Especialistas veem IPCA na meta em 2024, mas pouco espaço para BC acelerar cortes
IBGE divulgou nesta quinta-feira (11) o dado fechado de 2023, com o IPCA a 4,62%, dentro da meta de inflação; Focus projeta que, para 2024, a inflação deve rondar 3,90%
Economistas entrevistados pela CNN dizem que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve permanecer dentro da meta de inflação em 2024. Para os especialistas, contudo, um conjunto de riscos internos e externos manterá a autoridade monetária serena em seus movimentos para cortar juros.
O IBGE divulgou nesta quinta-feira (11) o dado fechado de 2023, com o IPCA a 4,62%, dentro do intervalo da meta de inflação pela primeira vez desde 2020.
O Boletim Focus projeta que, para 2024, a inflação deve rondar 3,90%. A meta para este ano fica entre 1,5% e 4,5%.
Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, o IPCA deve rondar os 4% neste ano. A queda em relação a este ano será, na sua percepção, estimulada pela queda no consumo de serviços. Ele menciona índice da FGV que mede a confiança do setor e registrou recuos consecutivos no final de 2023.
Ainda segundo o especialista, há riscos no horizonte que devem manter o Banco Central (BC) cauteloso, como dúvidas sobre o fiscal do país e o cenário externo — especialmente quanto aos juros dos Estados Unidos.
“Imagino que deva ser um ano de inflação menor, dentro do teto da meta. Mas o Banco Central deve ir aos poucos na condução dos juros, deve manter os cortes neste ritmo, de 0,5 ponto”, disse. A Selic está em 11,75% ao ano.
Economista-sênior da LCA Consultores, Thais Zara crê que a inflação ficará pouco acima do que prevê o Focus, a 4,2%. Para a especialista, os principais riscos se concentram nos alimentos.
“Os riscos para a inflação em 2024 decorrem de possíveis choques sobre a oferta de alimentos, tanto pela reversão cíclica após a deflação vista em 2023 quanto pelos efeitos decorrentes do El Niño”, indica.
Para a professora de economia da PUC-SP Cristina Helena de Mello, deve-se observar a firmeza das previsões do Focus para o IPCA, que se repetem há semanas. Ela vê as maiores incertezas no cenário internacional e destaca o aumento de custos de transporte de mercadorias, puxada, por exemplo, pela crise no Canal de Suez.
Outro destaque, para a especialista, é o impacto que a promulgação da reforma tributária terá sobre os preços. “Isso seguramente vai moldar o comportamento de preços relativos. Como não temos segurança sobre a regulamentação, deve haver impactos em modelos preditivos”, aponta.
IPCA de dezembro traz alertas
Apesar de o olhar positivo sobre o acumulado do ano, os especialistas destacam “sinais de alerta” que constam na divulgação de dezembro. A difusão aumentou de 51% para 65%, e a média dos núcleos subiu de 0,18% para 0,45%.
Em dezembro, a inflação do país foi de 0,56%, sexto mês seguido em alta. Tanto o número do ano quanto o do mês vieram acima do esperado pelo mercado, de 0,48% e 4,56%, respectivamente.
Para Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, estas surpresas não devem mudar o plano de voo do BC, “mas reduz as chances de uma aceleração no ritmo de cortes de juros”. O C6 projeta Selic de 9,25% e inflação de 5,3% ao final de 2024.
André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP, reitera a surpresa negativa e indica que os juros futuros de curto e médio prazo passaram a variar para cima após a divulgação, com destaque para o vértice de 2026, que chegou a aumento de 0,57%.
“Apesar disso, o resultado do IPCA de hoje não deve mudar as perspectivas do BC para próxima reunião, que deve seguir a sinalização de reduzir a Selic ao passo de -0,5%”, disse.
Sérgio Vale, Economista-chefe MB Associados, destaca que visto a meta de 3% e teto de 4,5%, e ainda há o risco esse ano de a inflação ficar no limite do teto. “Reforço o ponto que a Selic não deveria cair muito além dos 9,25% que esperamos.
Histórico
Para o ano passado, o BC perseguia o centro de 3,25%, sempre com banda de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para cima ou para baixo.
O desempenho deixa o IPCA 0,13 p.p abaixo do teto da meta, o segundo resultado mais apertado da série histórica, iniciada em 1999.
Em 2014, a inflação fechou em 6,41%, 0,09 p.p. abaixo do limite máximo de 6,50%.
O resultado interrompe a sequência de dois anos seguidos de estouro do teto da meta.
Em 2021, o IPCA encerrou com alta de 10,06% — o maior patamar desde 2015 —, refletindo o caos que tomou conta da economia global pelos efeitos da pandemia da Covid-19.
Para aquele ano, o BC tinha meta de 3,75%.
Em 2022, com o arrefecimento dos efeitos da crise sanitária, a inflação brasileira desacelerou para 5,79%. Apesar da perda de fôlego, não foi o suficiente para ficar dentro dos limites impostos à autoridade monetária, com centro de 3,50%.
Os estouros das metas ocorreram à revelia dos esforços do Banco Central em subir os juros para controlar os preços, tirando a taxa básica de 2% no início de 2021 para 13,75% ao fim de 2022 — injeção de 11,75 p.p.
Nos 24 anos de vigência do plano de metas para a inflação, o BC não cumpriu em sete: 2001, 2002, 2003, 2015, 2017, 2021 e 2022.
Quando isso ocorre, o presidente da autoridade monetária deve entregar uma carta ao ministro da Fazenda e ao CMN explicando os motivos para o não cumprimento da meta.