Com IPO, VTEX quer ser ‘espinha dorsal’ do e-commerce na América Latina
Empresa quer aumentar carteira de clientes e crescer junto com os que já tem, mas não pensa em grandes aquisições para alcançar o objetivo
A abertura de capital da brasileira VTEX na bolsa de Nova York parece ter agradado os investidores nesta quarta-feira (21). Os papéis da companhia especializada em soluções de e-commerce chegaram a subir 30% na abertura e fecharam o dia com um salto superior a 16%, a US$ 22,18.
Inicialmente, o preço da ação havia ficado em US$ 19, já acima do teto da faixa, que era de US$ 15 a US$ 17. Com isso, a empresa foi avaliada em US$ 3,75 bilhões e captou cerca de US$ 360 milhões no processo. Um lote suplementar pode render outros US$ 54 milhões à companhia.
JPMorgan, Goldman Sachs e Bank of America foram os principais coordenadores da oferta, com ajuda de KeyBanc, Morgan Stanley e Itaú BBA. A companhia, que tem o SoftBank entre os investidores, revelou no prospecto que teve um avanço de 56% na receita no primeiro trimestre de 2021.
Em 2020, a plataforma registrou receita de US$ 99 milhões, movimentando US$ 7,5 bilhões. Isso corresponde a um salto de 135% em relação a 2019.
“A listagem é muito importante para dar visibilidade e confiabilidade ao nosso negócio. Somos uma empresa internacional e com ambições globais, e isso justifica nossa escolha pela NYSE”, diz Geraldo Thomaz, co-CEO da empresa, em entrevista ao CNN Brasil Business.
“Mas ainda temos muito para crescer na América Latina, que corresponde a 96% do nosso faturamento. Trata-se da região que mais avançou na modalidade no último ano, porque ainda tem baixa penetração, e metade dos nossos clientes nunca teve operação de e-commerce antes de trabalhar com a gente. Então seguiremos trabalhando para ser a espinha dorsal do e-commerce na região.”
Segundo o relatório Webshoppers, da Ebit/Nielsen e do Bexs Banco, o comércio eletrônico avançou 41% em 2020 no país, atingindo faturamento de R$ 87,4 bilhões, a maior alta de 13 anos. A título de comparação, em 2018, o crescimento do comércio online havia sido 12% e, em 2019, 16%.
Thomaz explica que esta é uma das avenidas de crescimento da empresa. Se o cliente cresce mais que a média do mercado, a VTEX naturalmente também avança. Outro caminho, também prioritário para a empresa, é aumentar a carteira de clientes aqui e lá fora.
Posto isso, o executivo afirma que a empresa pretende fazer isso de forma orgânica, ou seja, sem grandes aquisições. “Vamos continuar construindo, crescendo nossos times de research e de vendas. Não esperem, da nossa parte, compras de empresas muito grandes”, afirma.
“Somos uma empresa multinacional há muitos anos, mas demora tempo até conseguirmos nos estabelecer nos países. Precisamos estabelecer clientes referência para expandir nossa lista de contatos. Então, enquanto crescemos na América Latina, vamos plantando essa sementinha nos Estados Unidos e na Europa.”
Quando faz novas incursões, a empresa leva primeiro equipes brasileiras ambientadas com os produtos da marca. Posteriormente, há o estabelecimento de equipes locais para aumentar a capilaridade da marca.
E-commerce
Apesar da América Latina estar atrás de regiões mais desenvolvidas em termos de comércio eletrônico, Thomaz acredita que podemos sair na frente em outras áreas, como o e-commerce conversacional. “As vendas por canais de mensagem e live commerce vão acelerar antes aqui”, diz.
“Hoje temos isso mais forte no setor alimentício, mas pode crescer para outros segmentos. É preciso investir para que as interfaces fiquem cada vez mais simples e inteligentes, assim como as integrações. Os consumidores querem encontrar tudo de maneira rápida e fácil num lugar só.”
Durante a pandemia, ele afirma que o maior desenvolvimento experienciado pelo varejo foi em termos da utilização das lojas físicas para potencializar as vendas realizadas na internet, tornando o processo mais cômodo e ágil.
Empresa
A VTEX iniciou suas operações no Brasil em 2000, montou seu primeiro escritório no exterior em 2013 e cruzou a fronteira dos EUA em 2017. A plataforma, que nasceu voltada para a indústria, agora permite que clientes montem lojas online, gerenciem pedidos e criem marketplaces para vender produtos de fornecedores terceirizados.
Com Mariano Gomide e Geraldo Thomaz no comando, tem mais de 2 mil clientes em mais de 32 países, incluindo Sony, Nestlé e McDonald ‘s. Em setembro, a companhia foi avaliada em US$ 1,7 bilhão após uma rodada de investimentos.
Trata-se do mais recente exemplo de empresas de comércio eletrônico que buscam o mercado de capitais para financiar planos de expansão, após uma disparada das transações digitais no país na esteira do isolamento social para conter a pandemia da Covid.
Desde então, já se listaram na B3 o brechó online Enjoei, a plataforma de serviços de autônomos Getninjas e a varejista de produtos para o lar Westwing.