Cidade italiana idílica vende casas prontas para morar por até R$ 86 mil
A cidade de Biccari, na região sudeste da Apulia, também está vendendo casas em ruínas por € 1 (cerca de R$ 6,6)
Se você se sentiu tentado a comprar uma das casas em ruínas à venda na Itália por pouco mais de R$ 6, mas ficou inseguro por causa dos custos de reforma, pode considerar uma nova opção tentadora.
A cidade de Biccari, na região sudeste da Apulia, também está vendendo casas em ruínas por € 1 (cerca de R$ 6,6). Mas, ao contrário de outros destinos, ela também tem pechinchas em imóveis prontos para serem ocupados, sem necessidade de reforma.
Os preços de habitações vazias e prontas para morar começam em € 7,5 mil (cerca de R$ 49,7 mil). A maioria está na faixa de € 10 mil a € 13 mil (cerca de R$ 66 mil a 86 mil).
A venda faz parte da missão do prefeito Gianfilippo Mignogna de salvar sua cidade natal da ruína após anos de moradores partindo em busca de empregos em cidades da Itália ou no exterior, principalmente nos Estados Unidos. O lento êxodo afetou uma população que atingiu o pico na década de 1950, quando ali viviam cinco mil pessoas.
“Somos apenas dois mil residentes”, contou o prefeito à CNN. “O despovoamento é uma ferida aberta, um fenômeno constante. Os moradores locais continuam saindo e, embora a maioria costume voltar durante o verão para passeio, as visitas estão cada vez mais raras. Muitas casas habitáveis estão vazias e caindo no esquecimento”.
Agora, o prefeito diz que quer recuperar os imóveis deixados para trás.
Casas lindas
“Um dia estava vagando pelo centro antigo e me dei conta de como tantas casinhas lindas em perfeito estado estavam fechadas há anos, escondidas em vielas silenciosas, com cartazes de ‘aluga-se’ ou ‘vende-se’ que ninguém vê. Achei que a melhor maneira era envolver os proprietários que não estavam mais interessados para vendê-las imediatamente”.
Há cerca de uma dúzia de casas de R$ 6,6 e 20 de “alto padrão” disponíveis, mas potencialmente mais de 100 imóveis vazios em Biccari precisam de novos ocupantes.
Fotos e mapas das propriedades serão colocados online em breve no site da prefeitura. Enquanto não fica pronto o site, as pessoas interessadas são convidadas a entrar em contato com o prefeito Mignogna (sindaco@comune.biccari.fg.it).
A plataforma online será dividida em duas seções: casas de € 1 (cerca de R$ 6,6) e casas baratas.
Quem se contentar com uma habitação em ruínas de € 1 deve desembolsar um caução de garantia de € 3 mil (cerca de R$ 19,8 mil) a devolver assim que as obras estiverem concluídas, possivelmente no prazo de três anos. Mas, ao contrário de outras cidades italianas que lançaram projetos semelhantes, o prazo de conclusão será estendido se as obras estiverem em andamento e houver uma boa razão para o atraso.
O “telhado” da Puglia
Biccari possui uma localização impressionante. Abrangendo a fronteira entre três regiões – Puglia, Molise e Campania –, a cidade é cercada pelas montanhas intocadas da Daunia, florestas densas, pastos extensos, olivais e um lago.
A cidade fica no sopé do pico mais alto da região, Monte Cornacchia (também conhecido como Monte do Corvo da Carniça). Do alto, avista-se a Costa do Adriático, o Promontório do Gargano e as Ilhas Tremiti. A área é conhecida como “o telhado da Puglia”.
Acredita-se que o nome Biccari derive da palavra italiana “bicchiere”, que significa vidro, já que a vila tem a forma de uma xícara de cabeça para baixo.
O campo é pontilhado por ruínas de assentamentos pré-históricos e antigas fazendas.
Fundada pelos antigos romanos sobre as cinzas de uma aldeia primitiva, Biccari continuou florescendo nos séculos da Idade Média. Resta pouco das antigas muralhas fortificadas: apenas uma torre que ainda se encontra na entrada da vila e hospeda mostras de arte e exposições em museus.
Terra de pastores, monges e até mesmo bandidos, Biccari é cercada por uma rede de antigas trilhas e caminhos de trekking que serpenteiam por colinas equipadas com áreas de piquenique. É uma mancha selvagem da Apulia habitada por lobos, raposas e javalis.
