É necessário cortar despesas para abrir espaço no Orçamento, diz Meirelles à CNN
Em entrevista nesta quinta-feira (17), o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu podar gastos mal-alocados para "compensar o aumento de despesas necessárias"
Em entrevista à CNN nesta quinta-feira (17), o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, defendeu podar gastos mal-alocados para “compensar o aumento de despesas necessárias”, oriundos de um “péssimo Orçamento“.
“É necessário aproveitar um espaço importante que existe para corte de despesas. Por exemplo, em São Paulo fechamos empresas que já tinham perdido a finalidade de existir e isso gerou um saldo enorme, de mais de R$ 50 bilhões”, disse Meirelles ao CNN Novo Dia.
“No governo federal tem muitas outras coisas. Vamos supor: uma empresa criada para construir um trem-bala há dez anos, mas esse trem-bala se tornou inviável e a empresa continuou existindo. Existem muitas outras nessa situação. É possível agora entrar em uma segunda etapa, depois de definir os gastos essenciais, que é cortar despesas para compensar e abrir espaço para o aumento de despesas necessárias, que vêm em função desse péssimo Orçamento.”
A defesa de Meirelles vem na esteira de um discurso do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, na COP27, disse que “tudo que o teto de gastos faz é tirar dinheiro da saúde, da educação, da cultura”.
“Você tenta desmontar tudo aquilo que faz parte do social e você não tira um centavo do sistema financeiro. Se eu falar isso, vai cair a bolsa, o dólar vai aumentar, paciência. O dólar não aumenta e a bolsa não cai por conta das pessoas sérias, mas por conta de especuladores que vivem especulando todo santo dia”, disse o presidente eleito, no Egito.
Meirelles, visto como uma das âncoras “ao centro” do governo petista, disse que a fala de Lula sobre a retirada de recursos para saúde e cultura, por exemplo, foi “inverdadeira”.
“Isso não é verdade. É uma má informação, questão de assessoria. Lula é muito sábio e fez um governo de muito sucesso, e continuo acreditando que ele vai fazer um governo de muito sucesso. Agora, ele vai precisar ter acesso a todas as informações”, avaliou o ex-ministro da Fazenda, considerado “pai” do Plano Real.
Essas informações, segundo ele, viriam de economistas e especialistas mais “realistas” que estão ao lado do presidente eleito para assessorá-lo, como Pérsio Arida, Armínio Fraga e ele próprio.
“Quando se fala em saldo primário, não é para pagar juros. Quando o governo vai pagar juros, ele emite títulos do Tesouro Nacional, capta recursos aqui e paga ali. O governo não economiza para pagar juros. Por outro lado, é importante mencionar que de fato tem havido cortes na Cultura e outros setores. O que existe é um direcionamento de recursos para emendas de relator, Orçamento Secreto e outros gastos que não são prioritários, mas que foram politicamente importantes para o atual presidente se manter no poder.”
Meirelles reforça que o teto de gastos existe para “definir prioridades”.
“Temos que cortar despesas desnecessárias, que não estão sendo cortadas pelo governo atual, e, a partir daí, gerar recursos para aplicar nas áreas fundamentais, como educação, cultura, saneamento e problemas sociais.”
Confira a íntegra da entrevista no vídeo acima.