Desemprego no país segue estável e melhora depende de crescimento econômico, dizem economistas
No trimestre encerrado em abril de 2023, a taxa de desocupação foi de 8,5%, variação de 0,1 ponto percentual em relação ao trimestre anterior
A taxa de desemprego divulgada nesta quarta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) trouxe dados abaixo das expectativas do mercado, que esperava uma taxa, em média, de 8,8%.
O dado demonstra, segundo especialistas, um mercado de trabalho estável, resiliente e dependente de um crescimento econômico para observar alguma mudança do atual patamar.
“Tivemos uma melhora considerável na taxa ao longo do ano passado. Ela caiu daquele patamar acima de 10% para um patamar acima de 8%. Casa com uma economia no ano passado que vinha crescendo e agora temos uma economia que, uma vez chegado neste patamar, perdeu o dinamismo e estamos estagnados em 8%. Difícil uma mudança disso enquanto não tivermos uma retomada da economia”, avalia Reginaldo Nogueira, PhD em Economia e diretor sênior no Ibmec.
No trimestre móvel encerrado em abril de 2023, a taxa de desocupação foi de 8,5%. A variação de 0,1 ponto percentual em relação ao trimestre anterior, de novembro de 2022 a janeiro de 2023 (8,4%), demonstra estabilidade no índice, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua).
Esta é a menor taxa para um trimestre encerrado em abril desde 2015, quando ficou em 8,1%. Já em comparação com o mesmo período de 2022, a taxa de desocupação caiu 2 pontos percentuais.
“O mercado dá sinais de resiliência a despeito da situação econômica, que dá sinais de desaquecimento. Estamos com juros altos desde agosto do ano passado e uma expectativa de crescimento econômico bem menor este ano do que foi em 2022. Mesmo assim, após um grande aumento no número de vagas no ano passado, neste ano o mercado tem operado com estabilidade”, comenta Renan Pieri, professor de economia da FGV.
O especialista ressalta que, por questões de sazonalidade, era esperado um aumento do desemprego, o que não ocorreu e corrobora para a avaliação de um mercado ainda resiliente.
O economista da LCA Consultores Bruno Imaizumi, também considera o mercado firme a partir dos dados divulgados nesta quarta. No entanto, o especialista lembra que o existe uma desaceleração contratada para os próximos meses.
“O mercado tem se mostrado um pouco mais resiliente e isso, de alguma maneira, tem contribuído para uma atividade mais forte. Mas a desaceleração ao longo do ano já está encomendada ao longo do tempo, é só a magnitude dela que deve ser um pouco menor por conta de um mercado mais aquecido”, diz Imaizumi.
Já Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, pontua que a melhora também se deve à “menor taxa de participação, ou seja, menos pessoas procurando emprego”.
“A população ocupada teve queda de 0,6% no trimestre e o rendimento médio ficou estável, sinais de que o mercado de trabalho está desacelerando”, avalia a economista.
O rendimento real habitual ficou em R$ 2.891, estabilidade frente ao trimestre encerrado em janeiro, mas com crescimento de 7,5% na comparação anual. A massa de rendimento real habitual, de R$ 278,8 bilhões, também demonstrou estabilidade na comparação entre trimestres, com crescimento de 9,6% no confronto com abril de 2022.
“Na comparação com o ano anterior, a evolução da massa salarial segue positiva em termos reais e deve manter o nível de consumo, mesmo com a alta dos juros e o aperto no crédito observado”, avalia Vitória.
Para Imaizumi os rendimentos reais mais altos também são explicados por um movimento de migração de postos informais para postos formais.
“Esse movimento de continuidade, de recomposição de postos formais, é o último passo da saída pós-crise. Durante a pandemia vimos uma recuperação muito forte de postos via informalidade e agora o que ocorre é uma migração de postos informais para postos formais isso, de alguma maneira, contribui para rendimento médios reais mais elevados”, afirma.
Em suas projeções, a XP enxerga uma desaceleração suave do mercado de trabalho brasileiro este ano. A taxa de desemprego dessazonalizada deve atingir cerca de 9% no final de 2023, após 8,2% no final de 2022. “Estimamos uma taxa média de desemprego de 8,9% este ano, abaixo dos 9,3% registrados no último ano”.
Reginaldo Nogueira diz que poderia ocorrer mudanças nas expectativas para a taxa de desemprego se, no segundo semestre deste ano, o país observar uma queda na taxa de juros, um maior ânimo do mercado financeiro e uma retomada de investimentos. Dessa maneira, o crescimento econômico seria impulsionado e puxaria o mercado de trabalho.
“Quando chegarmos no segundo semestre, se tivermos queda da Selic, mudança do humor do mercado e retomada de investimentos, talvez isso gere um otimismo que possa alterar a taxa de crescimento econômico para 2024. Mas este não é o cenário no momento”, conclui.