“Somos um cantinho do paraíso, ideal para o slow tourism”, opina Mignogna. “O ar fresco da montanha e o ambiente natural oferecem uma oportunidade de desintoxicação, uma estada desconectada, longe do caos da cidade, da poluição e do barulho”.
Garantindo o futuro
As vielas de paralelepípedos de Biccari são ladeadas por casas antigas e coloridas. Construções de pedra em ruínas com portas de madeira rachadas, vidros quebrados e pintura descascada nas paredes são justapostas a casas perfeitas com arcos de pedra ornamentados, pequenos pátios e janelas pintadas com vasos de flores.
As casas de R$ 6,6 e as mais caras à venda ficam no antigo bairro em torno da torre medieval. As casas prontas para uso são menores, com cerca de 50-70 metros quadrados espalhados por dois andares, algumas com vista para as colinas verdes pontilhadas de turbinas eólicas. Fechadas há anos, são em geral segundas residências de famílias de emigrantes, bem cuidadas, mas não mais usadas por seus descendentes.
Os novos proprietários podem querer fazer mudanças mínimas dependendo do gosto pessoal, mas o prefeito diz que as casas baratas já estão habitáveis, e talvez um negócio melhor do que aquelas à venda por R$ 6,6, já que seu preço pode ser menor do que o custo de reforma de uma casa mais degradada.
O prefeito diz que chegar aos herdeiros das casas arruinadas, que muitas vezes estão espalhados pelo mundo, pode ser problemático, mas reviver o bairro histórico também é uma questão de segurança.
“Vou desapropriar as propriedades de antigos proprietários que não atenderem ao nosso apelo para remodelar o imóvel instável da família ou entregá-lo para nós. As telhas caem frequentemente e isso é um perigo para os transeuntes. A arquitetura urbana da cidade deve ser protegida”.
Passado sangrento
Embora a vila precise de renovação, o cenário é idílico. Os bosques circundantes oferecem estadias e experiências de “aventura na natureza”, incluindo aulas de conscientização ambiental, arco e flecha e sessões de habilidades de sobrevivência.
Há casas nas árvores onde os turistas podem dormir suspensos entre as copas e fazer arvorismo com cordas e cabos.
Biccari tem um passado sombrio, retratado em estranhas imagens que decoram as paredes da aldeia. Portais de casas antigas exibem sinais de batalhas e ataques de bandidos e separatistas que lutaram contra o “tirânico” estado italiano nos anos 1800. Diz-se que assassinatos e enforcamentos ocorreram na praça pública.
Os locais têm orgulho do passado violento: aldeões costumavam abrigar foras-da-lei procurados e ainda os celebram como heróis. Uma trilha turística “sangrenta” feita com guias leva os visitantes a locais-chave das revoltas passadas, incluindo esculturas de personagens históricos locais.
Um dos heróis de Biccari é Ralph de Palma, um popular piloto ítalo-americano de carros de corrida que venceu a prova Indianápolis 500 de 1915 depois de migrar para os Estados Unidos. Um museu da cidade é dedicado a ele.
Queijos e embutidos
A região é conhecida por sua comida rica e engordante. Na feira anual pizze e furne aperte, os turistas são presenteados com um tipo especial de pizza plana branca feita em forno aberto com uma técnica milenar, com pimenta em pó polvilhada por cima.
É um paraíso de queijo. O “u ‘mascjuottele” é um queijo duro premium feito com leite de cabra local. Pode ser consumido fresco ou seco e ralado sobre os pratos. As cabras em Biccari são conhecidas como “as vacas dos pobres” e sempre foram a principal fonte de proteínas.
A azeitona virgem extra é uma das mais saborosas da Apulia e acredita-se que as primeiras árvores tenham sido trazidas pelos antigos colonizadores gregos.
As linguiças à base de leitão preto selvagem, que tem a carne mais saborosa que outros suínos, são outra iguaria disputada. As famílias penduram salame e linguiças em ganchos no teto. E há muitos pratos de massa com trufas locais, flores e ervas selvagens da montanha.
Caso você esteja preocupado que pode ser parado demais, os festivais de dança folclórica são realizados regularmente no bairro antigo, com música tradicional rolando noite adentro.
(Texto traduzido, clique aqui para ler o original em inglês).