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    Eleição nos EUA pode impactar ainda mais o câmbio? Analistas opinam

    Apesar do ambiente externo, especialistas são unânimes ao dizer que o maior problema do real não está na Casa Branca, e sim em Brasília

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business

    O desfecho das eleições norte-americanas, que têm Donald Trump e Joe Biden na disputa pelo cargo mais importante do mundo, é aguardado ansiosamente pelo mercado financeiro. Isso porque, com a economia mundial fragilizada, a liderança dos Estados Unidos será ainda mais importante que o normal em uma futura retomada.

    Além disso, qualquer decisão tomada por lá respinga no mundo inteiro, já que o dólar lastreia a economia internacional e Wall Street é o principal mercado de capitais do globo. Cada um dos candidatos tem plataformas e propostas diferentes, o que faz com que os investidores tenham expectativas distintas para os dois desfechos possíveis. 

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    Pensando nisso, e partindo de uma situação já fragilizada do câmbio brasileiro em relação à moeda americana, o CNN Brasil Business ouviu analistas para tentar entender se o resultado do pleito pode afetar ainda mais o valor do real. Confira alguns cenários abaixo:

    Judicialização do resultado

    Com Biden na frente durante toda corrida eleitoral, analistas afirmam que sua possível vitória “já foi precificada”, ou seja, está refletida nos preços que o mercado vem praticando nos últimos meses. Ao mesmo tempo, Trump já disse várias vezes que levantaria suspeitas sobre o pleito caso perdesse com diferença apertada.

    Nessa linha, Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, enxerga um possível cenário de aversão a riscos. “O Biden estava com vantagem confortável, mas a chegada do Trump pressiona. Se o republicano perder por pouco e judicializar a eleição, podemos entrar num cenário de incertezas que privilegia ativos de segurança”, diz. 

    É sabido que os investidores buscam ativos seguros como o dólar e até o ouro em momentos de risco. Isso é ruim para o real.

    Composição do Senado

    Além das eleições presidenciais, também ocorrem pleitos legislativos nos Estados Unidos, o que deve acarretar uma renovação do Senado e da Câmara de Representantes. Numa hipotética vitória de Biden, o mercado espera que pelo menos uma das Casas legislativas se mantenha no controle dos republicanos, sob pena de ocorrer uma mudança ainda maior na estrutura existente.

    “A composição do Senado ainda não está precificada”, diz Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Digital. “E, com a atual vantagem do candidato democrata, analistas têm sinalizado preferência por um Senado mais republicano, para equilibrar as coisas.” Diferente da votação presidencial, a eleição legislativa é direta, o que pode dar uma vitória ainda mais decisiva aos democratas. 

    Pacotes de estímulos

    Não há, com certeza, assunto mais comentado no mercado financeiro durante o último mês. Um novo pacote de estímulos à economia, discutido por democratas e republicanos nos bastidores e através da imprensa, é tido como essencial para o reaquecimento da maior economia do mundo.

    A coisa é tão aguardada que as bolsas globais tiveram uma série de dias positivos somente antecipando seus efeitos. Frasson acredita que, se o Senado passar a ter maioria democrata, a tendência é que esse pacote venha maior e mais rápido, o que pode não ser tão bom assim para o câmbio do dólar. “Se colocarem dinheiro demais, podem enfraquecer a solidez fiscal do país, o que é ruim para a moeda”, diz. 

    William Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities, entende que pior ainda é não ter pacote nenhum. “Isso surpreenderia muito o mercado e é fator de risco para o câmbio. Em momentos de incerteza o investidor vai para ativos seguros. O real é risco, o Brasil é risco”, afirma.

    Expansão fiscal

    Por mais precificada que esteja uma possível eleição de Biden, todos os analistas citam uma possível expansão fiscal promovida pelo democrata como fator de risco para o mercado de capitais. “No curto prazo é ruim porque ele deve elevar impostos corporativos e pode trazer algumas realizações de lucros”, diz André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos.

    O economista também enxerga, no entanto, um possível respiro para a moeda brasileira em caso de vitória do ex-vice-presidente. “Espera-se que o Biden tenha uma relação melhor com a China. Isso traz uma leitura mais amigável para o real, por conta da valorização da commodities”, explica.

    Problemas internos

    Apesar do ambiente externo afetar consideravelmente o câmbio, os analistas são unânimes ao dizer que o maior problema do real não está na Casa Branca, e sim em Brasília. Frasson, do BTG, afirma que esperava um Copom “mais conectado com os fatos” e que o BC “foi complacente com a involução fiscal do país”.

    Ele diz ainda que o país precisa correr contra o tempo para aprovar reformas. “Não votamos nem a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2021, o que normalmente é feito em setembro. Com tantas incertezas, as agências de rating podem aumentar ainda mais o cenário de risco para o Brasil.”

    Na mesma linha, Velloni, da Frente Corretora, enxerga o endividamento público descontrolado e uma segunda onda do coronavírus pressionando o teto de gastos em 2021. “O governo vai precisar se coçar para mostrar mais boa vontade e fazer uma política monetária mais forte”, diz. 

    Com isso, e esperando ajuste da taxa de juros no primeiro trimestre de 2021, a Necton enxerga o dólar num patamar de R$ 6 no final do ano. “Se observada a taxa básica de política monetária e dela subtrairmos o CDS (uma medida de risco comum) e também subtrairmos a taxa de juros do FED, a taxa brasileira é negativa sendo que a da maioria dos nossos pares é amplamente positiva”, diz Perfeito.

    “Isto impõe um risco assimétrico para o investidor externo: por mais que hajam boas oportunidades no mercado brasileiro o risco de se perder na variação do dólar é muito grande, logo se prefere esperar.”

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