Economia aquecida em 2024 não sustenta argumento de alta da Selic, diz ex-Credit Suisse
Comitê de Política Monetária do Banco Central se reúne na próxima quarta-feira (18) para decidir os rumos da política monetária
A poucos dias da decisão do Banco Central (BC) sobre a taxa básica de juros, grande parte dos analistas esperam uma nova alta, mas se dividem sobre qual será a magnitude e os argumentos que serão utilizados pela autarquia em seu comunicado para balizar o veredito.
Na avaliação do economista Nilson Teixeira, ex-Credit Suisse, a autoridade pode se basear em dois principais fatores para sustentar a decisão monetária: a expansão fiscal e a atividade econômica aquecida – duas dinâmicas que pressionam a inflação.
No entanto, para Teixeira, essa linha de raciocínio teria de considerar que a pressão sobre a economia continuaria crescendo no longo prazo. Contudo, não é isso que mostram as expectativas do mercado.
Em alta no Boletim Focus, as expectativas para o crescimento em 2024 já chegam em 2,68%. Para 2025, porém, caem para 1,9%. O mesmo se pode observar em relação à inflação, cuja a taxa deve encerrar o ano em 4,30%, segundo as previsões, e em 2025, a 3,92%;
“Vão dizer que a atividade está forte, mas o que acontece é que os números do 2º trimestre, que vieram fortes, não devem impactar na inflação. É preciso observar se as previsões de crescimento vão estar mais fortes. E não estão. Todos os analistas estão dizendo que haverá desaceleração da atividade e que os estímulos fiscais não estarão mais presentes”, explica.
Com relação ao mercado de trabalho, o economista também vê uma redução do ritmo de contratações e do incremento dos salários.
Dessa forma, uma desaceleração como está sendo prevista pelo mercado a partir do segundo semestre poderia promover uma redução das pressões inflacionárias.
Enquanto no segundo trimestre a economia apresentou um bom desempenho ao avançar 1,4%, os dados preliminares do início do segundo semestre já apontam uma desaceleração. Na sexta-feira (13), o IBC-Br, indicador considerado como uma “prévia do PIB”, mostrou uma retração de 0,4% da atividade em julho, a primeira após quatro meses.
Com relação à política fiscal, Teixeira argumenta que as previsões para o déficit primário em 2025 e 2026 são menores do que o esperado para este ano. Ou seja, a dinâmica das contas públicas também não sugere, no presente, maior pressão inflacionária.
O ex-Credit Suisse entende que a calibração da taxa de juros com base no hiato do produto se tornou mais desafiadora, tendo em vista o aumento das incertezas relacionadas ao crescimento potencial e às razões dos dados subestimados da expansão da economia. Nesse sentido, Teixeira defende a necessidade de o Banco Central observar outros determinantes da inflação para construir um cenário mais seguro sobre os preços.
Outro fator citado que pode contribuir para a redução da inflação é o movimento contrário dos bancos centrais em países desenvolvidos de reduzir os juros.
Essa semana, o Banco Central Europeu anunciou um novo recuo das taxas em meio à desaceleração da inflação e um crescimento fraco. Além disso, uma queda dos juros nos Estados Unidos também é dada como certa para semana que vem, quando o Federal Reserve (Fed, na sigla em inglês) se reunirá.
“Se você mantém inalterados os juros e todos os outros estão reduzindo as taxas porque a inflação está em declínio, é natural esperar que isso também contribua para a inflação no Brasil recuar”, diz.
Apesar de elencar esses argumentos e considerá-los frágeis para explicar uma alta dos juros, Teixeira não enxerga como equivocado um eventual ciclo de ajuste da Selic, principalmente se o objetivo do BC for alcançar de forma mais rápida a meta de inflação – atualmente fixada em 3%.