Evergrande ainda não pagou juros de títulos para investidores, dizem fontes
Ações e títulos da incorporadora chinesa caíram após a divulgação da informação
Alguns detentores de títulos offshore (estrangeiros) de dívida emitidos por uma unidade da incorporadora China Evergrande Group não receberam os pagamentos de juros devidos em 6 de novembro até a noite de segunda-feira (8) na Ásia, disseram duas pessoas a par do assunto.
A Scenery Journey deveria fazer pagamentos semestrais dos cupons no sábado no valor combinado de US$ 82,49 milhões para seus títulos em dólares americanos de 13% em novembro de 2022 e 13,75% em novembro de 2023.
O não pagamento de juros até 6 de novembro implicaria em um período de carência de 30 dias para o pagamento.
A Evergrande já evitou inadimplências catastróficas duas vezes em outubro envolvendo seus títulos nos mercados de capital internacionais no valor total de US$ 19 bilhões, pagando cupons antes do término de seus períodos de carência.
Um desses prazos expira na quarta-feira (10) para mais de US$ 148 milhões em pagamentos de cupons vencidos em 11 de outubro.
A empresa também deve fazer pagamentos de cupons totalizando mais de US$ 255 milhões em seus títulos de junho de 2023 e 2025 em 28 de dezembro.
Um porta-voz da Evergrande não respondeu imediatamente a um pedido de comentário. As fontes não puderam ser citadas porque não estavam autorizadas a falar com a mídia.
A Reuters não foi capaz de determinar se a Evergrande disse aos detentores dos títulos o que planeja fazer em relação ao pagamento dos cupons devido no sábado.
Títulos e ações da Evergrande têm queda
As ações da Evergrande caíram na segunda-feira, encerrando o dia com queda de 0,9%. Elas recuam quase 85% neste ano.
Os dados do Duration Finance mostraram que os títulos em dólar da empresa continuaram a ser negociados com descontos de cerca de 75% em relação ao seu valor nominal na segunda-feira.
Outrora a incorporadora que mais vendia na China, a Evergrande tem se recuperado de mais de US$ 300 bilhões em passivos de dívidas, e seus problemas de liquidez repercutiram no setor imobiliário de US$ 5 trilhões do país, levando a uma série de inadimplências de dívidas offshore, rebaixamentos de classificação de crédito e liquidações nas ações e títulos de incorporadoras nas últimas semanas.
Os spreads na dívida corporativa chinesa em dólar de alto rendimento aumentaram para níveis recordes na sexta-feira (5), e na segunda-feira, os dados da Bolsa de Valores de Xangai mostraram que os títulos de dívida das incorporadoras voltaram a dominar a lista dos maiores perdedores do dia.
Um título em yuan emitido por uma unidade do Shimao Group foi suspenso do comércio depois de cair mais de 34%.
As quedas se estendiam até mesmo a nomes com alto grau de investimento. Os dados da Tradeweb mostraram que um título de 4,75% para janeiro de 2030 emitido por uma unidade da Sino-Ocean Group Holding caiu quase 15% na segunda-feira, para pouco acima de 75 centavos.
A Sino-Ocean é avaliada como “BBB-” pela Fitch Ratings e tem uma classificação “Baa3” da Moody’s Investors Service.
Os economistas da Nomura, Ting Lu e Jing Wang, disseram em uma nota que esperavam pressões de reembolso “muito maiores” sobre as incorporadas nos próximos trimestres, quase dobrando de US$ 10,2 bilhões no quarto trimestre de 2021 para US$ 19,8 bilhões e US$ 18,5 bilhões no primeiro e segundo trimestres de 2022, respectivamente.
“Com a piora da situação do setor imobiliário, podemos ver uma volta de calotes onshore por parte das incorporadoras, e os preços dos títulos nos mercados onshore e offshore podem impactar cada vez mais uns aos outros, já que os investidores estão em alerta”, disseram eles.
“Acreditamos que os reguladores provavelmente intensificarão os esforços para evitar o aumento da inadimplência no mercado da China (em títulos comerciais offshore em dólares)”.
Em outubro, os reguladores disseram às incorporadoras que se preparassem proativamente para o pagamento dos seus títulos estrangeiros e dos juros e “mantivessem em conjunto suas próprias reputações e a ordem geral do mercado”.