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    Corte da Selic foi tardio e métodos do BC precisam ser revistos, diz professor da Unicamp à CNN

    Para Pedro Rossi, "é preciso uma maneira mais inteligente de se combater a inflação"

    João Nakamurada CNN* em São Paulo

    O economista e professor da Unicamp, Pedro Rossi, fez nesta quinta-feira (3) críticas à postura do Banco Central (BC) nos últimos anos na condução da política monetária. Em entrevista à CNN, ele disse que há maneiras melhores de combater a inflação além do aumento dos juros.

    “A lógica dos juros é de combater a inflação com desemprego. É preciso uma forma mais inteligente de se conter os preços, que preserve o poder de compra da população”, afirmou.

    Segundo Rossi, “ao puxar o ‘freio de mão’, reduzir a fila do alimento e abaixar o preço, pessoas acabam passando fome no meio do processo. Não faz sentido”, reforça.

    Além disso, Rossi ressaltou que a decisão de cortar os juros somente agora “é tardia”, já que a alta da taxa de juros faz a economia desacelerar.

    Para o professor da Unicamp, a medida é um “passo adiante”. Contudo, apesar do corte de 0,5 ponto percentual superar as expectativas médias do mercado, – que esperava uma redução de 0,25 p.p. – Rossi afirma que a queda ainda não é suficiente e que “não é uma solução para o problema dos juros altos“.

    Provavelmente, as próximas reduções também serão de 0,5%. Agora, a duração a gente não sabe, então a gente pode continuar com as maiores taxas de juros do mundo. Ainda não temos perspectiva de sair dessa posição”, pontua o economista.

    Postura do BC

    Para Pedro Rossi, “o Banco Central dá sinais de muita cautela”. O problema apontado pelo economista é que quando se iniciou o ciclo de alta, os juros subiam a 0,75 p.p., mas no momento da queda o BC adota uma postura “conservadora”.

    “É preciso repensar o ‘remédio amargo’, que é pouco efetivo para combater uma inflação que é efetivamente de custo”, diz Rossi.

    O professor aponta que a inflação vista no Brasil é principalmente de custos relacionados ao consumidor. Segundo ele, o controle dos preços dos alimentos – que encarecem com a alta dos juros – não depende da taxação.

    “Depende de elementos de custo. Como clima, produção e preços no exterior. A Selic não faz chover no campo”, disse Rossi. O economista afirma que no exterior já estão sendo revistas as maneiras de se controlar o preço dos alimentos.

    O combate a inflação precisa de uma caixa de ferramentas, quando eu vou colocar um parafuso, eu não pego um martelo para bater. O Banco Central acha que tudo é prego e usa o martelo pra todo tipo de inflação. É necessário olhar mais para variáveis como emprego e renda e não apenas para inflação”, conclui o economista.

    Decisão do Copom

    Pedro Rossi elogia a mudança de postura do presidente da instituição, Roberto Campos Neto, ao não seguir aliados e votar pelo corte maior de 0,5 p.p. O professor da Unicamp disse que Campos Neto foi “inteligente” ao “votar pelo meio”.

    “Se ele votasse por uma redução menor do que a do novo entrante, principalmente o Gabriel Galípolo, que votou pela redução de 0,5, se conflagraria ali uma divergência que geraria especulações no mercado sobre um racha“, pontua.

    Na última quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central votou pelo primeiro corte de juros depois de um ano de estabilidade.

    A redução de 0,5% cortou a Selic, a taxa básica juros do país, de 13,75% para 13,25% ao ano. É a primeira queda em três anos.

    Contudo, o Brasil continua sendo o país com os juros reais mais altos do mundo. Os juros reais são a conta que consideram a taxa de juros descontada da inflação, e, mais do que a taxa bruta, é o número que de fato tem efeito sobre a economia.

    *Sob supervisão de Dimalice Nunes e produção de Vinicius Tadeu

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