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    Entenda o empréstimo de US$ 1 bilhão para Argentina, às vésperas da eleição, avalizado pelo Brasil

    Movimentação é tida como uma movimentação do governo brasileiro em apoio ao candidato governista, Sergio Massa

    Amanda Sampaioda CNN , em São Paulo

    Às vésperas das eleições presidenciais na Argentina, governo brasileiro autorizou um empréstimo de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 5 bilhões) do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF) ao país. A informação foi publicada pela colunista Vera Rosa no jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela CNN.

    A publicação revelou que Lula teria interferido para liberar o crédito, que ajudou na renegociação da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e favoreceu o candidato peronista Sergio Massa.

    No entanto, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, negou interferência do presidente na tramitação.

    “Lula não me ligou”, disse Tebet à CNN. “Despachei com minha secretária de assuntos internacionais, que disse que os demais países votariam a favor”, completou.

    Segundo apuração da CNN, a Argentina apresentou o pedido de US$ 1 bilhão de empréstimo ao CAF no dia 28 de julho, com o compromisso de devolver o dinheiro no mês seguinte. O empréstimo foi pago dia 25 de agosto.

    O dinheiro seria utilizado para pagar a parcela atrasada para o FMI, que, por sua vez, liberaria mais recursos aos argentinos, que quitariam com a CAF. A operação tinha aval do FMI e do Banco Central argentino.

    Na votação do diretório da CAF, o empréstimo foi aprovado com 19 votos a favor e 2 contra. Ambos os votos contrários foram do Peru, que tem peso duplo.

    A professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Regiane Bressan, explica que o empréstimo foi feito via CAF porque os bancos não têm autonomia para fazer esse tipo de empréstimo.

    “Isso tem que ser feito por um banco regional. O CAF era o antigo Banco da Comunidade Andina, que se tornou o Banco de Desenvolvimento da América Latina. O Brasil é o quarto maior participante em volume de recursos e tem quase 10% de capital no banco, sendo a quarta maior participação”, afirma.

    Para Regiane, o empréstimo foi feito em uma medida de urgência e de “muita necessidade”. No entanto, ela avalia que o valor do empréstimo não é suficiente para resolver os problemas econômicos da Argentina.

    “É claro que isso ameniza um pouco as dificuldades do governo de Alberto Fernández, mas isso nem de longe é o suficiente para mudar o cenário político e muito menos o quadro trágico econômico que o país enfrenta”, diz.

    Para a professora, a medida se tratou de uma “ajuda” entre países, sem interesses políticos.

    “Eu não acho que o Brasil é esteja acenando como um apoio paro Alberto Fernández. Isso não tem cunho político, mas sim um cunho de ajuda regional, que o Brasil já deveria ter feito […] Não vai ser esse presidente ou próximo que vai resolver o problema econômico. O próximo vai pegar o país em frangalhos”, avalia.

    Já Denilde Holzhacker, professora de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), acredita que o empréstimo teve interesses eleitorais.

    “O governo brasileiro tem um uma preocupação, e foi um pedido de Massa como ministro da Economia, ele veio ao Brasil, e ele pediu que o Brasil tivesse algum tipo de linha de crédito, alguma ação para garantir que a Argentina tenha um fluxo de recursos. Então deve estar dentro dessa negociação”, diz.

    O governo brasileiro tem preocupação com uma possível vitória do ultradireitista Javier Milei, entre outros motivos, pelos posicionamentos do candidato em relação ao Mercosul.

    “O empréstimo é uma forma de garantir, em primeiro lugar, que a Argentina continue tendo, de forma imediata, condições de cumprir com suas obrigações financeiras. Isso é um ponto para o Brasil. O outro é também é fortalecer a posição de Massa junto à sua opinião pública interna. Isso acaba tendo um papel direto e influenciando o processo eleitoral”, explica.

    Denilde avalia que essa movimentação não é algo comum na política externa brasileira.

    “Normalmente, em períodos eleitorais, o Brasil tem o hábito de não fazer nenhum movimento, exatamente para não parecer que está tendo algum apoio explícito a um ou outro candidato. Então, é uma questão que foge da nossa tradicional forma de lidar com processos internacionais”, conclui.

    *Com informações de Raquel Landim, da CNN.

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