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    Especialistas têm dúvidas sobre ritmo da indústria

    Há dúvidas sobre o ritmo da retomada porque parte do crescimento recente pode ser artificial, turbinado por medidas do governo, como o auxílio emergencial

    Vinicius Neder, colaboraram Gregory Prudenciano, Maria Regina Silva e Thaís Barcellos, , do Estadão Conteúdo

    O crescimento de 0,9% na produção em dezembro ante novembro confirmou a recuperação da indústria após o baque com a Covid-19 e deu viés de alta para a atividade econômica no fim de 2020, mas economistas têm dúvidas se dá para manter o ritmo em 2021. Segundo dados de ontem do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial terminou o ano 3,4% acima do nível de fevereiro, antes da pandemia. Só que a trajetória recente já não era motivo de comemoração.

    Mesmo após oito meses seguidos de alta, o nível da produção ficou 13,2% abaixo do recorde da série histórica do IBGE, em maio de 2011. A produção encerrou 2020 no mesmo patamar de dezembro de 2017, quando a economia começou a se recuperar lentamente da recessão de 2014 a 2016. A retomada tampouco foi suficiente para evitar o tombo de 4,5% no acumulado do ano ante 2019. Naquele ano, já tinha havido uma queda de 1,1% ante 2018.

    “É uma sequência de resultados positivos, há um perfil disseminado de recuperação, mas o setor industrial tem um espaço ainda muito importante para recuperar. Não só por causa da pandemia, vem de alguns anos. Tanto que é segundo ano de queda”, afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

    Há dúvidas sobre o ritmo da retomada porque parte do crescimento recente pode ser artificial, turbinado por medidas do governo, como o auxílio emergencial, que são insustentáveis no médio ou longo prazos, segundo alguns economistas. O cenário de 2021 começa com a perspectiva de fim do auxílio, a inflação pressionada e uma segunda onda da pandemia. Tudo isso enquanto o processo de vacinação segue incerto, analisou Luana Miranda, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

    “Grande parte dessa alta deve-se a um nível de artificialidade (estímulos). A ideia é que esses efeitos diminuam em 2021, apesar de o País ter iniciado a vacinação contra a Covid-19, o que não se tinha em 2020”, disse Alexandre Almeida, economista da CM Capital Markets.

    Segundo Macedo, do IBGE, além das medidas para mitigar a crise, a retomada foi ajudada pelo deslocamento da demanda de serviços para bens. Com os contatos sociais restritos por causa da pandemia, muitos consumidores ficaram impedidos de gastar com serviços presenciais, mas, de casa, continuaram comprando desde produtos básicos, como alimentos, até duráveis, como móveis e eletrodomésticos.

    O efeito desse deslocamento, apoiado pelas medidas de transferência de renda, como o auxílio emergencial, apareceu nos números médios de 2020. A produção geral recuou 4,5% ante 2019, mas em 6 dos 26 ramos industriais investigados pelo IBGE o desempenho anual ficou no positivo.

    As principais influências positivas em 2020 vieram de produtos alimentícios (alta de 4,2% no ano) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,4%). Os demais ramos com alta no ano passado foram fumo (10,1%), perfumaria e produtos de limpeza (2,7%), farmacêuticos (2,0%) e papel e celulose (1,3%). Conforme Macedo, também fecharam o ano no positivo produtos específicos como eletrodomésticos e eletroportáteis e materiais de construção, como ladrilhos e cerâmica.

    “Isso fez parte de 2020. Agora, como isso vai se comportar mais à frente, não sabemos”, afirmou o pesquisador do IBGE. “A ausência do auxílio (emergencial), na medida em que alcançou boa parcela da população, é algo que preocupa e vai definir muito dos rumos não só da indústria, como da economia em geral (em 2021)”, completou Macedo. Ele lembrou que o elevado desemprego ainda impõe uma barreira ao aumento da demanda por consumo.

     

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