Dólar paralelo bate recorde na Argentina e cotação passa de 1.000 pesos
Negociado fora do mercado formal, o dólar “blue” atinge o maior valor a poucos dias das eleições presidenciais do país
A 12 dias das eleições presidenciais na Argentina, o dólar paralelo, também conhecido como dólar “blue”, bateu o recorde nesta terça-feira (10) e está sendo negociado a 1.035 pesos (R$ 15,00), segundo o jornal Clarin.
Este valor é 90 pesos acima do preço de fechamento de segunda-feira (9).
Na segunda, a corrida cambial se intensificou, e o dólar “blue” aumentou 65 pesos, quase o equivalente à variação de 70 pesos que sofreu durante todo o mês de setembro.
Uma declaração do candidato ultradireitista Javier Milei, favorito para a eleição presidencial de 22 de outubro, fez o Banco Central argentino emitir um comunicado para tranquilizar a população.
Milei disse que os argentinos não deveriam manter suas rendas fixas em moeda nacional.
O comunicado do BC da Argentina destacou que “o sistema financeiro argentino apresenta uma sólida situação de solvência, capitalização, liquidez e aprovisionamento”.
“A política monetária desenvolvida pelo Banco Central procura manter o poder aquisitivo das economias através da remuneração de rendas fixas, cuja taxa se define mensalmente ou são atualizados pela inflação, mais uma remuneração de 1%”, diz o texto.
O BC ressaltou ainda que “a economia dos argentinos depositada no sistema financeiro está protegida por um seguro de depósito e pelo papel do Banco Central que atua como credor de última instância”.
Dólar fortalecido
A corrida cambial acontece em um contexto de fortalecimento do dólar no mercado internacional nos últimos meses, de excesso de pesos argentinos na economia e de grande nível de incerteza sobre a política econômica do próximo governo, explica o economista Martín Kalos, diretor da EPyCA Consultores.
“O fato de Milei continuar prometendo que vai dolarizar e que esse é seu único plano econômico de estabilização faz com que os tipos de câmbio pareçam baratos hoje”, diz Kalos.
Ele calcula que, para dolarizar — caso o Banco Central consiga os dólares para isso — seria por uma cotação de pelo menos de 3 mil pesos por dólar “no cenário mais conservador”.
Para o economista Matías De Luca, da consultora LCG, a atual corrida por dólares acontece pela antecipação da possibilidade de vitória de Milei.
“A corrida teve início na semana passada, mas ontem teve um debate, e as pessoas já começam a consolidar a ideia de que provavelmente o MIlei será presidente e a declaração dele termina de ativar o mecanismo de autodefesa das pessoas” analisa.
Traumatizados com uma sequência de crises, a população da Argentina costuma recorrer ao dólar como refúgio para proteger suas economias da desvalorização do peso.
Muitos ainda guardam o dinheiro em casa, ou alugam cofres externos para guardar as notas.
A estimativa é que os argentinos tenham entre US$ 200 bilhões (cerca de R$ 1 bilhão) e US$ 400 bilhões (cerca de R$ 2 bilhões) fora do sistema financeiro do país, seja em divisas estrangeiras no país ou no exterior.