Divergências sobre expansão dos Brics vão dominar cúpula na África do Sul
China e Rússia pressionam grupo para anunciar novos países membros durante encontro de líderes
A Cúpula de Líderes dos Brics vai ser dominada por discussões e divergências relacionadas à possível expansão do grupo.
China e Rússia estão pressionando os demais integrantes do bloco (Brasil, Índia e África do Sul) a acelerar o processo de adesão de outros países candidatos.
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Pequim e Moscou gostariam de anunciar formalmente a expansão já durante o encontro, que acontece entre os dias 22 e 24 de agosto, em Joanesburgo, com as presenças dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Xi Jinping (China) e Cyril Ramaphosa (África do Sul) e do primeiro-ministro Narendra Modi (Índia).
Evitando ser preso por causa de um mandado de prisão por crimes de guerra do Tribunal Penal Internacional (TPI), o presidente russo Vladimir Putin vai participar por teleconferência.
Impacto da geopolítica
A ampliação do bloco vem sendo discutida há anos, mas tomou grande impulso recentemente por conta da disputa geopolítica cada vez mais acirrada entre China e Estados Unidos, as duas maiores economias do mundo, e pelo isolamento da Rússia por causa da invasão da Ucrânia.
Os chineses pretendem usar o grupo ampliado como plataforma para projetar sua influência no mundo. E também como alternativa às organizações globais que eles consideram dominadas pelo ocidente, como a ONU, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros órgãos multilaterais.
No caso da isolada Rússia, Putin aposta em qualquer iniciativa que possa ampliar o número de amigos em qualquer parte do mundo.
O interesse em aderir ao bloco foi confirmado oficialmente por 22 governos. Entre eles, várias ditaduras renegadas, como Arábia Saudita, Belarus, Cuba, Irã, Venezuela e Vietnã.
As divergências
Os outros três países dos Brics, no entanto, têm posições diferentes sobre a questão.
Fontes do Itamaraty disseram à CNN que o Brasil quer definir critérios muito claros para determinar que países poderiam ingressar no bloco, e em que momento.
“Há mais de 20 candidatos, no mínimo precisamos organizar o fluxo de entrada deles”, disse um alto diplomata à CNN.
Um dos critérios defendidos pelo Brasil seria o compromisso de qualquer candidato defender uma reforma ampla do sistema de governança global, especialmente a ONU e o seu Conselho de Segurança.
O presidente Lula defendeu várias vezes essa reforma e quer que o Brasil tenha um assento permanente no Conselho de Segurança.
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Entrada em banco
Um outro critério pode ser a adesão dos países, antes, ao Novo Banco de Desenvolvimento, também chamado de banco dos Brics.
Com mais membros, a instituição teria mais recursos para financiar obras nos países-membros. Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos são dois dos candidatos a ingressar imediatamente no banco.
Impactos da expansão
Brasília não é necessariamente contra a expansão, mas a diplomacia nacional sabe que não interessa ao país uma ampliação repentina e sem controle do grupo.
Isso poderia levar à diluição da importância e peso do Brasil na organização — que, por princípio, não é um bloco coeso, mas sim uma agremiação que tem interesses muito díspares em várias questões globais.
A adesão de muitos países próximos da China, por exemplo, aumentaria ainda mais o peso de Pequim no grupo e poderia criar problemas para o Brasil, que tem uma tradição de diálogo com o mundo todo e de proximidade com o ocidente.
A insistência do Itamaraty em definir os critérios de adesão pode adiar qualquer anúncio de expansão, o que poderia provocar ressentimentos de chineses e russos.
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Subgrupo
Mas os diplomatas brasileiros não descartam, por exemplo, a possibilidade de criação de um subgrupo dentro dos Brics, com o anúncio de países associados.
O Mercosul, por exemplo, adota esse modelo e tem sete países associados.
Uma proposta como essa poderia resolver o impasse na cúpula da África do Sul.
A Índia até recentemente também apresentava grandes restrições à integração de novos membros ao Brics, em parte por sua rivalidade com a China.
Mas, às vésperas da cúpula, sua diplomacia emitiu notas afirmando que consideraria de maneira positiva essa posição, desde que os seus interesses nacionais fossem resguardados.
Nos bastidores, comenta-se que os indianos resolveram aceitar a expansão num aceno ao governo ditatorial da Arábia Saudita.
A África do Sul tende a ser mais próxima da China e gostaria que vários outros países africanos aderissem ao grupo.
O governo do país, inclusive, convidou todos os chefes de estado do continente a participarem de parte da cúpula.
As negociações continuam, mas uma decisão sobre os rumos a tomar na expansão só serão conhecidos depois de um encontro privado entre os líderes dos cinco países, na noite do dia 22 de agosto.