Com dolarização de Milei, Argentina poderia ficar mais cara para turistas brasileiros, diz especialista
Se colocadas em prática, propostas que visam diminuição do Estado e até fechamento de ministérios podem impactar setor de serviços
Se as propostas econômicas do presidente eleito da Argentina, Javier Milei, forem colocadas em prática, o país pode deixar de ser atrativo para os turistas brasileiros.
Apesar de ainda ser cedo para projetar o futuro do novo governo, a CNN conversou com o coordenador de projetos da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em turismo, André Coelho, que traçou alguns possíveis cenários considerando as promessas de campanha do ultraliberal.
Os três principais pilares da campanha do presidente eleito consistem na diminuição do Estado por meio de grandes privatizações, na dolarização da economia e até na extinção do Banco Central.
O especialista destaca que, mesmo se todas as propostas de Milei forem colocadas em prática, as mudanças não serão repentinas e podem levar pelo menos dois anos para provocar algum efeito na economia.
“No primeiro momento, a Argentina continua sendo um destino interessante para os brasileiros. Mas havendo mudanças significativas cambiais na economia do país, isso pode significar uma necessidade de replanejar viagens ou talvez escolher outros destinos, porque ela pode ficar um pouco mais cara”, afirma.
Outra proposta de Milei é a redução no número de ministérios, o que poderia incluir a pasta do Turismo.
“Isso faria com que qualquer relação com turismo fosse encerrada e deslocada para outro ministério central, talvez de Planejamento ou Economia”, avalia.
No caso de uma dolarização, os impactos poderiam ser muito significativos especialmente para os mais pobres, afirma Coelho. Além disso, o setor de serviços também seria bastante afetado.
“Hoje a gente tem uma situação positiva para os brasileiros, no sentido cambial. Ou seja, é favorável para os brasileiros viajarem para Argentina”, pontua.
“No caso de uma dolarização, isso pode inviabilizar um pouco algumas viagens […] Talvez a Argentina não se torne tão vantajosa em termos de viagem para o Brasil, mas com o tempo isso tende a se organizar”.
Fato é que ainda não estão claros os passos que o próximo presidente dará na economia do país. Inclusive, uma das principais críticas à proposta da dolarização é de que a Argentina não possui reserva de dólar suficiente para bancar uma mudança desse porte.
Em relação aos argentinos que viajam a turismo para o Brasil, Coelho explica que esse fluxo permanece constante, mesmo com a crise econômica.
Ainda assim, esse cenário ainda é muito baseado em viagens concentradas apenas em alguns destinos do Brasil, principalmente o Sul, litoral de Santa Catarina e alguns pontos do Rio de Janeiro e da Bahia.
“Mas havendo uma estabilidade econômica, pode ser que nós tenhamos mais argentinos e de melhor poder aquisitivo, se deslocando no Brasil. Mas ainda é um cenário difícil de se prever”, acrescenta.
Edmilson Romão, vice-presidente financeiro da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) reitera que não devem ser esperadas mudanças no turismo para a Argentina, ao menos nos primeiros seis meses de governo de Javier Milei.
“O câmbio do país é muito favorável. É uma ótima opção para comer em restaurantes bons com um preço ótimo. […] A Argentina tem muitas opções para serem experimentadas, e vão continuar por um bom tempo”, afirma.
Em um eventual cenário de dolarização, Romão avalia que poucas coisas poderiam mudar em relação a preços de passagem e hospedagem, uma vez que a composição desses valores já é feita na moeda americana.
Além disso, o especialista pondera que o presidente eleito não deve mexer negativamente na promoção do turismo no país.
“Se tem algo que funciona bem na Argentina é o turismo, e a gente sabe que essa promoção precisa ser contínua para atrair turistas, até porque isso é um produto de exportação para ele. É mais dólar que entra no país”, avalia.
“As palavras de ordem do momento são ‘observação’ e ‘paciência'”, acrescenta.