Descompromisso com meta eleva risco e pressiona juros, diz economista que ajudou a implantar regime fiscal
Luiz Fernando Figueiredo era diretor do BC quando implantado o “Tripé Macroeconômico”, que rege economia brasileira até hoje e preconiza o superávit primário
Ex-diretor do Banco Central (BC) e Chairman da Jive Investments, Luiz Fernando Figueiredo afirmou em entrevista à CNN que caso o governo Lula mostre descompromisso com sua meta de resultado primário os juros futuros podem subir de maneira relevante no Brasil.
“Quanto menos esforço fiscal, mais impacta a curva de juros, maior é o prêmio de risco para o cenário à frente, maior dúvida temos sobre o futuro. Pensam só na taxa overnight, mas crédito, investimento, dependem muito mais da parte longa da curva, a taxa de juros de um ano, a taxa de juros de vários anos”, disse.
Figueiredo era diretor de Política Monetária do BC quando implantado o “tripé macroeconômico”, que rege economia brasileira até hoje e preconiza, além de câmbio flutuante e meta de inflação, a busca pelo superávit primário para a sustentabilidade do país.
O governo Lula deve até o fim desta semana para sinalizar se mudará ou não a meta de primário — que atualmente é de déficit zero. O deputado federal Lindbergh Farias (PT-RJ) apresentou emendas para alterá-la com déficit entre 0,75% e 1% do Produto Interno Bruto (PIB). O movimento não contou com aval do Ministério da Fazenda.
Para o economista, a questão deve ser observada por dois ângulos: a mudança ou manutenção da meta e o compromisso ou descompromisso com o valor. Ele pondera que a tendência é de que governo deixe o valor fixado entre déficit zero e de 0,5% do PIB.
“O número é brutalmente ruim? Não. Mas para as expectativas das pessoas, piora, porque nos afastamos da sustentabilidade. Se você mudasse um pouquinho a meta, mas ficasse claro que você está comprometido com ela de verdade, não seria tão problemático”, diz.
Ele indica que as falas recentes do presidente Lula sobre não cortar investimentos do governo pioram essas expectativas — que são parte essencial da estratégia de fixar uma meta de primário. Figueiredo destaca que, para atingir a sustentabilidade de sua dívida, o Brasil deve avançar neste quesito.
“Para ser sustentável precisaríamos ter um superávit primário de 1,5% a 2% do PIB. Estamos discutindo se vai ser equilíbrio ou déficit. Temos tempo para chegar lá [no superávit necessário]? Temos. Mas precisamos andar para frente”, completa.