Efeitos do Ozempic atrapalham mercado de vestidos de noiva nos EUA

Distorções de preços e disfunções não são nenhuma novidade na indústria de casamentos de US$ 73 bilhões.

Mas a explosão de medicamentos para perda de peso na década de 2020 criou um obstáculo extra para as costureiras e designers responsáveis ​​pela peça central do grande dia: o vestido de noiva.

O segredo de Hollywood para perda de peso foi revelado, e está mais acessível do que nunca.

Os medicamentos GLP-1, conhecidos pelas marcas Ozempic e Wegovy, tornaram-se amplamente disponíveis, em parte por meio de farmácias de manipulação que oferecem versões mais baratas e não aprovadas pela FDA, a agência reguladora do setor nos EUA.

(A FDA alertou os consumidores sobre os riscos associados aos medicamentos GLP-1 não aprovados, e um relatório recente da JAMA Network descobriu que uma demanda imensa estimulou uma onda de farmácias online ilegais vendendo os medicamentos sem receita.)

A demanda por esses medicamentos deve crescer ainda mais, à medida que os empresas estão cada vez mais considerando cobrir o tratamento para perda de peso — não apenas para diabetes.

“O primeiro problema é a disfunção no setor de noivas atualmente, onde leva de cinco a nove meses para encomendar um vestido”, disse Susan Ruddie Spring, designer e proprietária do serviço de estilo para noivas The Wedding Dresser.

Como muitos setores, a moda nupcial passou por uma calmaria durante a pandemia, seguida por uma onda de demanda conforme os casais remarcavam suas núpcias.

Os pedidos de vestidos que costumavam levar três meses agora estão demorando muito mais, diz Spring, em parte porque os suprimentos da China estão sendo desviados para longe do cenário de violência ao redor do Canal de Suez, uma via vital que representa até 15% do comércio global.

Essa é apenas uma parte da questão do tempo.

O ajuste certo

O momento ideal para comprar um vestido de noiva é de oito a 10 meses antes do evento, de acordo com o site de planejamento de casamentos The Knot, e alguns planejadores recomendam comprar com um ano de antecedência para o caso de atrasos na entrega.

Mas muita coisa pode acontecer com um corpo ao longo de 10 meses, especialmente quando há medicamentos GLP-1 no meio.

Um estudo descobriu que pessoas com obesidade ou sobrepeso perderam até 15% do peso corporal enquanto tomavam tirzepatide, também conhecido como Mounjaro, ao longo de um ano. Aqueles que tomaram semaglutida perderam cerca de 8%.

“Recentemente, tive algumas noivas que perderam cerca de 50 libras [22,7 quilos] com Ozempic”, diz Srping. “Normalmente, o vestido era encomendado em algum lugar no meio dessas 50 libras.”

É difícil exagerar o quanto uma perda de peso tão drástica pode complicar o caimento de um vestido de noiva. As peças são frequentemente estruturalmente intrincadas, pesadas com camadas de contas caras, tule e renda e, claro, sobrecarregadas por montes incomensuráveis ​​de emoção e expectativas sociais.

Essa ansiedade é palpável em vários tópicos sobre casamento e perda de peso no Reddit, onde as noivas buscam conselhos sobre como comprar um vestido — provavelmente a peça mais cara que elas comprarão na vida — quando não têm certeza de como seus corpos estarão depois de alguns meses.

O risco financeiro é real. Embora a maioria dos vestidos possa ser ajustada em vários centímetros, há limites, e noivas que passam por extrema perda de peso podem acabar precisando comprar um vestido totalmente novo.

O vestido de noiva médio foi vendido por US$ 2 mil (R$ 11,2 mil) em 2023, de acordo com The Knot.

Isso antes das alterações, que podem acrescentar centenas ou até milhares à conta. (Vestido e tudo, The Knot descobriu que o casamento americano médio custava US$ 35.000 — R$ 196 mil).

O maior perdedor

O efeito Ozempic também está estressando as costureiras.

Cada cliente e vestido são diferentes, mas Spring diz que, em geral, um vestido típico pode acumular de 20 a 40 horas de trabalho. São três provas de uma hora com o cliente, mais de seis a 12 horas de trabalho entre elas.

Mas noivas que emagrecem rapidamente criam mais trabalho e, neste caso, isso não se traduz necessariamente em mais dinheiro.

A maioria das empresas de alfaiataria cobram das noivas uma taxa fixa para um número definido de ajustes e alterações no início do processo, e as costureiras dizem que não penalizarão as noivas por perderem peso.

“As noivas sempre perdem peso por causa do estresse na preparação para o casamento”, disse Myrna Lundberg, gerente sênior de alfaiataria na Alterations Specialists, em Nova York.

Mas em seus 40 anos de trabalho na indústria, ela diz que a perda esperada de 5 a 10 libras [2,2 a 4,5 quilos] que a maioria das noivas experimenta disparou com a ascensão da Ozempic.

“Isso está realmente afetando nossos negócios, porque são mais provas, mais tempo, mais trabalho — perdemos dinheiro”, disse ela.

Diga sim ao estresse

O fluxo constante de noivas que precisam de alterações drásticas é apenas um dos efeitos colaterais não intencionais da Era Ozempic.

Mas é desproporcionalmente difícil para as mulheres, tanto para a noiva que luta com gerações de expectativas desordenadas em torno do peso, quanto para as pessoas que fazem o trabalho que torna os sonhos tradicionais de vestidos de noiva realidade.

O estresse vai em ambas as direções, diz Spring.

“Para as noivas, essa expectativa de que você vai andar pelo corredor parecendo uma modelo é loucura. E nós fazemos mais trabalho pela mesma quantia de dinheiro”.

Costureiras nos Estados Unidos são esmagadoramente mulheres, ganhando uma renda média de US$ 37 mil [207,2 mil], de acordo com dados do governo.

Elas também são desproporcionalmente mulheres imigrantes, que geralmente são mal pagas, e insiders da moda que falaram com a CNN dizem que muitas mulheres sem documentos estão ganhando salários abaixo da média de forma irregular.

Além do trabalho físico de alterar o vestido, Lundberg observa haver um trabalho emocional.

Os medicamentos GLP-1 podem ser novos, mas o estresse que as noivas sentem em relação aos seus corpos e aos seus casamentos não é.

“A perda de peso sempre foi uma das principais prioridades. Então, precisamos ter muito cuidado com a forma como lidamos com eles”, disse Lundberg. “Não é como se você fosse a costureira deles — é como se você também fosse o psicólogo deles.”

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