separados por grupos para limitar a propagação do vírus.

    Ainda assim, pelo menos cinco fabricantes de semicondutores a sudoeste da capital Taipei foram forçados a suspender algumas operações porque os trabalhadores migrantes adoeceram.

    A King Yuan Electronics, fornecedora líder de serviços de teste e embalagem de semicondutores, teve que suspender os negócios por dois dias no último fim de semana depois que mais de 200 funcionários testaram positivo, de acordo com a Agência Central de Notícias, a fonte oficial de notícias da ilha. Todos os trabalhadores migrantes, ou cerca de 30% dos sete mil funcionários da empresa, foram colocados em quarentena por duas semanas depois que um foco de vírus foi relatado em seus dormitórios.

    Embora a King Yuan tenha dito que colocou mais gente nas linhas de produção, ela alertou que as fábricas só conseguem operar com capacidade limitada.

    Os dados de abril sobre os pedidos globais de semicondutores sugerem que “as restrições de capacidade persistirão”, escreveu Williams, da Capital Economics, no mês passado, observando que havia muito mais pedidos do que exportações de Taiwan.

    “Isso não vai continuar indefinidamente: os pedidos de semicondutores no mês passado foram 74% maiores do que os da pré-pandemia, o que não é sustentável”, afirmou Williams, acrescentando que a carteira de pedidos “vai demorar um pouco para se esvaziar”.

    Longo prazo

    Os especialistas dizem que o problema da falta de água, por sua vez, pode piorar no futuro. A mudança climática provavelmente trará menos chuvas para Taiwan nas próximas décadas, o que pode resultar em secas mais frequentes, de acordo com Hsu Huang-hsiung, pesquisador de clima da Academia Sinica.

    “Nossas projeções mostram que a seca vai se agravar no futuro. Portanto, este ano foi uma boa oportunidade para testar a sustentabilidade de nossa indústria de semicondutores”, disse Hsu.

    De acordo com o engenheiro Chiu, a seca poderia limitar o desenvolvimento de chips avançados de Taiwan. À medida que a tecnologia por trás dos semicondutores se torna mais sofisticada, os fabricantes de chips precisarão de mais água durante os processos químicos necessários para fabricá-los.

    A escassez de água também não é a única questão ambiental em jogo. Os apagões contínuos causados pela crescente demanda por eletricidade em Taiwan também sufocaram a produção. A TSMC disse que quedas de energia afetaram até mesmo algumas de suas instalações.

    “Precisamos reduzir nossa emissão de dióxido de carbono. Mas, por outro lado, precisamos gerar mais eletricidade”, pontuou Hsu, acrescentando que as empresas de semicondutores de Taiwan precisarão investir em mais energias renováveis para garantir um futuro sustentável.

    A TSMC disse que já está trabalhando para reforçar seu fornecimento de energia por meio de parcerias com usinas solares e parques eólicos em toda a ilha. No ano passado, ela disse que pretende abastecer sua produção totalmente por meio de energias renováveis até 2050.

    – Will Ripley, Hanna Ziady, Clare Duffy e Jill Disis contribuíram para esta reportagem.

     

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês aqui.)