Prime Time

seg - sex

Apresentação

Ao vivo

A seguir

    Entenda o que puxou o dólar para acima de R$ 5 em setembro

    Definições de taxas de juros no mundo todo, além de dados econômicos americanos, movimentaram a divisa no mês

    Iasmin Paivada CNN , São Paulo

    O dólar fechou o último pregão de setembro com queda de 0,72%, negociado a R$ 5,027. O resultado desta sexta-feira (29) fez a divisa norte-americana encerrar o mês com avanço de 1,51%.

    Especialistas ouvidos pela CNN pontuam que o movimento reflete cautela no cenário internacional, sobretudo alta dos juros nas principais economias e dúvidas com a China, e atenção doméstica com a situação fiscal do governo federal.

    “A moeda americana se beneficiou destes eventos, principalmente porque a economia dos EUA está ignorando a fraqueza econômica vista em outros lugares e os dados estão surpreendendo positivamente”, pontua Eduardo Moutinho, analista de mercado da Ebury.

    Em paralelo, Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, destaca que o mundo também enfrentou uma grande variação no preço das commodities, já que grandes países produtores de petróleo começaram a cortar as atividades, refletindo no aumento dos preços.

    “A inflação vem convergindo para o teto da meta, mas com o petróleo em nível mais alto, o custo do transporte passa a ser um fator preocupante para a inflação em vários países, portanto, afeta diretamente as taxas de juros e, consequentemente, a atuação dos players no câmbio.

    A maior parte do mês foi de indefinição na moeda, que chegou a performar na faixa de R$ 4,80. O viés de alta foi deflagrado veio após a definição do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) em manter os juros entre 5,25% e 5,5%, no dia 20.

    A decisão já era antecipada pelo mercado, que prestou mais atenção no discurso de Jerome Powell, presidente da entidade, sinalizando para mais aumento da taxa ainda neste ano.

    Moutinho ressaltou que o Fed indicou em seu “gráfico de pontos” de setembro que não apenas outro aumento das taxas dos EUA é uma possibilidade, como também continua sendo o cenário base do comitê.

    Dólar a R$ 5?

    Daqui para frente, o cenário é de incerteza e expectativas em relação ao futuro da economia dos Estados Unidos, aponta Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

    “Dentre os eventos que geram esse movimento, temos a narrativa do Fed sobre o ciclo de aumento das taxas de juros. Não sabemos o fim do aperto monetário será mais suave ou mais agressivo”, explica o analista.

    Moutinho, da Ebury, explica também que existe um movimento de procura por segurança dos investidores globais por conta dos temores com setor imobiliário chinês. 

    O segmento, que é um dos principais pilares da segunda maior economia do mundo, recentemente está dando sinais de alerta e tirando o sono dos investidores diante do risco de contaminação para outras atividades.

    “[Os investidores globais] querem moedas mais fortes, como o dólar, e os EUA se destacam pela resiliência da economia americana. A China e a zona do euro ainda têm resultados muito negativos, enquanto dados dos EUA surpreendem positivamente”, pontua.

    Sobre a questão dos juros nos EUA, Moutinho aponta que o ciclo de aperto monetário já chegou ao fim.

    “Quando os mercados entenderem que o Fed não vai aumentar os juros, o dólar vai sofrer pressão de baixa no médio prazo”, avalia. 

    Cenário interno

    Lourenço pontua que o dólar não deve ter força para superar os R$ 5 em 2023, principalmente por conta do cenário da economia interna, impulsionado por commodities.

    “Essa é uma barreira psicológica que aponta o quanto o mercado está otimista com o Brasil, e vemos um cenário mais positivo para o país por conta do setor agrícola”, explica.

    O especialista pontua que, sem pioras no quadro econômico americano — que podem desvalorizar o real frente ao dólar —, as condições internas são favoráveis para um câmbio abaixo de R$ 5.

    Por outro lado, Petrokas, da Quantzed, ainda cita alguns elementos domésticos que também estão favorecendo a desvalorização do real.

    É o caso do início do ciclo de queda na Selic, que reduz o carry trade — diferencial de juros entre dois países — e afasta o capital estrangeiro.

    A pauta política também pode trazer mais pressões sobre o câmbio, principalmente se os investidores começarem a enxergar sinais de instabilidade;

    Por isso, o especialista não descarta a possibilidade do dólar negociando a R$ 5 até o fim do ano, caso o cenário interno se deteriore de forma expressiva.

    “Por outro lado, caso haja alguma mudança repentina e positiva no cenário interno, a faixa entre R$ 4,60 e R$ 4,80 pode ser um patamar de equilíbrio para o par de moedas”, avalia.

    Veja também: Dólar fecha em R$ 4,73 e atinge menor valor desde abril de 2022

    Tópicos