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    Crise hídrica: entenda a diferença entre racionamento e blecaute

    Algumas das principais hidrelétricas estão nos menores níveis desde o grande apagão de 2001

    Juliana Elias, do CNN Brasil Business, em São Paulo

    Com o pior regime de chuvas em 90 anos e algumas das principais hidrelétricas do país correndo o risco de ficar vazias, o tema da crise hídrica entrou de vez para a lista de preocupações da agenda econômica e política do país. 

    Uma certeza já se tem: a conta de luz deve ficar bem mais cara por conta dela, consequência das dezenas de termelétricas de emergência que estão sendo acionadas para complementar o fornecimento de energia e que, movidas a gás ou diesel, são bem mais caras do que as hidrelétricas.

    A dúvida, agora, é se, mesmo com todas elas acionadas e já pagando mais por isso, o país dará conta de atravessar os próximos meses – justamente os mais secos do ano – sem precisar de um racionamento ou sem correr o risco de um blecaute, forma abrasileirada que o termo em inglês “blackout” ganhou.

    Para muitos analistas, a possibilidade de ficar sem luz é cada vez maior. O governo afirma que está monitorando de perto a gravidade da crise e ainda prefere afastar do discurso o risco de blecaute, também conhecido como apagão – mas, de toda maneira, já está deixando um projeto pronto para criar um comitê responsável pela gestão de eventuais racionamentos

    As duas palavras – racionamento e blecaute –, nenhuma delas novidade para o Brasil, vêm quase sempre juntas, mas tratam de situações diferentes. 

    Cortes programados

    O racionamento é uma redução estimulada ou compulsória do consumo. Muitas regiões do Brasil já conviveram em algum momento com o sistema, usado tanto na economia de eletricidade quanto de água. 

    Em 2014, por exemplo, quando alguns dos maiores reservatórios de abastecimento de água de São Paulo secaram até o nível do chão em meio a uma seca também histórica, muitas cidades do estado foram colocadas em um esquema em que as torneiras só recebiam água em horários específicos ou em dias alternados. 

    Na capital e em outras cidades, aqueles que tivessem aumento do consumo recebiam multa na conta de água, enquanto os que conseguiam reduzir ganhavam desconto na tarifa. 

    No maior racionamento pelo qual o país já passou – o da crise energética de 2001 –, indústrias e residências tiveram que reduzir o consumo de eletricidade em 20% na última vez em que as hidrelétricas tinham ficado tão vazias quanto agora. À época, porém, o sistema não tinha o suporte da geração reserva de energia que existe hoje.  

    “O racionamento corta a oferta de energia em um determinado volume para acomodar a demanda”, explica o sócio gestor da consultoria de negócios Inter.B, Claudio Frischtak.

    “Ele pode ser feito de várias maneiras. Tipicamente, para evitar que chegue aos domicílios, é limitada primeiro a oferta para os grandes consumidores. Outra opção é tentar deslocar o consumo para outras horas que não o horário de pico. Em último caso, há o corte do fornecimento em algum período do dia.”

    “Blecaute”

    Já o blecaute é a queda completa da energia por conta de uma sobrecarga no sistema. 

    Na maior parte das vezes, como foi na crise de 2001, as políticas de racionamento já são o recurso usado para enxugar o consumo e evitar que toda a eletricidade demandada fique maior do que o sistema é capaz de dar conta. 

    “Acontece geralmente nos horários de pico, quando muitas coisas são ligadas ao mesmo tempo, e aí é como um racionamento à força, não planejado”, disse Frishtack. Esse “rush”energético é concentrado tipicamente nos horários entre final da tarde e início da noite, momento do dia em que há os maiores picos de carga. 

    “Mas um apagão pode acontecer por outras razões também, como uma torre de transmissão que caiu ou por conta de um equipamento incendiado.”

    Sistema único e todas as regiões em risco

    Atualmente, são os reservatórios das hidrelétricas do sistema Sudeste/Centro-Oeste que estão em situação crítica: eles estão nos menores níveis desde o apagão de 2001. É onde está Furnas, em Minas Gerais, e de onde sai 70% de toda a energia hidrelétrica do país. 

    É lá que não está chovendo: a precipitação sobre essas bacias, nos últimos meses, foi a menor desde que o país começou a monitorá-la, há 94 anos – mesmo que na região Norte, por exemplo, estejam sendo registradas as maiores cheias também em um século

    Isso não significa, porém, que o risco de racionamento ou de apagão exista apenas para as regiões atingidas pelas secas. A rede energética brasileira é praticamente toda interligada por redes de transmissão, no chamado Sistema Interligado Nacional (SIN)

    Isso significa que, independentemente de onde a energia é gerada, ela pode ser distribuída por todo o país, e é por essa razão que todo o sistema acaba afetado.

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