Eólica no mar e hidrogênio verde permitem reduzir custos de geração de energia, diz Joaquim Leite à CNN
"Brasil tem costa com ventos constantes, sem tempestade. Isso possibilita geração de energia eólica offshore, 100% limpa, uma das mais baratas do mundo", afirma ministro do Meio Ambiente
Em entrevista à CNN, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, falou sobre as oportunidades de investimento em tecnologias sustentáveis de geração de energia no país.
“O Brasil tem uma oportunidade que surge da eólica offshore (no mar), pelo volume de produção de energia eólica offshore que pode ser feita no Brasil. O Brasil tem uma característica natural que é uma costa com ventos constantes, mas sem tempestade. Isso dá a ele a possiblidade de geração de energia eólica offshore, 100% limpa, uma das mais baratas do mundo”, disse.
“Essa energia pode ser transformada em hidrogênio, que é o combustível do futuro e assim ser exportada, através do hidrogênio para países como Alemanha, que nesse momento precisa substituir sua energia”, completou.
O ministro avalia que o investimento na área permitirá reduzir os custos da geração de energia no país.
“Nós já temos um recorde de energia eólica onshore, em terra, de 21 gigawatts, e solar, de 14 gigawatts. A solar é um belo exemplo de que você pode gerar sua própria energia de maneira descentralizada, reduzindo o custo dessa energia”, disse Leite.
“São essas tecnologias novas e eu acho que essa oportunidade, quando a gente fala de eólica offshore, são 200 bilhões de dólares de investimento. Isso com certeza reduzirá o custo dessa energia para conseguir fazer com que a energia no Brasil fique mais barata”, completou.
Leite defendeu a busca por soluções que sejam lucrativas e, ao mesmo tempo, benéficas para o meio ambiente.
“Hidrogênio verde você vai ter uma possibilidade de utilizar um combustível 100% limpo, também tem que chegar no ponto de ser mais barato que o combustível fóssil. Temos que achar soluções climáticas lucrativas para os empreendedores, para as pessoas e para a natureza. Essa é a fórmula correta de criar uma nova economia verde global, neutra em emissões até 2050″, disse.
O ministro afirmou, ainda, a necessidade de aceleração na área. “Esse é um desafio que nós temos que acelerar. Hoje, é mais barato utilizar biometano do que o óleo diesel. Essa substituição é importante, onde você reduz o custo para a população”, disse.
“É assim que nós vamos fazer com que aconteça uma nova economia verde de forma global e transformar também a qualidade de vida das pessoas, as duas coisas têm que acontecer ao mesmo tempo”, concluiu.
O que é o hidrogênio verde?
O gás hidrogênio é visto como uma alternativa eficiente, tendo um grande potencial energético e aplicação em setores cuja descarbonização não passa por outras fontes de energia renovável, como a eólica e a solar.
Hoje, o gás ainda é produzido usando principalmente fontes de energia não renováveis e poluentes, mas há possibilidade de expansão do uso de fontes renováveis nessa produção, gerando o chamado hidrogênio verde.
Esse tipo de hidrogênio é considerado a “energia do futuro”, com potencial de uso em diversas áreas, do transporte à indústria. Para especialistas, os custos elevados ainda impedem a disseminação, mas isso deve se reverter nos próximos anos, e o Brasil possui condições para se beneficiar dessa nova tendência.
O hidrogênio é o elemento químico mais abundante na natureza, mas é também um dos mais reativos. Isso significa que é difícil encontrá-lo sozinho, e o mais comum é que ele componha outras substâncias, como uma série de gases e a água, a forma mais encontrada.
No caso do hidrogênio verde, as moléculas de água são separadas, a partir de um processo chamado eletrólise. Nela, uma corrente elétrica passa pela água e separa os átomos de hidrogênio e oxigênio, resultando na formação dos dois gases.
O hidrogênio verde apresenta algumas vantagens. Primeiro, pode ser usado em setores onde a aplicação de outras energias renováveis não resolveriam toda a necessidade de reduzir emissões. Segundo, não é intermitente ou dependente do clima, como as fontes eólica, solar e hídrica. Além disso, a sua produção pode usar o excedente gerado por essas fontes, que hoje não possui uso.
Como funciona a energia eólica offshore
A energia eólica usa os ventos para geração de energia. Além da presença de turbinas em terra, é possível colocá-las também no mar, caracterizando a energia eólica offshore.
Essa forma de energia é mais disseminada na Europa e na Ásia, mas começa a dar seus primeiros passos no Brasil, com pedidos de autorização para parques eólicos no mar e um decreto do governo federal permitindo esse tipo de geração.
A principal distinção entre a eólica onshore e a eólica offshore é o local em que a turbina com pás ficará instalada – em terra ou no mar. Segundo Segen Estefen, professor da UFRJ, a energia eólica offshore se tornou um “próximo passo” conforme o tamanho das turbinas foi aumentando, assim como o potencial de geração.
Em terra, a capacidade máxima de geração das turbinas chega a 5,6 megawatts (MW). Em mar, há projetos apontado uma capacidade de quase o dobro, 12 MW, e alguns testes chegam a 15 MW.
“Quando cresce muito a potência da turbina, paralelemente tem que aumentar os tamanhos das pás, que atingem hoje envergaduras de até 100 metros, e precisam ter estruturas tendo que suportar pás nesse comprimento. Isso fica inviável para transporte em terra, por transporte rodoviário ou ferroviário”, diz.
A alternativa, então, é instalar a turbina em áreas mais amplas e de transporte mais simples, como o oceano. A partir daí, o princípio é o mesmo, as pás giram com o vento e movem um rotor, que então gera a energia.
Outra vantagem da eólica offshore, afirma Estefen, é que os ventos no mar encontram obstáculos menores. “Não tem montanhas, por exemplo, que barram a ação dos ventos, então, normalmente as condições são de maior intensidade e constância na atuação dos ventos”.
No mundo, já existem hoje parques eólicos offshore na Europa e na Ásia, em geral até um limite oceânico de 80 metros de profundida. Nelas, as turbinas são instaladas com pilares que vão até o fundo do mar.
(*Publicado por Lucas Rocha, com informações de João Pedro Malar, do CNN Brasil Business e Lourival Sant’Anna)