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    Conta de luz deve subir ao menos 5% em julho, a depender do reajuste na bandeira

    O cálculo é de André Braz, coordenador de índice de preços da FGV, e leva em conta alta de ao menos 15% na bandeira vermelha 2

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo

    A conta de luz deve ficar ainda mais cara em julho. Com a revisão para cima do valor da bandeira vermelha 2 — ainda a ser definida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) —, a tarifa como um todo deve subir entre 5% e 6% a partir de julho. O cálculo é de André Braz, coordenador de índices de preços da FGV, e leva em consideração um avanço de 15% a 20% na bandeira vermelha 2.

    À analista Thais Herédia, da CNN, André Pepitone, diretor-geral da Aneel, disse que este valor deve ultrapassar os 20%. Segundo apuração do jornal O Globo, no entanto, esse percentual pode ser ainda maior e extrapolar os 60%. Seja como for, a diferença vai recair sobre o bolso do consumidor.

    Atualmente, o custo extra da bandeira vermelha patamar 2 é de R$ 6,24 pelo consumo de 100 kw/hora. Enquanto a bandeira vermelha 1 tem um acréscimo de R$ 4,16, a bandeira amarela cobra R$ 1,34 a mais.

    Em entrevista ao CNN Brasil Business, Braz diz que a alta da energia pode contaminar a inflação de 2021 e até a de 2022. Confira abaixo:

    Como o reajuste na tarifa da bandeira vermelha deve impactar as contas de luz?

    Na bandeira vermelha patamar 2, que passa a vigorar agora em junho, já temos, em média, contas de 3% a 5% mais caras do que no mês de maio. Além disso, há um estudo para aumentar o valor da cobrança realizada dentro dessa bandeira vermelha. 

    Estima-se que as autoridades possam elevar em 15% a 20% o valor da bandeira (O Globo fala em 60%), com uma repercussão que pode chegar a um aumento de 5%, 6% nas contas de luz (15% em caso do reajuste de 60%). Isso já pode alavancar a inflação na direção do mês de julho. 

    Então, já começamos o segundo semestre com efeito extra nas contas de energia. A energia de uso doméstico compromete, em média, 4% do orçamento familiar. Para cada 1% de aumento que a família paga, isso tem um impacto de 0,04 ponto porcentual na inflação.

    Nessa linha, um possível aumento de 5% vai ter um impacto de 0,20 p.p. na inflação de julho. Ou seja, a inflação de julho já parte de 0,20 p.p. só por conta da influência da energia. Esse é o impacto direto nas contas. 

    Mas existem também efeitos indiretos, que é como a energia vai impactar nos preços daqueles que prestam serviços ou na produção industrial. Existem segmentos que vão ser muito afetados por esse aumento da energia. 

    Os dois principais são: a indústria da construção, que fabrica os materiais usados pela construção civil; e também o segmento automobilístico. São dois setores que empregam muito e que vão ser afetados por esse aumento. 

    Além do aumento dos custos de produção de energia, o que mais impacta nos preços da conta de luz?

    Existe uma regulação por trás da conta de energia que prevê um reajuste anual. Em geral, esse reajuste é para recompor perdas acumuladas nos últimos doze meses e tem a ver com a inflação e com o aumento de custos do setor. 

    Então, na energia, só costumamos ver aumento dos preços, dificilmente assistimos a quedas. Até tivemos uma queda ainda no governo da Dilma, mas ela veio acompanhada por uma alta muito mais forte posteriormente. Não foi uma estratégia bem sucedida. 

    Agora é a mesma coisa. Continuamos com os custos elevados por conta da desvalorização cambial, do aumento de custos de insumos que são usados no setor elétrico, do encarecimento dos combustíveis (utilizados nas termelétricas) e do aumento de preços da mão de obra.

    Tudo isso é repassado para a conta do consumidor uma vez por ano, nos períodos de aniversário de contrato de cada concessionária de energia. Mas, eventualmente, também há reajustes quando os custos de geração de energia aumentam, como é o momento atual de falta de água. 

    Essa segunda parte é a temporária, que depende das chuvas. Mas, como estamos com uma economia em recuperação, a demanda por energia tende a aumentar. 

    Com isso, os reajustes vão ser na linha da inflação, mas afora esses reajustes que já estavam na pauta, a gente ainda vai ter que pagar mais caro pela geração de energia nesse momento de estiagem. 

    Políticas de racionamento de energia estimuladas pelo governo poderiam ajudar?

    Poderiam. O bom gestor é aquele que se antecipa ao problema, não o que explica bem o passado. Nessa linha, valeria a pena avaliar propostas de redução de consumo. Ainda que fosse por meio de campanhas, esclarecendo essa situação da energia à população e reforçando aquilo que já aprendemos no passado.

    Depois de todos os ensinamentos e sacrifícios naquele período de racionamento (em 2001), muitas contas ficaram mais controladas. As famílias aprenderam a não desperdiçar, e isso é importante. Se recuperarmos pelo menos esse entendimento de que a energia é um recurso escasso e caro, já conseguimos dar um passo à frente, reduzindo o consumo e evitando cobranças extras  ou até um racionamento mais rigoroso.

    Então, para que não cheguemos a essa situação limite, é melhor colocar logo as cartas na mesa. Dizer que é uma situação atípica e temporária, mas que precisamos passar por um esforço comum, que é exatamente reduzir a nossa demanda de energia. Se não funcionar só com orientação, aí passa-se a cobrar mais. 

    O que esperar para 2022?

    Há uma dívida referente ao ano passado que tende a ser colocada em dia no ano que vem. Com isso, já se prevê para o ano que vem um aumento de 5% a 10% nas contas de luz. São dívidas acumuladas pelo segmento, que vão acabar caindo na conta do consumidor.

    Isso já põe em cheque se vamos conseguir cumprir a meta de inflação para 2022. A meta do ano que vem é menor, cerca de 3,5%, e a expectativa de inflação já começa a romper esse patamar. Já está mais na direção de 4% do que de 3,5%. 

    O Banco Central e o Comitê de Política Monetária estão atentos a isso e já começaram a fazer movimentos na taxa básica de juros (Selic), que agora está em 4,25%, ante 2% no início do ano. 

    Tudo isso para ancorar as expectativas e fazer com que esse desafio inflacionário que se apresenta em 2021 não seja transmitido para o ano que vem. Mesmo assim, existe ainda uma indexação muito forte na nossa economia. 

    Para esse ano, dizem que alguns efeitos podem até ser temporários, mas eu acredito que não sejam por conta do rigor dessa seca. O volume dos reservatórios já está muito baixo e só estamos entrando no inverno agora. 

    O inverno é uma estação de pouca chuva e existe uma previsão de que o volume de chuvas seja historicamente baixo em 2021. Então, esse é um desafio duplo que não vai permitir a recuperação dos reservatórios no período normal, o que só vai agravar a crise hídrica. 

    Isso tende a perpetuar, pelo menos dentro de 2021, o uso dessas bandeiras no patamar máximo. Se tivermos muita sorte, a partir de outubro, com a chegada da primavera e o início do período de chuvas, poderíamos talvez recuperar um pouco.

    Mas eu acho difícil que isso caiba no calendário deste ano, e é provável que a energia ocupe um espaço muito grande na inflação de 2021. Ano passado, o desafio das famílias foram os alimentos. Esse ano, os preços de energia e dos combustíveis vão influenciar mais. 

    Com utilização responsável dos recursos, podemos até economizar diante desse período de maior pressão dos preços desses itens, mas com certeza vai ser um desafio maior para as famílias em 2021 e tende a se estender também para 2022.

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