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    Wine, Havan, Enjoei: IPOs inundam a B3, analistas dão dicas para evitar furadas

    Esse movimento agrada agentes do mercado financeiro, por ampliar o leque de ativos disponíveis aos investidores, mas isso não garante sucesso no processo

    Matheus Prado, , do CNN Brasil Business, em São Paulo*

    Wine; Vinhos; Loja
    Fachada da loja da Wine em Belo Horizonte
    Foto: Wine/Divulgação

    Os pedidos de IPO (oferta pública inicial) não param de brotar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Ao todo, são quase cinquenta registros em análise pela autarquia. Só na terça-feira (1º), cinco empresas de diversos setores entraram na fila para abrir seu capital na bolsa de São Paulo, a B3. 

    A lista de potenciais novatos vai desde a Méliuz, empresa mineira de cashback, passando pela Enjoei, de comércio eletrônico, e, até mesmo a Wine, famosa por seu clube de vinhos.

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    Tal movimento agrada agentes do mercado financeiro, por ampliar o leque de ativos disponíveis aos investidores, mas isso não garante sucesso no processo.

    “É difícil avaliar o movimento como um todo. Existe espaço para várias novas empresas na B3, mas se todas entrarem ao mesmo tempo, pode enfraquecer as ofertas”, diz Rodrigo Weinberg, analista da Suno Research. “Entendo que alguns setores vão ter mais dificuldade de emplacar.”

    Setores “difíceis”

    Weinberg cita, entre os setores “mais complicados”, o imobiliário. São quase duas dezenas de incorporadoras e construtoras tentando abrir capital, fora as que já desistiram, caso da You Inc. e da Riva 9. Como citado pelo analista, aqui podem surgir problemas demanda, o que acaba afetando mais duramente empresas de pequeno porte.

    Outra área difícil, segundo Weinberg, é a de varejo. Em um ambiente dominado por Magalu, Via Varejo e B2W, estreantes como a Havan podem encontrar problemas de demanda. A companhia de Luciano Hang foi questionada por projetar operação de R$ 10 bilhões, o que colocaria a empresa em um valor de mercado de R$ 100 bilhões.

    Pesa contra a marca catarinense a fraca participação no mercado digital. “A princípio não me parece nem um pouco realista (este valor). Só tem uma empresa que vale mais de R$ 100 bilhões no varejo brasileiro e ela se chama Magazine Luiza”, diz Daniela Bretthauer, analista de varejo da Eleven. A empresa dos Trajano é avaliada em R$ 150 bilhões. 

    Weinberg cita ainda o varejo de moda, que tem gigantes como Renner e Hering no Ibovespa, como um possível terreno arenoso para a entrada de empresas como a Farm. Ele ilustra a leitura com o exemplo da Pague Menos. “A oferta não colou no preço que pretendiam, então precisaram baixar a faixa de preço”, diz.

    A redução na pedida por parte da rede de farmácias, que vai competir com companhias como a Raia Drogasil na bolsa, deu certo, pelo menos inicialmente. As ações da Pague Menos tiveram valorização de 21,17%, para R$ 10,30, no seu pregão de estreia, no último dia 2.

    “É curioso que os papéis foram precificados em R$ 8,50, abaixo da faixa de indicativa de preço, que tinha R$ 10,22 como piso. Agora estão sendo negociados no valor antes sugerido pela empresa”, afirma Henrique Esteter, analista da Guide Investimentos.

    Áreas com mais espaço

    Entre os setores com mais abertura, na visão de Weinberg, o ramo de saneamento pode ganhar protagonismo com o Marco aprovado pelo Congresso. Nessa linha, a Iguá, que opera em 18 cidades em cinco Estados (São Paulo, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Alagoas), retomou essa semana seu processo de IPO.

    O analista também enxerga com bons olhos a entrada de empresas menores com segmentação específica. “Gosto da entrada de empresas mais nichadas, como a Petz e a Ambipar. Essas operações têm apelo com o investidor de pessoa física”, diz. A companhia do setor de gestão ambiental cresceu 9,37% desde a sua entrada na B3 em agosto.

    A descrição pode se encaixar no case da Enjoei, que ganhou destaque por ser uma plataforma de venda de roupas e produtos usados, uma espécie de brechó online. O caso específico da startup paulistana, no entanto, foi criticado por se tratar de uma empresa que ainda queima caixa, ou seja, não dá lucro.

    No seu pedido de registro, a Enjoei afirma no documento que teve R$ 112,6 milhões em vendas totais (GMV) no segundo trimestre, ante R$ 60,4 milhões um ano antes. A receita do site com as transações subiu de R$ 17,3 milhões para R$ 29,6 milhões.

    Também referencia que teve 141 mil novos compradores no segundo trimestre, ante 48 mil um ano antes. O negócio inclui também uma carteira digital, o enjuBank, por meio do qual os usuários cadastrado possuem conta.

    Cuidados para o investidor 

    “O mercado está tentando tirar proveito dos juros baixos. Com a Selic neste nível, existe uma demanda maior por esse tipo de ativos”, diz Rafael Cota Maciel, gestor de renda variável da AF Invest. “Pelo lado da B3 e da CVM não há nenhum problema com esse volume IPOs ocorrendo ao mesmo tempo, mas o investidor tem que ficar atento.”

    Maciel cita alguns pontos que podem afastar os investidores de varejo do processo. “Primeiro, existe uma assimetria de informações. Não se sabe muito das empresas que têm capital fechado”, diz. “Outro ponto é que as empresas e os bancos vão tentar vender os ativos pelo maior preço possível, o que deixa o comprador em desvantagem.” 

    Por fim, afirma que o tempo curto de análise aumenta a dificuldade para se separar ”o joio do trigo”. Weinberg concorda. “Investir em IPOs tem caráter mais especulativo. O investidor tem que concentrar seus recursos em empresas com histórico e, caso queira entrar nestes processos, é preciso alocar uma porcentagem pequena de recursos.” 

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