Conheça aviões comerciais ‘Made in China’
Indústria chinesa está avançando a passos largos no desenvolvimento de aviões comerciais
A China entrou em definitivo no seleto grupo de nações que possuem uma indústria aeronáutica consolidada e capaz de projetar e construir aviões de passageiros. Sustentadas pelo Estado e com um orçamento praticamente ilimitado, as fabricantes chinesas estão presentes (ou prestes a entrar) em quase todas as categorias da aviação comercial, oferecendo desde pequenas aeronaves para o segmento sub-regional até jatos de grande porte e longo alcance.
Mesmo com todos os avanços e a influência geopolítica de Pequim, os aviões comerciais “Made in China” ainda têm pouca adesão no exterior. Mas isso não preocupa os fabricantes chineses. O objetivo primordial da indústria local é abastecer o mercado doméstico, que vem crescendo em ritmo vertiginoso e, até o fim desta década, deve se tonar o maior do mundo, superando o movimento de passageiros nos Estados Unidos.
Conheça a seguir os aviões comerciais fabricados na China que já estão em serviço, além de outros projetos em desenvolvimento e que ajudarão a impulsionar ainda mais a aviação chinesa:
Comac ARJ21-700
Primeira aeronave comercial com motores a jato desenvolvida e certificada na China, o ARJ21-700 é também o primeiro produto lançado no mercado pela Commercial Aircraft Corporation of China (Comac), fabricante estatal que promete ser uma das maiores do mundo no futuro, ameaçando o duopólio das gigantes Airbus e Boeing.
Concebido como um jato regional, o ARJ21-700 pode receber entre 78 a 90 passageiros e tem autonomia para voos de até 2.200 km, o suficiente para cobrir metade do território chinês de leste a oeste, e atender aeroportos de baixa e média demanda de passageiros.
O primeiro voo do ARJ21-700 foi realizado em 28 de novembro de 2008, mas ele entrou em serviço regular somente em 2016. Desde então, a Comac entregou mais de 40 exemplares da aeronave para oito companhias aéreas, todas elas chinesas. De acordo com a fabricante, o jato soma 208 pedidos firmes de empresas da China, Laos, Indonésia e da República Democrática do Congo.
Embora seja um avião pioneiro da indústria chinesa, o ARJ21-700 não é 100% original. O design da aeronave tem claras semelhanças com o antigo jato americano McDonnell Douglas MD-80/MD-90, que foi produzido sob licença na China nas décadas de 1980 e 1990. Apesar disso, a Comac afirma que a aeronave é um projeto totalmente nativo.
Xi’an M60/M600
A indústria aeronáutica chinesa também está presente há algum tempo no ramo dos turboélices comerciais com o bimotor M60. A aeronave produzida pela Xi’an Aircraft Industrial Corporation é uma evolução do Xi’an Y-7 (produzido entre as décadas de 1980 e 1990), que, por sua vez, é baseado no modelo ucraniano Antonov An-24.
O M60 decolou pela primeira vez em 25 de fevereiro de 2000 e, em pouquíssimo tempo, foi declarado operacional, entrando em serviço no mercado chinês em agosto daquele mesmo ano. A aeronave tem capacidade para transportar até 62 passageiros e alcance de voo em torno de 1.600 km. Com essas especificações, ele compete na mesma categoria do ATR 72, o turboélice comercial mais vendido do mundo (conhecido no Brasil com as cores da Azul Linhas Aéreas).
Em 2008, voou a versão modernizada do M60, chamada M600. A aeronave foi equipada com novos aviônicos, motores mais eficientes e uma cabine de passageiros aprimorada. Considerando as duas variantes, a Xi’an entregou pouco mais de 100 unidades do turboélice e soma mais de 300 pedidos.
Curiosamente, o M60/M600 fez pouco sucesso na China, onde voa atualmente com apenas duas companhia aéreas. Compensando a baixa aceitação do mercado chinês, os turboélices da Xi’an foram adquiridos por empresas de outras 11 nações na Ásia, África e Oriente Médio. A aeronave também é oferecida em versões de uso militar.
Harbin Y-12F
A fabricante estatal Harbin Aircraft Industry produz atualmente o que pode ser considerado o avião chinês mais popular fora da China. Trata-se do Y-12F, um bimotor turboélice utilitário para uso civil e militar, operado por companhias aéreas e forças armadas em mais de 30 países.
Na aviação comercial, o Y-12F é indicado para transportadoras que atuam no segmento sub-regional, no transporte de passageiros (leva até 18 pessoas) e cargas (até 1.700 kg). É uma aeronave robusta e projetada para aterrissar e decolar em pistas curtas e não pavimentadas. Segundo o fabricante, o modelo pode alçar voo e pousar num espaço de apenas 400 metros de comprimento.
O Y-12F, lançado em 2018, é a versão mais avançada do Y-12, que fez seu voo inaugural em 14 de julho de 1982. O modelo foi desenvolvido a partir do Harbin Y-11, um dos primeiros aviões de uso civil desenvolvido inteiramente na China, na segunda metade da década de 1970.
O modelo também é o primeiro e (por enquanto) o único avião chinês a obter o certificado operacional da Federal Aviation Administration (FAA), a agência reguladora de aviação civil dos Estados Unidos, embora nenhum exemplar tenha sido comercializado no país. No Brasil, o Y-12F é oferecido pela importadora J Cranes Aircraft, representante da Harbin.
Comac C919
Projeto mais ambicioso da indústria aeronáutica chinesa, o Comac C919 é proposto para competir com os tradicionais Airbus A320 e Boeing 737, os jatos comerciais mais vendidos do mundo. Em desenvolvimento há mais de uma década, a aeronave deve ser finalmente liberada para operar comercialmente na China no segundo semestre de 2021.
O novo jato chinês tem um layout de cabine com até 174 assentos e alcance de voo entre 4.075 a 5.555 km (na versão com alcance estendido). O primeiro protótipo da aeronave voou em 5 de maio de 2017 e, em pouco tempo, a Comac recebeu mais de 800 encomendas de 28 companhias aéreas chinesas.
Em termos tecnológicos, o C919 é uma aeronave que se aproxima mais das características do Airbus A320, do que às do 737. Um dos recursos de maior destaque do jato chinês são os comandos de voo computadorizados, recurso conhecido como “fly-by-wire” e que ganhou notoriedade com o A320, o primeiro avião comercial do mundo com controles eletrônicos –o Boeing 737, mesmo na versão MAX mais recente, ainda possui comandos convencionais, por cabos.
Craic CR929
Joint venture formada entre a chinesa Comac e o conglomerado russo United Aicraft Corporation, a China-Russia Commercial Aircraft Corporation (Craic) está desenvolvendo o CR929, um jato comercial de fuselagem larga (widebody) e longo alcance.
Embora ainda esteja longe de voar e chegar ao mercado (o que deve acontecer em 2025 e 2028, respectivamente, segundo a previsão dos fabricantes), o CR929 deixa claro a ambição dos chineses em ter um representante na categoria dos widebodies, mesmo que para isso seja necessária a participação da Rússia, que já tem longa experiência nessa categoria.
A primeira versão da aeronave prevista pela parceria sino-russa é o CR929-600, com capacidade para 280 passageiros e autonomia de 12 mil km, números comparáveis aos do Airbus A330 e Boeing 767. Outra versão, o CR929-500, é projetado para receber 250 ocupantes e com alcance de 10 mil km. Por ser um projeto em fase inicial, nenhuma companhia aérea (chinesa ou russa) ainda se arriscou a encomendar o modelo.