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    Decisão do Fed vai influenciar o próximo governo do Brasil, dizem economistas

    Alta de 0,75 ponto percentual eleva os juros em 3,75% a 4%, a maior taxa de fundos federais desde janeiro de 2008 

    Diego Mendesdo CNN Brasil Business São Paulo

    O comitê de política monetária (Fomc) do banco central dos EUA (Fed) decidiu nesta quarta-feira (2) elevar a taxa básica de juros norte-americana pela quarta alta consecutiva. Com um aumento de 0,75 ponto percentual, a nova faixa agora vai de 3,75% a 4%, a maior taxa de fundos federais desde janeiro de 2008.

    De acordo com economistas consultados pelo CNN Brasil Business, as informações econômicas disponíveis sugerem que o ritmo de aperto das condições monetárias seja mantido nas próximas reuniões, mas alguma moderação poderá ser sinalizada para as próximas decisões.

    Gabriel de Barros, economista-chefe da Ryo Asset, explica que esse aumento de 0,75 p.p. está muito condicionado aos indicadores de alta frequência, que têm vindo muito ruins para o Fed. “O mercado de trabalho continua muito apertado, os salários continuam em alta, as vagas em aberto também, e num curto prazo isso pressiona as tomadas de decisão sobre a magnitude do aumento de juros”, mostra.

    O Fed vai ter novos desafios para as próximas reuniões, precisando debater e comunicar para o mercado como vai sinalizar uma redução para a subida nos juros, sem parecer que estão enfraquecendo a taxa terminal. “Para a reunião de dezembro é esperado uma desaceleração, com alta menor, de 0,50 p.p. Porém, vai envolver um desafio de comunicação, principalmente pelo Fed ter ficado muito focado nos dados correntes. Uma saída será aumentar a taxa terminal, que hoje está em 4,6% para 2023. Ou seja, vão trabalhar com esse juros terminais mais altos”, explica Barros.

    Na visão do economista e especialista da CNN Brasil, Sérgio Vale, essa alta já era esperada, mas há uma indefinição para a próxima reunião. De acordo com ele, o mercado espera uma desaceleração, uma alta de 50 p.p., mas há uma expectativa de como está caminhando a inflação americana neste momento. “Acredito que o Fed possa manter os 0,75 p.p. de alta, pois há um cenário inflacionário americano pressionado, com o CPI (taxa anual de inflação) acima dos 8%, o PCE (índice de consumo pessoal), acima dos 6%, pontos que mostram uma inflação resiliente. Não é o momento de retroceder”, pontua.

    Refente a uma possível recessão, Vale acredita que é difícil não acontecer, porém, não tão forte como a de 2008. “O mercado tem previsão de um crescimento bem mais fraco para a economia americana no próximo ano, girando em torno de 0 a 1,5%. Continuam os registros de queda no investimento no PIB americano, queda investimento residencial acima de 25%, o que sinaliza que os Estados Unidos estão entrando em um caminho de crescimento bem mais fraco”, diz.

    Impactos no Brasil

    Um ponto destacado por Barros é que esta estratégia de aperto monetário do Fed está sendo seguida por outros bancos centrais do mundo, como no caso da Inglaterra, Canadá, União Europeia. “Esse é um movimento de aperto monetário global e sincronizado. Isso é importante porque essa política pode produzir uma desaceleração mais profunda no mundo todo, o que também é um canal de contágio para a economia brasileira”, aponta

    O Brasil tem parceiros comerciais e essa sincronia das políticas monetárias influenciam e fazem a diferença, segundo Barros. “Essa situação vai afetar a economia interna, causando um menor crescimento por conta deste cenário externo. Ou seja, a dificuldade de recuperação global impacta diretamente aqui no país, tirando pontos de desenvolvimento de outros lugares do mundo”, avalia.

    Vale também prevê os reflexos deste cenário de queda econômica aqui no Brasil. Para ele, a grande questão que fica para 2023 é como iniciar um novo mandato de governo com um cenário internacional tão adverso. “Há uma possibilidade de recessão não só nos Estados Unidos, mas na Europa e na China, que estão com a economia enfraquecida”.

    O economista explica que, se levar em conta essas três principais economias do mundo, todas vão ter dificuldades no começo do próximo ano. “O Brasil vai lidar com um cenário de crescimento global mais fraco. Então, iniciar um governo com o mundo em crise, é algo de certa forma inédito, pois nunca tivemos um presidente no passado começando o governo com uma situação global tão difícil – sem falar da guerra na Ucrânia, a qual é outro elemento de preocupação”, ressalta.

    Segundo Vale, todo esse conjunto tira dos analistas uma expectativa de crescimento, especialmente por conta de exportação. “Com o mundo produzindo menos, as exportações caem. Isso ajuda a ter uma perspectiva de melhora mais baixa para o Brasil em 2023”, conclui.

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