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    Comprei da China e quem me mandou foi um cantor – ou pintor do século XVI – e não paguei imposto

    Ao chegar em casa, o pacote estava no balcão da cozinha. Na etiqueta, a informação estava lá: “Remetente: Xu Wei”

    Fernando Nakagawada CNN

    Semanas atrás, um vídeo de um curioso quebra-cabeças tipo “Tetris” passou por mim nas redes sociais. Era colorido e parecia divertido. Pensei que poderia ser uma boa para me tirar, por algum tempo, das telas do celular ou computador. Procurei, comprei e chegou ontem.

    Para minha surpresa, o remetente não era a empresa que me vendeu, e sim uma pessoa: Xu Wei. É o nome de um cantor de rock chinês ou de um pintor muito famoso do século XVI.

    Apertei o “comprar” em 2 de abril. Era domingo à noite no Brasil e segunda-feira de manhã na China, quando o pedido foi recebido pela “Mi_Fans Store”. A loja está no AliExpress desde 17 de julho de 2019 e parece ser uma boa vendedora: tem 94,6% de avaliações positivas.

    Pelas plataformas, é possível monitorar os pedidos. Lá, vi que o voo com a encomenda saiu da China na madrugada de quinta, 6, e chegou ao Brasil no dia seguinte. Na segunda, 10, já estava no – às vezes, temido – centro dos Correios em Curitiba.

    Por lá, ficou menos de um dia. Moro na zona sul de São Paulo, e o pacote foi entregue na portaria do prédio em 13 de abril, à tarde. Fui informado por e-mail. Foram exatos 11 dias depois da compra.

    Diante de toda a confusão sobre o que o governo vai – ou não – fazer com as compras do exterior e com a acusação de que empresas burlam regras alfandegárias, estava – pela primeira vez – mais curioso para ver a parte externa do que o conteúdo do recebido.

    Ao chegar em casa, o pacote estava no balcão da cozinha. Na etiqueta, a informação estava lá: “Remetente: Xu Wei”. Pensei: deve ser o nome da empresa.
    Fui para o celular, e a internet mostrou que não é bem isso.

    Com ajuda do Google, vejo que Xu Wei parece ser o nome de uma pessoa. É, por exemplo, o nome de um cantor chinês de rock que tem 54 anos e clipes com milhões de visualizações. Também foi o nome de um pintor e dramaturgo que nasceu em 1521.

    Nas páginas seguintes, a busca mostra ainda que é o nome de um ex-funcionário da Alfândega dos Estados Unidos sentenciado, em 2020, por 31 meses de prisão por comércio ilegal de armas.

    Também é a identificação de um jogador do videogame League of Legends da República Dominicana. Não acredito que um cantor ou um pintor – especialmente do século XVI – tenha enviado o brinquedo para minha casa, mas com certeza a remessa entrou no Brasil com a informação de que foi enviada por uma pessoa.

    E, pela regra atual, envios de até US$ 50 de pessoa física para pessoa física são isentos de impostos de importação. O benefício, porém, não vale se a venda for feita por uma empresa.

    Era mesmo uma empresa

    Quem já comprou em plataformas asiáticas, sabe que os vendedores têm uma página com o perfil. É lá que você vê a nota, reclamações, elogios e fotos dos pedidos. No AliExpress, também há um link para “licença do negócio”. Confesso que nunca tinha notado. Lá, estão detalhes de cada vendedor.

    E esse link deixa claro que eu não comprei de uma pessoa. O vendedor era uma empresa: a Shenzhen Zeyue Technology Co., Ltd. que fica em Shenzhen, metrópole que faz fronteira com Hong Kong.

    Tudo indica, portanto, que a minha compra entrou irregularmente no Brasil.

    Agora, a pergunta é: como vou pagar esse imposto de importação?

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