Crise portuária encarece produtos em todo o mundo e parece longe de acabar
Empresas de logística esperam que a crise de abastecimento comece a ser resolvida apenas no primeiro trimestre do ano que vem
Mais de 18 meses após o início da pandemia, a interrupção das cadeias de suprimentos globais está piorando, estimulando a escassez de produtos de consumo e tornando mais caro para as empresas o envio de mercadorias para onde são necessárias.
Problemas não resolvidos e o surgimento de novos problemas, incluindo a variante Delta, significam que os compradores provavelmente enfrentarão preços mais altos e menos opções nesta temporada de compras. Empresas como Adidas, Crocs e Hasbro já estão alertando sobre interrupções enquanto se preparam para o período crucial de final de ano.
“As pressões sobre as cadeias de suprimentos globais não diminuíram e não esperamos que isso aconteça em breve”, disse Bob Biesterfeld, CEO da CH Robinson, uma das maiores empresas de logística do mundo.
O último obstáculo está na China, onde um terminal no porto de Ningbo-Zhoushan, ao sul de Xangai, está fechado desde 11 de agosto, depois que um funcionário testou positivo para Covid-19. As principais companhias marítimas internacionais, incluindo Maersk, Hapag-Lloyd e CMA CGM ajustaram os horários para evitar o porto e estão alertando os clientes sobre atrasos.
O fechamento parcial do terceiro porto de contêineres mais movimentado do mundo está interrompendo outros portos na China, esticando as cadeias de abastecimento que já estavam sofrendo com problemas recentes no porto de Yantian, escassez de contêineres, paralisações de fábricas relacionadas ao coronavírus no Vietnã e os efeitos persistentes do bloqueio do Canal de Suez em março.
As companhias de navegação esperam que a crise global continue. Isso está aumentando o custo de movimentação de cargas e pode aumentar a pressão sobre os preços ao consumidor. “Atualmente, esperamos que a situação do mercado só melhore no primeiro trimestre de 2022, no mínimo”, disse o presidente-executivo da Hapag-Lloyd, Rolf Habben Jansen, em um comunicado recente.
O custo do envio de mercadorias da China para a América do Norte e Europa continuou a subir nos últimos meses, após um aumento no início do ano, de acordo com dados da Drewry Shipping, que tem sede em Londres.
O Índice Mundial de Contêineres da empresa mostra que o custo composto de envio de um contêiner em oito das principais rotas Leste-Oeste atingiu US$ 9.613 na semana passada até 19 de agosto, um aumento de 360% em relação ao ano anterior.
O maior salto de preço ocorreu ao longo da rota de Xangai a Rotterdam, na Holanda, com o custo de um contêiner subindo 659%, para US$ 13.698. Os preços do transporte de contêineres nas rotas de Xangai para Los Angeles e Nova York também aumentaram.
“As atuais taxas de frete historicamente altas são causadas pelo fato de que há uma demanda não atendida”, disse Soren Skou, CEO da gigante de transporte de contêineres Maersk, em uma teleconferência este mês. “Simplesmente não há capacidade suficiente”, acrescentou.
Congestionamento nos portos
A paralisação do terminal em Ningbo aumentará os gargalos decorrentes do fechamento em junho de Yantian, um porto a cerca de 80 quilômetros ao norte de Hong Kong, depois que infecções por coronavírus foram detectadas entre os trabalhadores do local.
Enquanto uma reabertura parcial do Yantian levou apenas alguns dias, um retorno aos serviços normais levou quase um mês para ser alcançado, de acordo com a S&P Global Market Intelligence, conforme o congestionamento se espalhou para outros portos.
Isso representa problemas para varejistas e empresas de bens de consumo que tentam reabastecer seus estoques em direção à crucial temporada de compras de fim de ano. “O fechamento de Ningbo é agora particularmente sensível, pois pode atrasar as exportações para a alta temporada de entregas para os EUA e Europa, que normalmente chegam de setembro a novembro”, disse a S&P Global, em nota.
A Drewry Shipping disse na sexta-feira (20) que o congestionamento nos portos próximos de Xangai e Hong Kong está “aumentando” e se espalhando em outras partes da Ásia, bem como na Europa e América do Norte, “particularmente na costa oeste” dos Estados Unidos.
Cerca de 36 navios porta-contêineres estão ancorados nos portos adjacentes de Los Angeles e Long Beach, de acordo com um relatório publicado na quinta-feira pela Marine Exchange of Southern California.
É o maior número desde fevereiro, quando 40 navios porta-contêineres aguardavam para entrar. Normalmente, haveria apenas um ou nenhum porta-contêineres esperando, de acordo com a Marine Exchange.
O congestionamento na Califórnia está começando a se espalhar para “praticamente todos os portos dos Estados Unidos”, de acordo com Biesterfeld, da CH Robinson. “As chances de sua embarcação chegar a tempo são de cerca de 40%, quando era de 80% no ano passado”, disse ele ao CNN Business.
(Esta matéria foi traduzida. Clique aqui para ler a versão original, em inglês)