Cenário atual dá espaço para corte de 0,5 ponto da Selic, diz economista-chefe do Inter à CNN
Para Rafaela Vitória, fundamentos macroeconômicos sustentam uma redução maior da taxa básica de juros já no anúncio desta quarta-feira (2)
A economista-chefe do Inter, Rafaela Vitória, disse em entrevista à CNN nesta quarta-feira (2) que o atual cenário econômico é propício para uma queda de 0,5% na taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano, mesma taxa desde agosto de 2022.
“Vários fundamentos andaram a favor de um corte maior, superando expectativas do mercado e do Copom”, comentou a economista.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) divulga no início da noite de hoje a decisão sobre a taxa Selic. Iniciada na última terça-feira (1º), esta é a quinta reunião do ano para definição da taxa básica de juros.
Rafaela Vitória reforça a “grande expectativa” do mercado pelo corte na taxa. Com a inflação em queda desde junho de 2022, espera-se que o Copom opte pelo corte da Selic, mas há divergência se a redução será de 0,25 ou 0,5 ponto porcentual.
“Quando a gente vê esse processo de queda da inflação, significa que os juros ficaram ainda maiores. O Banco Central vem mantendo a Selic estável, mas na medida que a inflação cai os juros reais acabam ficando ainda mais restritivos“, reforça Rafaela Vitória.
Vitória falou também sobre a composição da diretoria do BC ressaltando que o corte é certo, a divergência ficará na porcentagem. “Há uma minoria mais conservadora que optaria por adiar o corte para setembro, mas a maioria opta pela redução. O voto dissidente deve vir entre 0,25 e 0,5”, explicou.
Contudo, o impacto dos juros restritivos ainda vai pesar no bolso dos brasileiros por um “bom tempo”, de acordo com a economista. “Hoje o que a gente sente é em parte o aperto monetário dos juros que subiram no ano passado. Quando falamos em cortes nos juros, os impactos vêm entre 6 a 9 meses”, explica Rafaela Vitória.
Taxa Selic e o controle da inflação
A taxa básica de juros é usada nas negociações de títulos públicos emitidos pelo Tesouro Nacional no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve de referência para as demais taxas da economia.
Ela é o principal instrumento do Banco Central para manter a inflação sob controle. O BC atua diariamente por meio de operações de mercado aberto — comprando e vendendo títulos públicos federais — para manter a taxa de juros próxima do valor definido na reunião.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.
Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.
Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.
As reuniões do Copom se estendem por dois dias. No primeiro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro.
No segundo dia do encontro, os membros do Comitê, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
Na ata da última reunião, em junho, o Copom acenou com a possibilidade da queda dos juros em agosto.
Após uma série de comunicados duros no início do ano – em que não descartava a possibilidade de elevar a taxa Selic – e tensões diretas com o Governo Federal, o Copom mudou de tom e admitiu a redução dos juros básicos por causa do comportamento dos preços.
“A avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião [em agosto]”, informou o Copom na ata.
*Sob supervisão de Dimalice Nunes